TRADIÇÃO

Kei Heong Chun, sabores guardados na memória

A gelataria Kei Heong Chun foi fundada no bairro de São Lázaro em 1979
A funcionar desde 1979, a Kei Heong Chun persiste em oferecer aos consumidores de Macau um gelado tradicional que tem acompanhado gerações. Apesar dos desafios que se colocam ao negócio, a empresa quer seguir em frente

Texto  Tony Lai
Fotografia  Cheong Kam Ka

TUDO começou no final dos anos 70 com uma pequena loja familiar de gelados, no Bairro de São Lázaro. Hoje, a Kei Heong Chun é uma das marcas “Made in Macau” mais conhecidas da cidade, fazendo da tradição uma mais-valia para resistir aos altos e baixos do ambiente de negócios.

Com uma equipa entre as oito e dez pessoas, a Fábrica de Sorvetes Kai Kong, propriedade do empresário local Ip Sio Man, é quem explora actualmente a marca Kei Heong Chun. Os gelados são produzidos em larga escala numa unidade fabril num edifício industrial na Areia Preta. Segundo o administrador-geral da fábrica, Chamson Cheong Hon Kei, a marca produz actualmente sanduíches de gelado, gelados em cone, copo e em balde, e também gelados com pauzinho, numa variedade de quatro a seis sabores.

“Os nossos produtos estão disponíveis em pequenas mercearias e grandes redes de supermercados, ao mesmo tempo que fornecemos hotéis locais, restaurantes de bufete e de hot pot, snack-bares e outros”, afirma o administrador-geral em entrevista à Revista Macau.


“Os preços dos nossos produtos são mantidos numa fasquia baixa, a fim de serem acessíveis para todos – uma prática que existe desde o início da marca”

CHAMSON CHEONG
ADMINISTRADOR-GERAL DA FÁBRICA DE SORVETES KAI KONG
 

Apesar de hoje existir maior oferta devido ao forte desenvolvimento de Macau e à globalização nas últimas décadas, a Kei Heong Chun conseguiu conquistar o coração de um grande número de consumidores, em particular daqueles que cresceram com a marca. “Sempre que participamos numa exposição, alguns clientes abordam-nos para partilhar as suas memórias de infância enquanto saboreiam o nosso gelado”, salienta Cheong. “Alguns agora já são pais e também querem que os seus filhos experimentem os sabores da sua infância,” acrescenta.

Antes da mudança de proprietário, a Kei Heong Chun esteve, durante décadas, sob o comando de um casal de sobrenome Wong, que fundou a gelataria no bairro de São Lázaro em 1979. Mais tarde, mas ainda antes da transferência da administração de Macau para a China em 1999, a unidade de produção passou a funcionar num edifício industrial, sobretudo para fazer face a regras mais rigorosas impostas pelas autoridades na produção de alimentos.

Na década de 2000, o casal Wong decidiu reformar-se e como os filhos não mostraram interesse pelo negócio, a marca Kei Heong Chun e a fábrica foram vendidas a um amigo de longa data, Ip Sio Man. “O meu empregador estava disposto a assumir a produção [na altura], porque pensou que seria uma desgraça para uma marca ‘Made in Macau’, estabelecida há tanto tempo, simplesmente desaparecer,” explica Cheong. 

Fiel ao lema da marca

De acordo com a imprensa local, no período dourado da indústria manufactureira de Macau, entre 1970 e o início dos anos 90, havia cerca de quatro fábricas de gelados, mas todas desapareceram, à excepção da Kai Kong.

Apesar da expansão da população local e do movimento de turistas, Cheong, que gere a marca Kei Heong Chun há mais de 10 anos, reconhece que o negócio enfrenta vários desafios devido aos obstáculos causados pelo rápido desenvolvimento da cidade. Contudo, o lema da empresa de fazer um produto acessível a todos continua.

“Em comparação com outras marcas de gelado, os preços dos nossos produtos são mantidos numa fasquia baixa, a fim de serem acessíveis para todos – uma prática que existe desde o início da marca”, realça.

A Fábrica de Sorvetes Kai Kong produz gelados num edifício industrial na Areia Preta

A pandemia da COVID-19 que eclodiu no início de 2020 veio prejudicar muito o ambiente do sector comercial de Macau e a marca de gelados também não escapou. “Por exemplo, antes, um restaurante na Taipa fazia encomendas dos nossos produtos duas vezes por dia, mas agora só faz uma encomenda uma vez por semana ou até mais tempo”, diz o empresário.

No entanto, Cheong considera que a Kai Kong está numa situação mais vantajosa do que outras pequenas e médias empresas no sector local da produção de alimentos, uma vez que a empresa ainda é capaz de fornecer os seus produtos para hotéis e restaurantes.

A marca consagrada também está interessada em exportar os sabores “Made in Macau” para lá do território, nomeadamente para Hong Kong e para o Interior da China. Embora haja compradores fora da RAEM interessados nos produtos da Kei Heong Chun, o plano ainda não se concretizou devido a problemas relacionados com inspecções sanitárias, certificações e custos associados a estes processos, explica Cheong.

Enquanto as ambições de levar a marca para o exterior não se concretizam, o fabricante de gelados continua focado no mercado local. A embalagem da Kei Heong Chun foi redesenhada várias vezes desde que Cheong assumiu o comando das operações para que a marca pudesse ser mais atraente para os consumidores mais jovens.

“Não é um negócio lucrativo, mas ainda podemos seguir em frente devido a Ip [Sio Man], que quer manter viva esta marca ‘Made in Macau’”, conclui.