Cabo-verdianos em Macau

Macau na rota da “morabeza”

São médicos, advogados, pilotos e engenheiros, mas o predicado que melhor os define é o de bons embaixadores de Cabo Verde em Macau e de Macau em Cabo Verde. Num país onde as pessoas são o maior recurso, a presidente da Associação de Amizade Macau-Cabo Verde, Ada Sousa, diz que os profissionais cabo-verdianos que se formaram nas universidades de Macau são o exemplo perfeito de uma cooperação que dá frutos

Texto Marco Carvalho

“A parte comercial, a parte económica não vive sem a componente cultural.” Com uma ressonância lapidar, Ada Sousa sintetiza o posicionamento que a Associação de Amizade Macau-Cabo Verde adoptou ao longo das duas últimas décadas. Fundada a 9 de Abril de 1999, a organização quer continuar a ser um parceiro de excelência das instituições de Macau e ajudar não só a promover o intercâmbio cultural entre o território e o pequeno arquipélago atlântico, mas também a fomentar vínculos económicos e empresariais mais fortes.

O desígnio do incentivo das relações económicas, lembra a presidente da Associação de Amizade Macau-Cabo Verde, faz, de resto, parte do ADN da organização. A associação, salienta a dirigente, tem como principal missão dar apoio a uma comunidade dinâmica e bem integrada, mas também promover o melhor que o berço da “morabeza” tem para oferecer.

“Em relação aos nossos estatutos, temos a parte da promoção cultural. Temos ainda a parte do apoio à comunidade e aos próprios estudantes, mas temos também a questão da promoção de actividades de intercâmbio cultural, empresarial e económico”, explica Ada Sousa. “[A associação] vai continuar a colaborar com as instituições no sentido de uma melhor promoção, até porque nós temos todo o interesse em levar investidores para Cabo Verde e ajudar ao desenvolvimento do país. É por isso que cá existimos e é por isso que cá estamos”, esclarece a responsável, jurista de profissão. 

Para levar avante os seus objectivos estatutários, a Associação de Amizade Macau-Cabo Verde conta com o contributo de uma comunidade perfeitamente assimilada, com os pés bem vincados no território. São cerca de 100 os cabo-verdianos que têm a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) como casa, mas há também uma população volante de alunos em universidades do território que estudam direito, gestão de jogo ou mesmo medicina.

“Os cabo-verdianos em Macau são, basicamente, profissionais liberais. Há desde médicos a advogados. Há engenheiros e pilotos”, elenca Ada Sousa. “Depois, temos também uma parte da comunidade que é constituída por estudantes que são bolseiros da Fundação Macau e estudam na Universidade de Macau, na Universidade Politécnica de Macau e na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. Temos uma estudante que veio para estudar medicina. É a primeira vez que isso acontece”, assinala a dirigente.


“Cabo Verde vive dos recursos humanos. E, nesse aspecto, a cooperação China-Cabo Verde e Macau-Cabo Verde tem ajudado bastante”

ADA SOUSA
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE AMIZADE MACAU-CABO VERDE

Ao longo das duas últimas décadas, a associação recebeu e ajudou a integrar largas dezenas de jovens que completaram a sua formação académica em Macau. Os estudantes retribuem com o envolvimento nos trabalhos associativos e o esforço, reconhece Ada Sousa, insufla uma nova dinâmica na comunidade. “Antes do início da pandemia tínhamos cerca de 80 estudantes. Esse grupo tem contribuído bastante, tem ajudado, tem colaborado. Eu tenho de tirar o chapéu aos nossos estudantes. Aos que estão aqui e aos que estão em Cabo Verde. Apesar de estarem em Cabo Verde, continuam a colaborar com a associação”, salienta a dirigente. 

A importância da formação

“Cabo Verde vive dos recursos humanos. Não temos petróleo. Não temos grandes recursos minerais. Nós temos pessoas. E, nesse aspecto, a cooperação China-Cabo Verde e Macau-Cabo Verde tem ajudado bastante. Os primeiros estudantes cabo-verdianos chegaram na década de 90, para a área de direito. Metade deles regressou a Cabo Verde, outra parte ficou aqui em Macau. Agora são profissionais integrados na sociedade e têm ajudado bastante à imagem de que Cabo Verde goza na RAEM”, realça. 

Para a presidente da Associação de Amizade Macau-Cabo Verde, o intercâmbio estudantil e o apoio concedido pela RAEM à formação de quadros qualificados são os aspectos mais relevantes da cooperação entre Cabo Verde e Macau. Esta relação é evidente em Cabo Verde em vários domínios, como a política, a justiça ou mesmo o incipiente sector do jogo, um domínio que adquiriu uma nova projecção depois de uma empresa de Macau ter anunciado um multimilionário investimento na construção de um empreendimento turístico na cidade da Praia, capital de Cabo Verde.

Os estudantes cabo-verdianos participam activamente nos trabalhos associativos

“Quando as autoridades cabo-verdianas abriram as portas a esse investimento, fizeram questão de criar um grupo de bolseiros estudantes. Esses estudantes formaram-se cá e já regressaram a Cabo Verde. É importante que esse investimento avance, para receber e empregar estes estudantes, de forma a possibilitar o desenvolvimento do sector. Eles vieram a Macau e Macau, neste aspecto, tem inegavelmente know-how para dar”, sustenta Ada Sousa. 

O contributo que Macau pode dar ao desenvolvimento de Cabo Verde pode fazer toda a diferença, argumenta. Basta, para isso, que a comunidade cabo-verdiana radicada no território e as vastas dezenas de profissionais que se formaram nas universidades da RAEM coloquem a bom uso os conhecimentos aqui adquiridos: “[É fundamental] levar o know-how que aprendem aqui (…) A maior parte da comunidade que está cá, o que aprende aqui, está a investir lá. É muito importante servir de ponte, arranjar os interlocutores ideais, os parceiros certos e tentar investir o que se aprendeu aqui. É uma outra forma de olhar para o investimento”, refere Ada Souza.