Clube de negócios luso-chinês

PorCham na senda de expansão na China

A cônsul-geral de Portugal em Cantão, Ana Menezes Cordeiro (centro), o Conselheiro da AICEP, Mário Ferreira (esquerda), e o fundador da PorCham, Dário Silva (direita), na inauguração da delegação em Guangzhou
A PorCham é um clube de negócios que aspira a tornar-se na primeira câmara de comércio luso-chinesa com base na legislação chinesa. À Revista Macau, o fundador, Dário Silva, fala do crescimento exponencial desde a abertura da primeira delegação, em Outubro, e dos passos que se seguem

Texto Sandra Lobo Pimentel

A burocracia para ter estatuto de câmara de comércio está em marcha, mas, para já, a PorCham avançou como clube de negócios para começar a ajudar empresas portuguesas a encontrarem espaço no mercado chinês. Fundada por Dário Silva, em Outubro do ano passado, a PorCham abriu portas com uma delegação em Guangzhou, capital da província de Guangdong, à qual se juntou, em Novembro, um escritório em Xangai.

Dário Silva, em entrevista à Revista Macau, dá conta de mais projectos no curto prazo que procuram alargar a área de influência da PorCham. “Já temos escritório em Zhuhai e queremos inaugurar esse juntamente com outro em Hunan. Aguardamos para poder fazer as cerimónias [de inauguração], adiadas devido à pandemia, mas já estão a operar.”

A ideia não é recente, explica o fundador, salientado que este “é um processo que já está a decorrer há quatro anos”. O objectivo “é ter uma câmara de comércio portuguesa de legislação chinesa”, frisa, referindo que a organização já tinha “várias empresas interessadas desde a fase inicial”.

O clube de negócios “tem ajudado muitas empresas a desbloquear acordos” e, diz Dário Silva, tem funcionado através do “passa a palavra”, que tem bastado para que a adesão seja “muito boa”.

O responsável sublinha o espírito que baseia a PorCham e afirma que o leque de negócios e indústrias é já significativo. “Temos uma base de indústrias bastante alargada, desde empresas do sector financeiro, agro-alimentar ou indústria química. Basicamente, trabalhamos com todos os sectores de forma a facilitar o ambiente de negócios luso-chinês e beneficiar ambas as partes.” 

O benefício mútuo é a visão comum entre os membros, numa lógica de expansão e de criação de valor acrescentado no seio da PorCham. O foco são os negócios, sustenta Dário Silva, admitindo que a abertura do consulado de Portugal em Guangzhou, cidade oficialmente denominada de Cantão pela diplomacia portuguesa, “ajudou muito” à concretização do projecto.

Há também a parte da estratégia de marca e promoção no grande mercado chinês. Para dar esse apoio e prestar esse serviço é necessário um grande volume de recursos, mas a lógica do clube de negócios é essa mesmo. “Os membros prestam serviços uns aos outros, aliás, o clube já está a funcionar assim”, refere Dário Silva.

Além do grande objectivo de “passar, oficialmente, a câmara de comércio”, Dário Silva revela que há também outro foco que é abrir escritório em Pequim. “É muito importante para a PorCham estar na capital e vai ser também para todos os membros”, salienta.

Papel de Macau

O papel de Macau como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa continua a justificar-se, assevera o fundador da PorCham. “Macau é um ponto muito importante para os países de língua portuguesa e, de acordo com o plano da Grande Baía, Macau será uma parte activa na entrada de empresas destes países” no mercado do Interior da China, defende. A organização não esconde o desejo de trabalhar esse potencial e fê-lo já, desde logo, com a abertura do escritório em Zhuhai, destacando também a entrada do Banco Nacional Ultramarino para o clube de negócios. “Foi precisamente fruto de uma aproximação nossa, e o BNU acabou de entrar e ficará como um dos vice-presidentes executivos na área de Macau”, adianta Dário Silva. 

O modelo da PorCham passa por essa estratégia. “Cada área do país tem uma empresa que fica a fazer a gestão dessa área. Num país com o tamanho da China, de outra forma, a gestão de modelo empresarial traria custos astronómicos, por isso, adoptámos um modelo idêntico ao do Governo chinês, regionalizando as operações de acordo com a visão, a missão e os valores da PorCham.”

O trabalho de promoção que tem de ser feito em Portugal tem surgido naturalmente, com o reconhecimento pela obra já realizada e os resultados obtidos. Parte desse papel é da responsabilidade do vice-presidente da PorCham, João Pedro Pereira, que se encontra em Portugal e trabalha “não apenas na mobilização de parceiros para o projecto, mas também na representação institucional” do clube de negócios. Parte dessa representação prende-se com “o objectivo claro e inequívoco de transformar o clube em câmara de comércio”, lembra João Pedro Pereira à Revista Macau. 

Para além disso, refere o vice-presidente da PorCham, o interesse dos parceiros chineses em procurar oportunidades em Portugal torna “fundamental” a presença de um representante no terreno, “para poder fazer essa ponte e essa interacção com as entidades necessárias à prossecução desse objectivo”, contribuindo para a tal experiência no mundo empresarial, neste caso, como antigo director da AICEP, a agência para o investimento e comércio externo de Portugal. “Fazemos intenção de ser muito efectivos para as empresas nossas associadas, quer em território chinês, quer em território português”, conclui.