Ao longo das duas décadas de vigência da parceria estratégica global entre a China e Portugal, Macau viu transformada a sua posição nas relações entre os dois países. De ponte histórica entre o Oriente e o Ocidente, passou a assumir um papel de relevo na diplomacia económica e na cooperação bilateral. Essa evolução deveu-se ao empenho do Governo Central, com apoio das autoridades portuguesas, e também à capacidade da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) de construir mecanismos de contacto bilateral institucional, económico e cultural, com destaque para o Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, referem observadores consultados pela Revista Macau.
A potenciação do papel da RAEM na consolidação e reforço das relações amistosas entre a China e Portugal foi, aliás, um dos temas da reunião que o Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, teve com o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, em Setembro. Na altura, o líder do Governo de Macau notou que a inclusão da cidade na primeira visita oficial à China de Montenegro era demonstrativa da importância atribuída pelas autoridades lusas ao papel de Macau.
Sam Hou Fai notou então o ênfase dado – no âmbito da parceria estratégica global entre a China e Portugal – ao aproveitamento da plataforma de Macau na promoção do intercâmbio e da cooperação sino-portugueses. O Chefe do Executivo indicou que a RAEM, a única região no mundo que tem o chinês e o português como línguas oficiais, está empenhada em construir uma plataforma de serviços comerciais entre a China e os países da língua portuguesa, contando para isso com o forte apoio da China e de Portugal.
Para Bernardo Mendia, secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, Macau “é muito mais do que um símbolo histórico; é um activo estratégico vivo e dinâmico, de enorme capital e potencial”. Segundo acrescenta, “a sua função na parceria estratégica global é actuar como uma autêntica plataforma de confiança e centro físico de ligação”.
Macau desempenha esse papel através de um esforço em várias frentes, nota Bernardo Mendia. Por um lado, funciona como centro de serviços financeiros para operações em renminbi com os países de língua portuguesa, facilitando fluxos de investimento. Por outro, destaca-se como espaço de mediação cultural e jurídica, com capital humano capaz de compreender simultaneamente as realidades empresariais da China e de Portugal. Além disso, é uma plataforma de cooperação multilateral, acolhendo fóruns e encontros económicos internacionais que reforçam o seu perfil diplomático.
“O papel de Macau não é o de um intermediário passivo, mas o de um facilitador activo intelectual e de serviços profissionais e logísticos, que acrescenta valor, promove relações, reduz assimetrias de informação e constrói as pontes de confiança que fortalecem toda a arquitectura da parceria estratégica global” entre a China e Portugal, resume.
Também a empresária Lao Chao Peng sublinha a relevância da RAEM na relação sino-portuguesa. “Macau tem desempenhado um papel insubstituível como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa”, diz.
Para a também presidente da Comissão de Trabalho de Macau da Associação de Sociedades Chinesas em Portugal, o papel da RAEM está hoje integrado numa estratégia mais ampla ligada à Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e à Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin. A cidade, afirma, é cada vez mais um ponto de encontro económico, mas também um espaço de ligação humana e cultural.
“Macau deve continuar a assumir a função de ‘interlocutor com precisão’, promovendo a cooperação económica, o investimento bilateral e o intercâmbio cultural entre a China, Portugal e os países de língua portuguesa”, conclui.



