CONVENÇÕES E EXPOSIÇÕES

Modelo híbrido é o futuro dos eventos

A adopção de um modelo híbrido de organização de eventos tem ajudado a promover feiras comerciais em Macau
Um novo modelo híbrido de organização de convenções e exposições é uma tendência que veio para ficar, dizem representantes do sector em Macau. Os eventos presenciais não irão desaparecer, mas a pandemia da COVID-19 acelerou a chegada de um futuro que tem um enorme potencial por explorar

Texto  Tony Lai

A COVID-19 e as restrições às viagens impostas pela pandemia tiveram um forte impacto na indústria de convenções e exposições de Macau, reduzindo drasticamente o número de feiras comerciais e reuniões empresariais organizadas na cidade nos últimos dois anos. Mas, apesar do impacto, a transição digital do sector tem sido uma luz ao fundo do túnel, com cada vez mais eventos em Macau a integrar elementos online e presenciais.

Especialistas da indústria acreditam que os eventos híbridos são uma tendência que irá crescer após a pandemia, mas prevêem também que os eventos presenciais continuarão a ser o pilar das convenções e exposições.

Os dados mais recentes dos Serviços de Estatística e Censos revelam que se realizaram em Macau 286 eventos, incluindo reuniões e exposições, nos primeiros nove meses de 2021, um aumento de 23,8 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior. Na mesma linha, o número de participantes aumentou 71 por cento, em termos anuais, para cerca de 683 mil.

Ambos os valores representam, no entanto, apenas 26,6 por cento e 53,9 por cento, respectivamente, dos registados antes da pandemia: nos primeiros nove meses de 2019, realizaram-se 1075 eventos em Macau, atraindo cerca de 1,27 milhões de participantes. 

Desde o início da pandemia, no começo de 2020, que Macau apenas permite a livre circulação de pessoas – na maioria dos casos sem necessidade de quarentena – com o Interior da China.

“A nossa indústria depende do mercado do Interior da China, que também teve altos e baixos nos últimos dois anos devido à volatilidade da pandemia”, disse Irwin Poon Yiu Wing, presidente da Associação de Convenções e Exposições de Macau (ACEM), à Revista Macau. No meio de tantas incertezas, a adopção de novas tecnologias trouxe inovação ao sector, possibilitando a realização bem-sucedida de diversos eventos em Macau. “Por exemplo, alguns oradores estrangeiros que não puderam vir a Macau puderam participar em conferências e seminários aqui através de videoconferência”, explica Irwin Poon.


“A integração de elementos digitais tornou-se mais comum desde o início desta crise de saúde”

IRWIN POON
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE CONVENÇÕES E EXPOSIÇÕES DE MACAU

Eventos locais, como a Feira Internacional de Macau (MIF) e a Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa (Macau) (PLPEX), também reforçaram os seus serviços e, para além do formato presencial, introduziram elementos online nos últimos dois anos, incluindo sessões de bolsas de negócios, zonas de exposições virtuais e a assinatura de protocolos. “Sem estes serviços virtuais, não teria sido possível realizar com sucesso muitos destes eventos locais, nos tempos que correm”, disse Irwin Poon, que também é vice-gerente geral da empresa local Prime Marketing & Promotional Services Co., Ltd.

“A integração de elementos digitais em convenções e exposições começou antes da pandemia e tornou-se mais comum desde o início desta crise de saúde”, afirma o responsável. “É uma tendência irreversível, tal como mudámos dos telemóveis básicos para os inteligentes.”

Mais investimento

Embora as convenções e exposições em Macau tenham cada vez mais um misto de elementos virtuais e presenciais, este é um caminho que está ainda “no início”, diz Bruno Simões, presidente da Associação de Reuniões, Incentivos e Eventos Especiais, à Revista Macau.

“Ainda não há muitos recursos para eventos virtuais ou híbridos aqui”, explica, frisando que é necessário “ter empresas e profissionais locais com experiência” na organização deste tipo de eventos.

Bruno Simões, que também é director executivo da empresa local de eventos smallWorld Experience, sublinha que o sector precisa ainda de investimento para se modernizar e diversificar a sua oferta.


“É necessário ter empresas e profissionais locais com experiência na organização de eventos virtuais ou híbridos”

BRUNO SIMÕES
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE REUNIÕES, INCENTIVOS E EVENTOS ESPECIAIS

Outras jurisdições também se têm adaptado às novas condições de mercado face aos desafios colocados pela COVID-19, afirma Bruno Simões. O responsável dá como exemplo o empreendimento turístico Marina Bay Sands, em Singapura, que em 2020 lançou quatro estúdios de transmissão híbrida de última geração para melhorar a qualidade das emissões ao vivo dos eventos que acolhe e para oferecer a possibilidade de usar hologramas. No ano passado, o Marina Bay Sands lançou também o chamado Virtual Meeting Place, uma plataforma totalmente personalizável que pode ajudar os organizadores de eventos a replicar espaços presenciais.

Glenn McCartney, professor associado da Universidade de Macau em Gestão de Resorts Integrados e Turismo, afirma também que as empresas locais podem ter um papel mais relevante no desenvolvimento de eventos híbridos e virtuais em Macau. “A tecnologia, em geral, tem sido mais integrada nos eventos nos últimos anos – a tecnologia móvel, por exemplo, reduziu o uso de papel, como brochuras promocionais e não só”, acrescenta o académico.

Valor acrescentado

Glenn McCartney acredita que o modelo híbrido ou virtual pode ajudar os eventos locais a permanecerem relevantes a nível mundial, numa altura em que ainda não há qualquer sinal de quando as restrições internacionais às deslocações de pessoas serão levantadas. Ainda assim, o académico realça que a integração de elementos virtuais na organização de eventos, apesar de ser “uma tendência que vai continuar”, “irá apenas trazer valor acrescentado e não substituir os eventos presenciais”.

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A Associação Global da Indústria de Exposições (UFI) destacou, num relatório recente, uma “forte preferência por eventos presenciais” por parte de organizadores e visitantes de eventos. No relatório, a UFI sugere que os eventos virtuais “não são vistos como algo que irá substituir o contacto cara-a-cara”, mas que há “áreas onde poderão criar valor acrescentado”. O relatório também sugere que os elementos virtuais têm potencial para ajudar os eventos a atrair novos públicos.

Irwin Poon, da ACEM, defende que os eventos presenciais são “insubstituíveis”, embora a crescente tendência virtual seja para ficar. “O objectivo de organizar um encontro ou exposição é reunir pessoas de todo o mundo num local para intercâmbios genuínos”, afirma. “O significado disso será perdido se tudo for virtual.”

A interacção em encontros cara-a-cara é também importante para construir confiança, realça o responsável. “Eu posso simplesmente encomendar um par de sapatos numa plataforma de comércio electrónico, mas se estiver a assinar um contrato para a compra de 10 mil pares de sapatos, seguramente preferiria assinar o acordo numa feira presencial após conhecer a outra parte, em vez de fechar o negócio através de um evento virtual”, acrescenta.

Irwin Poon reconhece que os eventos presenciais são mais rentáveis para os organizadores do que o formato digital. “O que os organizadores de eventos locais têm de explorar no futuro é o equilíbrio certo entre os elementos virtuais e os presenciais, para criar uma melhor sinergia.”