Rodolfo Ávila é o vencedor da edição de 2021 do campeonato chinês de Carros de Turismo, tendo-se sagrado campeão na última corrida da época, em Xangai. Parte de uma geração que cresceu a sonhar com a velocidade, deseja que os mais jovens continuem a mostrar que em Macau há talento
Texto Sandra Lobo Pimentel
AOS 34 anos, Rodolfo Ávila voltou a ser campeão. O piloto foi o vencedor da edição de 2021 do TCR China, Campeonato de Carros de Turismo, pela equipa MGXPower, naquela que foi a sua segunda temporada completa nesta prova.
À Revista Macau, Rodolfo Ávila partilhou as experiências do último campeonato, que culminou com o título em Novembro. “Foi uma época positiva, porque conseguimos ganhar, mas não começou da melhor forma. No ano passado, sabíamos que tínhamos um carro forte para o TCR China, mas ainda sem conseguir dominar no TCR Ásia, ainda que tenhamos vencido algumas corridas”, descreve.
O início da temporada ficou marcado por um acidente entre o piloto da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) e o seu companheiro de equipa, seguido de nova interrupção das corridas devido à pandemia da COVID-19. “No recomeço, comecei a fazer resultados melhores, a subir na classificação do campeonato, recuperei pontos e cheguei à última etapa em Xangai com o título em discussão com outros três pilotos, entre os quais o meu colega de equipa.”
A última etapa do campeonato, porém, não começou da melhor forma, com muitos pontos perdidos na corrida de sábado, a primeira do fim-de-semana. “Pensei que era o fim. Já contava voltar para casa, até fiz o check-out no hotel para sair no domingo.”
Mas as derradeiras corridas tiveram outro desfecho. O piloto de Macau recuperou na primeira tirada e chegou à última prova a um ponto do título, numa disputa com o companheiro da MGXPower. “Quem ficasse à frente vencia e entrei com o espírito de não ter nada a perder. No fim, consegui ganhar e isso foi o mais importante.”
Rodolfo Ávila já não subia ao mais alto lugar do pódio numa prova de automobilismo desde 2008, quando venceu a Asia SuperCar Challenge ao volante de um Ferrari 360 Modena, prova de GT.
Na temporada de 2021, ao contrário do habitual, o campeonato chinês de Carros de Turismo teve 12 corridas distribuídas por seis fins-de-semana, com vários locais repetidos. Um cenário idêntico ao de 2020, de forma a contornar os constrangimentos provocados pela pandemia. Chegou mesmo a haver jornadas duplas para cumprir o número habitual de corridas da prova.
Futuro no Interior da China
Embora corra desde 2019 no TCR – nesse ano fez apenas as duas últimas corridas da época –, já antes Rodolfo Ávila se tinha estabelecido na cidade vizinha de Zhuhai, na província de Guangdong, para se dedicar em exclusivo ao automobilismo. “Há campeonatos mundiais nos quais gostaria de correr, mas já tenho outra idade. Corri na Europa, mais novo. É uma paixão, mas também tem sido o meu emprego. A minha carreira tem sido feita aqui na China, desde 2015 que estou aqui a fazer corridas e é onde vou ficar. Penso que é onde ainda vamos tendo mais oportunidades de continuar envolvidos no desporto automóvel”, realça.
Em Zhuhai, as vantagens começam logo no facto de ter uma pista disponível o ano inteiro. No entanto, continua a passar boa parte do seu tempo em Macau, onde cresceu e onde desenvolveu a paixão pelo desporto automóvel, em especial por altura de Grande Prémio, o mais importante evento desportivo na RAEM. “Quando chega o mês de Novembro há sempre essa sensação especial. Acho que a maioria da população gosta do Grande Prémio e considera o evento importante.”
Ainda assim, o piloto acredita que a sua geração terá sido das últimas a desenvolver a paixão pelo desporto automóvel. “Nota-se que fora desse fim-de-semana o interesse desaparece e não estamos a conseguir ver uma geração nova. Sabemos que é um desporto caro e que não é fácil para começar, mas deixa-me triste ver que não há pilotos jovens a surgir em Macau. Ainda para mais quando no passado tivemos o André Couto e outros que mostraram que havia talento” na cidade, salienta.
A fama que o circuito do Grande Prémio de Macau granjeou mundialmente foi fundamental para o piloto, bem como para outros da sua geração que abraçaram a velocidade como profissão.
No caso de Rodolfo Ávila, o sonho do automobilismo começou bem cedo e a Fórmula 1 era o que fazia os olhos do jovem brilhar e sonhar bem alto. “Vai ser sempre um dos eventos mais especiais para mim e, mesmo no contexto do automobilismo mundial, é uma corrida rainha.”
Sobre referências, o piloto não esconde que viu em Ayrton Senna um ídolo, mas com a experiência de vida foi olhando para mais perto e tem em André Couto um dos exemplos a seguir. “O automobilismo tornou-se a minha vida, a minha profissão e quero estendê-la o mais possível. O André teve um grande impacto nesta minha paixão pelos carros. Conheço-o desde pequeno e fui olhando para ele como o nosso herói neste desporto em Macau”, recorda Rodolfo Ávila, apontando a vitória de André Couto na prova rainha do Grande Prémio de Macau em 2000 como “um dos grandes momentos da história de Macau” e “um orgulho para toda a população”.
Novas oportunidades
Não sendo possível trazer corridas internacionais nos últimos dois anos, o Grande Prémio de Macau foi realizado com provas locais e regionais. Rodolfo Ávila acredita que “é sempre bom continuar a organização sem interrupções” e isso teve aspectos muito positivos. “Foi bom, porque permitiu dar oportunidade a muitos pilotos para se estrearem ou mostrarem o que valem”, acrescenta.
Desde logo dá o exemplo de Charles Ho Chio Leong, o jovem piloto de Macau que venceu consecutivamente as provas de Fórmula 4 do Grande Prémio de Macau em 2020 e 2021, voltando a colocar a bandeira da RAEM no primeiro lugar do pódio.
O piloto que, em 2017, venceu o título chinês de Fórmula 4 já trabalhou com Rodolfo Ávila, que lhe reconhece talento. “É um dos bons exemplos de Macau. Trabalhei muito com ele quando passou dos karts para os fórmulas. Mas mesmo ele já perdeu o espírito para se tornar um piloto profissional, apesar de ter mostrado o seu potencial, até na Fórmula 3, quando correu em Macau e mesmo com o orçamento que tinha fez um excelente trabalho.”
Na edição de 2021, Rodolfo Ávila também participou no Grande Prémio de Macau, não com o nome nas grelhas de partida, mas dando assistência à equipa da qual faz parte, inscrita na prova de Fórmula 4. No entanto, não esconde a vontade de poder voltar ao circuito da Guia ao volante de um carro e, quem sabe, subir ao pódio no circuito que o fez crescer para ser piloto de automóveis.