O novo sorriso de Cantão

Os 16.ºs Jogos Asiáticos realizam-se em Cantão a partir de 12 de Novembro de 2010 e levaram a cidade, com 2224 anos, a sofrer uma renovação comparável à que aconteceu em Pequim para os Jogos Olímpicos de 2008
O novo sorriso de Cantão
Vimos preparados para visitar os monumentos, os museus, ver a nova arquitectura com que a cidade se vai vestindo e os recintos que vão acolher os Jogos Asiáticos e tropeçamos com uma cidade em obras, numa verdadeira remodelação. Sob o lema, “um céu mais azul, um rio mais limpo, ruas mais fluidas, casas mais arranjadas e a cidade mais bonita”, desde 1 de Julho de 2004 que Cantão começou a preparar-se, sendo o investimento de seis mil milhões de yuan.
Onde já se sente uma verdadeira mudança é na atitude e comportamento dos habitantes. A disponibilidade para com os visitantes é enorme, sempre com um sorriso, e há um esforço de civismo bastante visível. Os taxistas, de uma maneira geral, tentam apresentar-se como um verdadeiro cartão de visitas para uma cidade que quer acolher bem quem aqui chega. O circular dentro da cidade transformou-se radicalmente com a chegada do Metro e se antigamente os trolleys e autocarros andavam sempre apinhados, agora facilmente se arranja um lugar sentado.
Cantão tem duas linhas fortes que a dividem longitudinalmente: o rio Zhu (rio das Pérolas) e a rua Zhongshan, onde ao redor se encontra a maioria dos templos da cidade.
Começamos por visitar a Academia do Clã Chen e por isso, seguimos de Metro onde confirmamos que este já chega a Panyu e prevê-se que chegue a Foshan a partir de Outubro.
O terreno em frente à Academia do Clã Chen, que se estende à rua Zhongshan 7, encontra-se em remodelação. O complexo de edifícios que formam a casa do Clã Chen, foi construído em 1890 para albergar os descendentes que, vivendo na Província de Guangdong, vinham à cidade para tratar dos seus assuntos. É nesse complexo que se encontra o templo de culto aos antepassados que, desde 1959, alberga o Museu de Arte Popular.
O conjunto de edifícios está decorado com uma rara beleza, tanto no telhado como nas paredes, com belos frisos e esculturas de pedra e porcelana Shiwan (Shek Wan), além da madeira toda talhada, desde as portas aos frisos e às estruturas dos telhados.
Novas áreas pedonais foram abertas junto aos centros comerciais. A Rua de Pequim (Beijing Lu), já com um novo visual, tem expostos, por baixo de vidros e a ocupar o centro da rua, pavimentos de diferentes épocas. A outra rua comercial pedonal, Shang Xia Jiu, que ainda há poucos anos sofrera uma profunda remodelação, encontra-se de novo toda entaipada, para obras. No entanto, as lojas, resguardadas pelas arcadas de arquitectura de estilo Lingnan, dos finais do século XIX, continuam abertas e a atrair multidões.
Já na rua Qingping, um dos ex-líbris gastronómicos da cidade, fica o restaurante Guangzhou, com os seus três andares sempre cheios. Caminhando para sul, onde se situou o extinto mercado com o nome da rua, vamos até Shamian.
Em 1711 a Companhia Britânica das Índias Orientais estabeleceu um posto de comércio na ilha de Shamian. Sendo na I Guerra do Ópio uma importante base militar, após a II Guerra do Ópio, em Setembro de 1861, tornou-se uma concessão anglo-francesa. Os casarões passaram incólumes na Revolução Cultural e agora servem de cenário para as fotografias de moda, sobretudo de vestidos de noiva. Aí se situam muitos hotéis e restaurantes, sendo pela sua tranquilidade a zona preferida entre os turistas estrangeiros, e é fácil encontrar quem domine a língua inglesa.
Outro ponto forte da cidade é o Rio das Pérolas. Recorrendo aos bancos colocados nas margens do rio, os habitantes da cidade aí vão, ao fim da tarde e à noite, refrescar-se e observar o movimento dos barcos cruzeiros, muitos por eles usados como meio de transporte durante o dia.
E é num desses barcos que desde o cais Xidi viajamos até ao Zhongda, em frente à ilha Ersha, onde se encontram os edifícios Xinghai Concert Hall e o museu de Arte Contemporânea. Por outro lado, ficamos a saber que a viagem de barco para Whampoa (Huangpu) apenas se realiza ao fim-de-semana.
No prolongamento de Ersha, mas já fora da ilha, está o Guangzhou Ópera House, tendo por trás o Centro de Juventude número 2 (Guangzhou Second Teenagers’ Activity Center) e do outro lado do que parece ser uma nova praça, o museu de Guangdong e a Biblioteca de Guangzhou. Olhando para Norte, essa extensa praça chega até a avenida Huangpu Oeste e está ladeada pelas avenidas Zhujiang Oeste e Leste, parecendo terminar na pequena ilha de Haixinsha. Todo esse local que forma uma longa praça está envolvido por arranha-céus, muitos ainda em construção, que albergam as grandes empresas, sobretudo financeiras e hotéis. A grandiosidade da arquitectura deslumbra e pela altura a torre Oeste, que espera a sua irmã gémea para o lado Leste, merece ser mencionada pois contrabalança com o edifício mais vistoso, situado em frente, mas no outro lado do rio. Concebido pelo arquitecto holandês Mark Hemel para ser a mais alta torre de TV do mundo, começou a ser construído em 2004 e pretende-se finalizado em Novembro de 2010. Na ilha de Haixinsha pensou-se em 2005 fazer um parque, que começou a ser construído em 2008, mas em Abril de 2009, o projecto foi modificado. Nesse local está a ser criado um recinto para se realizarem as cerimónias de abertura e fecho dos 16o Jogos Asiáticos.
Deixamos Cantão encantados com as transformações que lhe trouxeram um ar mais tranquilo e aprazível, apesar das muitas obras por toda a cidade.