Macau vai organizar, em colaboração com Guangdong e Hong Kong, a 15.a edição dos Jogos Nacionais, que arrancam em Novembro. Macau terá um número recorde de representantes e, a dois meses do evento, os atletas locais intensificam a preparação com olhos postos nas medalhas
Texto Vítor Rebelo
O projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau tem vindo a ganhar maior relevo e em domínios cada vez mais diferenciados, com o desporto a assumir este ano um papel preponderante. As três regiões organizam conjuntamente – em Novembro e Dezembro – a 15.ª edição dos Jogos Nacionais, a 12.ª edição dos Jogos Nacionais para Pessoas Portadoras de Deficiência e a 9.ª edição dos Jogos Olímpicos Especiais Nacionais.
A edição de 2025 dos Jogos Nacionais será a primeira na história a realizar-se em mais do que uma região, sendo também a primeira vez que Macau participa na organização do evento.
A cerca de dois meses do arranque das provas, a expectativa é grande em saber como Macau vai responder às exigências de um acontecimento deste nível. Essa expectativa estende-se também ao facto de a população local ter a possibilidade de ver em acção algumas estrelas do desporto chinês, enquanto se prepara para acarinhar os atletas de Macau.
Entre os atletas locais, o sonho de medalhas pode tornar-se uma realidade, mas os últimos meses não se fizeram sem percalços e sem uma grande dose de abnegação. As longas horas de treino, os sacrifícios pessoais e uma vontade de representar as cores de Macau são elementos comuns e transversais às modalidades nas quais a Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) estará representada no evento desportivo, salientam vários atletas em conversa com a Revista Macau.
A edição deste ano dos Jogos Nacionais – a decorrer entre 9 e 21 de Novembro – contará com 34 modalidades, onde se incluem desportos de grande tradição olímpica, como a natação, o atletismo, o basquetebol, o boxe, o ciclismo, o futebol, a ginástica, o ténis de mesa, entre outros.
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Macau acolherá cinco modalidades de competição, nomeadamente: ténis de mesa; karaté; basquetebol de três; basquetebol de cinco, na vertente sub-18 masculinos; e voleibol feminino, na categoria de adultos. Já a prova individual masculina de ciclismo dos Jogos Nacionais será co-organizada por Guangdong, Hong Kong e Macau em Novembro, sendo a única prova do evento que atravessa as fronteiras das três regiões.

A RAEM vai também acolher duas provas de badminton, entre 8 e 15 de Dezembro, para pessoas com deficiência, no âmbito dos Jogos Nacionais para Pessoas Portadoras de Deficiência e dos Jogos Olímpicos Especiais Nacionais.
Entre a juventude e a experiência
Com o aproximar do evento, as associações envolvidas e os respectivos atletas entraram numa fase de maior intensidade de treinos. Entre uma das principais promessas está o karateca Kuok Kin Hang, de 33 anos, o primeiro atleta da RAEM a vencer uma medalha nos Jogos Nacionais, quando arrecadou, na edição de 2021, o bronze na prova individual masculina de karaté na competição de kata.
O experiente atleta exala confiança, mesmo face aos desafios que uma competição deste género acarreta. “Acredito que posso voltar a conquistar uma medalha para Macau”, afirma o karateca. Representar a RAEM nos Jogos Nacionais “é uma grande honra” e uma “excelente oportunidade para competir com atletas nacionais de classe mundial, mostrando o espírito de Macau”, acrescenta Kuok Kin Hang.
No que concerne à preparação para a prova, assumindo os sacrifícios que são necessários para competir ao mais alto nível, Kuok Kin Hang diz que os treinos estão a decorrer “muito bem” e com boa adaptação aos novos treinadores. “Cumprimos um plano específico e treinamos cinco horas por dia, divididas por sessões de manhã e à noite, num total de 25 horas por semana”, conta o karateca.


Regina Lei (esq.) e Vanessa Fong (dir.) fazem este ano a estreia nos Jogos Nacionais
O karaté é uma das grandes apostas de Macau para a obtenção de bons resultados na 15.ª edição dos Jogos Nacionais. Regina Lei Hong Kio, de 17 anos, e Vanessa Fong, de 25 anos, são dois exemplos de como a modalidade tem progredido em anos recentes, ambas prontas para a sua primeira participação nos Jogos Nacionais.
Regina Lei descreve o evento como um “grande desafio” em que terá a oportunidade para mostrar o seu valor e tentar atingir os seus limites. Embora a fazer a sua estreia numa competição desta magnitude, a atleta não vacila quando afirma que o objectivo passa por “tentar chegar às medalhas”.
Já para Vanessa Fong, um dos aspectos mais significativos é o facto de a competição de karaté decorrer em Macau, com o apoio do público local. “Sinto-me muito honrada por participar neste grande evento da China”, afirma. Numa recente competição no Interior da China, Vanessa Fong alcançou o primeiro lugar. “Espero manter esta forma até ao início dos Jogos Nacionais”, menciona.
Supa Ngamphuengphit, treinador da selecção de karaté, realça que a RAEM será representada por 13 karatecas nos Jogos Nacionais, a maior parte dos quais participou num estágio promovido pela Federação Asiática de Karaté, onde estiveram mais cinco países e regiões.
“Acredito que, com a preparação que temos tido, os atletas terão oportunidade de mostrar o seu talento”, refere o treinador. O técnico seleccionou jovens atletas para treinar juntamente com os seniores. “O objectivo é ter uma equipa forte e preparada para encarar as grandes competições internacionais”, sustenta.
Competição de alto nível
O wushu é outra das artes marciais que têm prestigiado o nome de Macau nos palcos internacionais, com obtenção de várias medalhas. Para os Jogos Nacionais, a ambição mantém-se elevada, apesar de os atletas nacionais terem um nível “muito alto”. “Em primeiro lugar, iremos encarar a competição com uma mentalidade de aprendizagem”, frisa o treinador Iao Chon In.
O técnico, que convocou dez atletas para o evento em Novembro, mostra-se satisfeito pelos bons resultados alcançados noutras provas, como nos Campeonatos Asiáticos de Wushu. “Actualmente, dispomos de jovens atletas que já atingiram um patamar de classe mundial, mas há ainda uma diferença considerável em relação aos melhores executantes do Interior da China”, admite, adiantando que o objectivo é “diminuir essa diferença”.
Em Setembro, a selecção de wushu de Macau terá mais uma oportunidade para se preparar para os Jogos Nacionais, com a participação no 17.º Campeonato Mundial de Wushu, a decorrer no Brasil.

Também a selecção de judo irá marcar presença nos Jogos Nacionais, devendo contar com três atletas. De acordo com Che Kuong Hon, presidente da Associação de Judo de Macau, a ambição é chegar aos oitavos-de-final da prova e depois fazer o melhor possível. “Temos registado progressos com a chegada do experiente treinador chinês Yu Dingkai e com os estágios que vamos realizando no Interior da China”, salienta o mestre Che, também ele antigo praticante da modalidade.
Segundo o dirigente, a preparação para os Jogos Nacionais tem proporcionado a participação em várias provas, o que oferece “uma maior evolução” aos atletas locais. A competição com adversários experientes e de elevada qualidade é uma experiência valiosa, através da qual os atletas e os treinadores “só têm a ganhar, melhorando as suas aptidões técnicas, as tácticas, a condição física e o estado mental”, sublinha Che Kuong Hon.
O mestre considera que a presença de Macau nos Jogos Nacionais “vai ajudar a dar visibilidade e influência à modalidade na região, atraindo mais jovens e inspirando as novas gerações de atletas”.
Como forma de atrair mais atletas à modalidade, a associação “tem colaborado com instituições de ensino de Macau e organizado competições interescolares, de forma que a modalidade continue a progredir no futuro”, destaca o mestre Che.
Jovens à procura de despontar
Na edição deste ano dos Jogos Nacionais, a RAEM será representada por vários jovens talentos, numa aposta para garantir as bases para o futuro das modalidades.

O golfe é um destes casos, devendo apresentar quatro jogadores do sector masculino e dois do feminino. O presidente da Associação de Golfe de Macau, João Senna Fernandes, revela que a meta é atingir o “top 10” da competição. Segundo o dirigente, os atletas que estão a estudar nos Estados Unidos da América “passam por um treino adequado e participam em torneios universitários”.
Um deles é Kevin Si Ngai, que se tornou profissional no ano passado e está a competir em eventos no âmbito do Asian Tour. “Ele é uma das nossas maiores esperanças”, indica João Senna Fernandes, para quem o golfe se tornou “mais acessível” para a geração mais jovem. “Alguns jogadores razoavelmente bons, com potencial para alcançar um elevado estatuto amador, estão a emergir”, realça.
No ténis, a associação aponta para quatro representantes em cada uma das categorias de singulares, masculinos e femininos, assim como mais quatro elementos no torneio por equipas. Louise Ung, presidente da Associação de Ténis de Macau, gostaria que todos os tenistas passassem à segunda ronda, “o que seria um feito histórico para Macau”.
Por outro lado, salienta, a presença do golfe nos Jogos Nacionais é “bastante significativa”, tanto para jogadores, como para monitores e dirigentes, “sendo um reconhecimento do esforço de todos nos últimos anos”.
O futebol é um dos desportos colectivos nos quais a RAEM vai ter oportunidade de integrar a fase de grupos. A selecção será composta por jogadores sub-23, mas vários têm menos de 20 anos.
O seleccionador, Kenneth Kwok Kar-lok, antevê uma “experiência valiosa para os jovens futebolistas”. Depois de a selecção participar no Campeonato Asiático de Futebol sub-23, em Setembro, “o foco irá centrar-se nos Jogos Nacionais”, adianta.
Para o técnico, esta é uma “boa oportunidade” para mostrar o trabalho que têm feito e “não há nada melhor” do que “jogar em grandes torneios como este, com as melhores equipas das várias províncias e municípios da China”.

Em Dezembro, Macau também estará representada nos Jogos Olímpicos Especiais Nacionais, com a presença de Virgínia Lao In I. Esta é a primeira vez que a atleta vai participar num evento desta escala a nível nacional, tendo já adquirido experiência em edições dos Jogos Paralímpicos.
A praticante de esgrima quer ganhar uma medalha, mas admite que “vai ser muito difícil”, uma vez que “alguns dos atletas do Interior da China são medalhados de ouro dos Paralímpicos de Paris e também Hong Kong tem uma equipa muito forte”, assume.