Cooperação com a Guiné-Bissau

Educar para construir o futuro

A Escola de Amizade Sino-Guineense, em Bissau, foi construída em 2009
Não há desenvolvimento sem educação e a Guiné-Bissau está apostada em valorizar um sistema educacional eficiente, que permita construir as bases para um futuro mais próspero. A China tem sido um parceiro importante na persecução desse objectivo

Texto Iancuba Dansó

A República Popular da China e a Guiné-Bissau continuam a fortalecer a cooperação na área da educação e os resultados são cada vez mais visíveis, com vários observadores a defenderem que as relações de amizade entre os dois países devem continuar a sustentar o desenvolvimento mútuo. Ao longo dos anos, a China tem sido um parceiro importante no que toca ao investimento no sector educativo guineense e na formação de quadros no país.

Em termos gerais, a cooperação bilateral mantém-se sólida, mas é particularmente na área da educação que a Guiné-Bissau tem beneficiado do investimento da China, que está a produzir resultados frutuosos na sociedade e no aparelho de Estado guineense.

A Revista Macau falou com uma fonte da Embaixada da República Popular da China na capital guineense, Bissau, que realçou a “excelente” cooperação entre os dois países no sector da educação e explicou como a China tem contribuído para a valorização dos estudantes e do sector educativo guineenses. 

“Actualmente, a China dá apoios de duas formas ao sector educativo da Guiné-Bissau: primeiro, através da construção de raiz de novas escolas; e também através da atribuição de bolsas de estudo para a China. Há as chamadas ‘Bolsas do Embaixador’, que o embaixador chinês atribui aos alunos para estudarem nas escolas do país de origem ou na China, e há bolsas atribuídas ao Governo da Guiné-Bissau para fazer a selecção dos candidatos que vão estudar na China”, revelou a fonte.

No dia 21 de Agosto, 30 estudantes guineenses – beneficiários de bolsas de estudo para a China – despediram-se das autoridades da Guiné-Bissau, antes de partirem para o país asiático.

“A cooperação com a China é de longa data e tem sido exemplar. E a nossa intenção é melhorá-la cada vez mais”, disse na ocasião Braima Sanhá, ministro da Educação, Ensino Superior e Investigação Científica da Guiné-Bissau. “Prometo consolidar cada vez mais a cooperação com a China [na área da educação]. Acho que devemos criar uma universidade pública na Guiné-Bissau que possa albergar mais estudantes e abranger áreas fundamentais e penso que o governo chinês poderá apoiar a Guiné-Bissau neste aspecto”, acrescentou.

Para além das bolsas atribuídas a alunos ao nível local, a China também providencia outro tipo de apoios ao sector da educação guineense, de acordo com as necessidades e solicitações das autoridades locais.

Em 2014, o Ministério da Educação da Guiné-Bissau realizou um estudo-diagnóstico sobre o progresso do sector, cujos resultados revelaram que o nível dos alunos do ensino básico estava aquém do desejado. O estudo concluiu que o desempenho dos alunos da Guiné-Bissau no ensino básico figurava nos últimos lugares em comparação com os países da sub-região da África Ocidental, isto para além de ter revelado uma lacuna em termos de infra-estruturas escolares.

Formação de quadros

Ciente das dificuldades existentes na área da educação na Guiné-Bissau, o Governo da China tem intensificado os programas de ajuda ao sector, incluindo, actualmente, através de um programa especial de apoio directo à formação de quadros nacionais. 

Entre 2018 e 2020, através de uma bolsa do Governo chinês, Eduardo da Cunha Kássimo, funcionário do Ministério da Agricultura da Guiné-Bissau, concluiu o mestrado em Engenharia Ambiental, com a especialização em “Estudos e Efeitos das Alterações Climáticas na Agricultura”. À Revista Macau, o profissional guineense destaca o modelo de ensino na China como um dos factores para se sentir orgulhoso da sua formação.


“Há milhares de estudantes que beneficiaram de bolsas de estudo para diferentes cidades chinesas e hoje alguns desses estudantes estão a trabalhar em diferentes instituições do Estado da Guiné-Bissau”

EDUARDO DA CUNHA KÁSSIMO
FUNCIONÁRIO DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA DA GUINÉ-BISSAU

“O sistema de ensino superior na China é moderno, acessível e aberto. Os professores criam debates para permitir aos estudantes relatarem o que sabem e aos professores fazerem a correcção do que foi relatado, para melhorar o seu conhecimento”, salientou o técnico. “Têm um sistema de avaliação muito bom, para permitir ao aluno ser um investigador e ser também interactivo, em vez de estar a memorizar a matéria. Isso permite fazer pesquisas para depois fazer uma apresentação do que foi pesquisado.”

Cunha Kássimo realçou que a forma como os estudantes são incentivados nas universidades chinesas permite que os mesmos sejam mais criativos e inovadores no desempenho das suas funções.

De acordo com o funcionário ministerial, faz todo o sentido a Guiné-Bissau e a China manterem a cooperação na área da educação, algo que tem contribuído para o desenvolvimento do país africano. “Há milhares de estudantes que beneficiaram de bolsas de estudo para diferentes cidades chinesas e hoje alguns desses estudantes estão a trabalhar em diferentes instituições do Estado da Guiné-Bissau e a dar positivamente o seu contributo. Um dos exemplos sou eu, que estudei na China, que está a ajudar a Guiné-Bissau no sector da educação, o que é muito importante para o nosso país”, frisou. 

A China fornece secretárias, computadores e vários outros materiais para apoiar a aprendizagem

A República Popular da China também atribui anualmente bolsas de curta duração, incluindo a funcionários públicos guineenses. Antes da pandemia da COVID-19, o país asiático atribuía 200 bolsas anuais para estágios e formações de curta duração. 

O investimento chinês na área educativa abrange ainda apoios directos à Escola Normal Superior Tchico Té, uma das escolas de formação de professores em Bissau, e ao Liceu Nacional Kwame N’Krumah, que beneficia, anualmente, de entre cinco a seis bolsas de estudo para a China, sem contar com as bolsas que são atribuídas, a nível local, aos melhores alunos da instituição de ensino. 

No período pré-pandémico, entre 20 e 25 estudantes guineenses beneficiavam anualmente de bolsas para o ensino superior no país asiático.

Novas infra-estruturas

Por outro lado, a China construiu, de raiz, e equipou escolas do ensino básico e liceus, com capacidade para três a quatro mil alunos, em Bafatá, no leste do país, em Cachéu, no norte, e na capital, Bissau. Estes estabelecimentos beneficiaram de computadores e vários materiais para facilitar a aprendizagem. 

A Revista Macau visitou, no Bairro Militar, em Bissau, a Escola de Amizade Sino-Guineense, construída em 2009, e reabilitada e reequipada recentemente pela República Popular da China. A instituição conta com mais de três mil alunos, do ensino básico ao secundário. 

O director da escola, Samora Bandjaque, enalteceu o apoio chinês ao estabelecimento de ensino. “A nossa escola foi construída e equipada pela China. Todas as secretárias, cadeiras e o resto dos materiais foram obra da China. Há muitas vantagens desta escola para a comunidade local, pois não havia nenhuma nesta localidade, mas graças à cooperação da China com a Guiné-Bissau, conseguimos ter uma escola como esta”, realçou. 

“Hoje, é uma escola de referência e, em termos de infra-estruturas, não pode ser comparada com muitas escolas. O investimento feito aqui é significativo e evita que os alunos andem muitos quilómetros para irem à escola”, acrescentou.

O responsável referiu-se à forma como a entidade construtora e financiadora da escola mantém a ligação à instituição. “A China constrói e garante a manutenção de todas as infra-estruturas escolares, e connosco também foi a mesma coisa. Depois de um certo período, mandam mudar todos os materiais que colocaram na escola. Temos carteiras nas salas de aula que não existem em mais nenhuma escola, tudo veio da China, até quadros para escrever. Não temos problemas de giz, de água e de nada. Tudo graças aos apoios da China”, sublinhou o director da Escola de Amizade Sino-Guineense.


“A nossa escola foi construída e equipada pela China … Hoje, é uma escola de referência”

SAMORA BANDJAQUE
DIRECTOR DA ESCOLA DE AMIZADE SINO-GUINEENSE

Samora Bandjaque lembrou ainda que, nos primeiros tempos da escola, a China oferecia até roupas e géneros alimentícios aos alunos, como forma de incentivar o bom desempenho académico. 

Bacar Camará, jornalista e correspondente na Guiné-Bissau da agência estatal chinesa de notícias, Xinhua, enalteceu as iniciativas de cooperação em curso entre os dois países, sobretudo na área da educação. Para o repórter, trata-se de uma relação “fundamentada no pragmatismo, que também beneficia directamente a população”.

Em Julho de 2022, a Embaixada da China na Guiné-Bissau realizou uma cerimónia de graduação para oito estudantes guineenses que terminaram os cursos de licenciatura em diferentes universidades chinesas – em formato virtual, devido à COVID-19.

Os estudantes em causa iniciaram os estudos superiores presencialmente na China, mas a pandemia obrigou-os a regressar ao país, onde concluíram a formação em formato online. Outros permaneceram no país asiático, onde ainda prosseguem os seus estudos.

Os resultados alcançados pelos vários estudantes guineenses têm também contribuído para que haja um interesse cada vez maior dos alunos guineenses em estudar na China, algo evidenciado pelas solicitações que a Embaixada da China recebe diariamente, de acordo com fonte da representação diplomática.

Por essa razão, a Embaixada chinesa tem-se posicionado como uma montra para a China actual, de modo a que os jovens guineenses possam conhecer melhor o país asiático e contribuir para o aprofundamento da amizade entre as duas nações.