A arte de bem restaurar

Uma das funções mais importantes do Departamento Diocesano de Arquivos Históricos e Património Cultural de Macau é o restauro de objectos e documentos. O desafio começa logo na selecção daquilo que deve ser alvo de atenção. “Devido a limitações de mão-de-obra e financeiras, temos que seleccionar os itens que necessitam de restauração de forma mais urgente”, nota o director do departamento, Benedict Keith Ip Ka Kei.

O acto de restauro exige o domínio de técnicas especializadas e uma compreensão detalhada da peça em mãos, explica o responsável. Em vários casos, são necessários conhecimentos religiosos de nível avançado, visto que muitos itens do espólio da Diocese de Macau são de âmbito eclesial.

Antes, há questões éticas a abordar. Qual a extensão e profundidade dos tratamentos de restauro a adoptar para cada artigo, de forma a respeitar e valorizar o seu significado estético, histórico e espiritual, bem como a sua integridade física? A resposta não é simples, admite Benedict Keith Ip.

O responsável dá o exemplo de uma representação das insígnias da Ordem Militar de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa (ver foto), datada do século XIX. A parte esquerda do objecto demonstra o estado em que este se encontrava quando foi colocado sob a alçada do Departamento Diocesano de Arquivos Históricos e Património Cultural. Ao centro, é possível ver a base do artefacto, despida de pinturas. Por fim, a parte da direita encontra-se restaurada à imagem da versão original.

Benedict Keith Ip lança a questão: qual das três formas encerra o melhor exemplo de restauro? “Temos as técnicas necessárias, podemos restaurar qualquer objecto à sua forma original, mas será que isso é positivo? Será que o valor que carrega continuará a ser o mesmo?”, pergunta.