Prática de vela

Há mar, há que velejar

Passam muitas horas na água e os fins-de-semana são dedicados à vela e outras modalidades. Nas praias de Macau, são cada vez mais as crianças e jovens que praticam desportos náuticos

Texto Nelson Moura
Fotografia Leong Sio Po

É no meio de velas, cabos e embarcações que se preparam cada vez mais crianças e jovens no Centro Náutico de Hác-Sá, na Praia de Hác-Sá, em Coloane. O número de praticantes de vela tem vindo a aumentar consideravelmente, em especial entre as camadas mais jovens, que olham para os Jogos Nacionais da China, em 2025, como um dos objectivos.

É agora comum encontrar dezenas de alunos todos os fins-de-semana – e mesmo em alguns dias da semana – a dar os seus primeiros passos na arte de velejar, numa cidade em que a relação com o mar é histórica e inata. 

J-war M. Tablate, treinador principal do centro, considera a vela um desporto especial para o desenvolvimento de qualquer criança, pela independência e responsabilidade que exige, além de ajudar a estabelecer uma ligação especial com o mar.

“Na vela, é necessário lidar com vários aspectos, a água, o meio ambiente, o teu equipamento. Eles estão a aprender a ser mais responsáveis e a cuidar do meio ambiente”, realça à Revista Macau. “Por outro lado, ficam a conhecer melhor o mar e os seus elementos, bem como muitos outros aspectos que podem não aprender na escola. Na sociedade, precisamos de aprender com a experiência e os pais também ficam satisfeitos por verem os seus filhos tornarem-se mais responsáveis.”

Hayden Fong e Winston Wong são exemplo da aposta do centro na formação de jovens, com os dois velejadores juvenis a contarem com várias presenças em competições no exterior.

Winston Wong (esquerda) e Hayden Fong (direita) já participaram em várias competições fora de Macau

A velejar desde os oito anos, Hayden ascendeu ao posto de capitão substituto quando completou 13. Entre embarcações e cabos, descreve como a vela se tornou essencial na sua rotina. “É um desporto muito especial para mim. Eu também faço natação e vólei, mas gosto que a vela seja algo menos comum e mais único. Como capitão substituto também já sou responsável por cuidar dos outros miúdos mais novos”, conta à Revista Macau.

Em 2018, o jovem atleta local participou no HKODA Optimist Champhionship e no Hong Kong Raceweek, duas competições em Hong Kong, e, em 2019, no Optimist Asian and Oceanian Championship.

O seu companheiro de equipa, Winston, não lhe fica atrás em termos de experiência, tendo participado na edição de 2018 da Hong Kong Raceweek e nos Jogos Nacionais para Estudantes, em Qingdao, no ano passado. “Já faço vela há cerca de três anos. É muito importante para mim, é como uma rotina que tenho toda a semana, todos os domingos sei que venho para aqui e me divirto. Um dia espero tornar-me um velejador profissional”, diz o jovem de 15 anos.

Período de transição

Inaugurado a 29 de Novembro de 1999, apenas algumas semanas antes da transferência de administração de Macau, o Centro Náutico de Hác-Sá tem uma área de 4749 metros quadrados e está devidamente apetrechado para a prática e ensino de diversas modalidades aquáticas: o diverso equipamento de vela, paddle surf, windsurf e kitesurf é complementado por salas polivalentes, cozinhas, plataformas ao ar livre e outras instalações de apoio.

A operação do centro é da responsabilidade da Associação de Vela de Macau (AVM), organização constituída em 2000 com o apoio do Instituto do Desporto da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM).

Brian Sou, presidente da AVM, conta à Revista Macau como o centro e a própria associação têm feito todos os possíveis para atrair e formar mais jovens locais na prática da vela, procurando rejuvenescer a paixão pela modalidade.

“No que diz respeito à formação da equipa de Macau, estamos a dar aulas de formação de alta qualidade com um instrutor de vela profissional das Filipinas todos os fins-de-semana. Esses velejadores são a elite da modalidade a nível local”, refere Brian Sou.

A prática de windsurf tem ganho popularidade

J-war, que se mudou de Singapura para Macau em 2017, tem contribuído de forma crucial para o aumento de alunos e praticantes de vela na cidade. “Treino atletas desde a categoria de iniciados até ao nível de elite. Em Singapura tinha funções semelhantes, estava envolvido numa equipa de alto rendimento e preparava crianças desde o nível básico ao avançado, numa prática também associada às suas actividades escolares”, diz J-war à Revista Macau.

Actualmente, conta o experiente velejador, o clube está a crescer e a adaptar-se a uma nova realidade. “Houve um grande desenvolvimento nos últimos anos. Anteriormente, este centro era mais um clube de lazer, com um foco maior em actividades de lazer, mas agora estamos num período de transição gradual para uma componente mais competitiva”, refere.

Preparar o futuro

De acordo com J-war, o centro oferece agora aulas particulares com uma a duas pessoas, bem como sessões para grupos e para turmas escolares. “Já tivemos turmas de alunos da Escola Internacional de Macau, da Escola das Nações e de outras instituições locais. Também apoiamos actividades desportivas realizadas pelo Instituto do Desporto, geralmente a cada dois meses, de Abril a Maio e de Maio a Junho”, explica o velejador.

A AVM tem organizado, anualmente, a Macau Sailing Series, que inclui quatro eventos ao longo do ano, cada um com três regatas e outras provas. A competição conta com a parceria da Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água e de empresas locais.

Nesta competição, a equipa de vela do Centro Náutico de Hác-Sá é uma das prioridades, visto que representa parte integral do futuro da modalidade na RAEM e tem aspirações a participar nos Jogos Nacionais da China em 2025, que vão ser organizados de forma conjunta por Guangdong, Hong Kong e Macau. Criados em 1959, esta será a primeira vez que as duas regiões administrativas especiais irão acolher uma edição dos Jogos Nacionais.

O centro conta com uma grande variedade de embarcações, para crianças e jovens de diferentes idades

Neste momento, a equipa de vela do centro conta com cerca de 20 membros, nas categorias de iniciado, intermédio e avançado, com idades entre os 10 e os 17 anos.

“Temos um processo para escolher os membros da equipa. Quando observamos crianças ou adultos noutras aulas do centro com potencial, convidamo-los para umas aulas aos fins-de-semana”, explica J-war. “Depois de observar como é que trabalham em equipa e analisar como o treino avança, perguntamos se querem começar a treinar connosco. Convidamos muitos jovens para praticar windsurf e velejar, mas fazer parte da nossa equipa depende do treino e do compromisso.”

Enfrentar desafios

O centro conta com cerca de 100 embarcações, que permitem competir em diversas categorias e classes diferentes. Entre as embarcações contam-se vários barcos da classe Optimist, um pequeno barco monotipo de bolina recomendado para crianças dos sete aos 15 anos. Como barco de transição, o centro possui também vários Toppers, um barco construído em polipropileno e popular como barco de corrida ou para treino de vela; e com os Lasers, um barco à vela de classe olímpica, como última paragem dos futuros atletas.

Comum a qualquer desporto náutico, os praticantes de vela fazem frente a ventos, marés e tempestades, ultrapassando os desafios que vão surgindo, sejam estes meteorológicos ou pandémicos.

“Posso dizer que temos vantagens e desvantagens no que toca ao clima local. O clima de Macau é imprevisível, tanto podemos ter vento fraco que de repente se levanta, como podemos ter correntes fracas e, de repente, correntes fortes. Pelo lado positivo, o mar é geralmente calmo e sem muitas ondas”, descreve J-war. “Durante o Verão, o vento vem de Nordeste para Sudoeste, o que pode dificultar muito o treino, pois precisamos ir mais longe para apanhar mais vento.”

Quanto ao impacto da pandemia da COVID-19, o treinador nota que a situação levou à suspensão da participação dos atletas de vela em competições locais e internacionais, eventos que são importantes no percurso de aprendizagem. “Como treinador, tornou-se mais difícil motivar os alunos. Temos o plano para preparar a nossa equipa para os Jogos Nacionais de 2025, mas precisamos agora da experiência em competições, para ter a certeza de que atingimos o nível necessário para provas desta exigência. Espero que este ano já possamos participar” em alguns eventos, acrescenta J-war.

Apesar das circunstâncias, Brian Sou destaca que, em 2021, a AVM ainda conseguiu que os seus jovens velejadores participassem em dois grandes eventos no Interior da China, um na província de Zhejiang e outro nos Jogos Nacionais para Estudantes, que decorreram em Qingdao. “Olhando para o futuro, esperamos que, após a pandemia, a nossa equipa possa participar em regatas em diferentes países da Ásia e até noutras partes do mundo”, salienta o presidente da associação.