Foi a doçaria que me descobriu

Fernando Marques

 

– Porquê Macau?

– Macau surgiu por convite.  Há oito anos vim até ao Oriente para substituir um colega de profissão. A curiosidade em conhecer esta parte do mundo, aliada à oportunidade, foram o suficiente para me convencer. Há cinco anos decidi abrir o meu próprio estabelecimento, o Café «Ou Mun». Só tinha 25 anos. Foi um grande risco, lutei muito, passei por muitas dificuldades mas, valeu a pena…

 

– Como descobriu a paixão pela doçaria?

– Acho que foi a doçaria que me descobriu a mim. Comecei a trabalhar, numa padaria, aos 16 anos. Estudava à noite, das seis às dez da noite, e trabalhava da  meia-noite às oito da manhã. Dormia de dia…  vida de padeiro…

Depois foram-me dadas oportunidades, apostaram em mim, e tomei-lhe o gosto. Frequentei curso de formação atrás de curso de formação, participei em vários concursos e eventos e tive a oportunidade de aprender com alguns dos nomes mais sonantes em Portugal.

 

– Para promover a doçaria que projecto deve ser concretizado?

– Gostaria de organizar um evento onde pudesse levar a arte da doçaria (porque é uma arte) até à população. Macau já tem um Festival da Gastronomia que tem tido muito sucesso, mas gostaria de ir um pouco mais longe. Além de proporcionar o saborear do produto final era bom experimentar todos os processos, desde a preparação dos ingredientes à confecção propriamente dita.

 

– Que adaptações teve de introduzir na sua arte para satisfazer o público local?

– Em termos de doçaria é tudo menos doce. A população não aprecia bolos muito doces, particularmente a chinesa. Quanto a ingredientes portugueses hoje já se vende de tudo em Macau.

 

– Que reacções lhe provoca o momento que actualmente vive Macau, com este rápido crescimento económico e as transformações que provoca?

– Tem bons e maus momentos. Todo este crescimento cria oportunidades de negócio, não me posso queixar, mas em termos de qualidade de vida também cria alguns problemas. O que mais noto é ao nível do trânsito: antigamente nada era realmente “longe”, demoravam-se poucos minutos até chegar ao destino, mas hoje em dia o trânsito está impossível. Só se consegue chegar a algum lado utilizando a mota…

 

– Se pudesse viver em qualquer parte do Mundo onde seria?

– Estou tão bem aqui… mas talvez a Alemanha ou a Holanda…

 

– Quais são os seus grandes amores?

– A minha família. A minha mulher. Sem o apoio dela e da família nunca teria chegado onde estou hoje. Devo-lhes muito…