À espera de Mutola

A veterana Maria de Lurdes Mutola é a maior esperança de Moçambique na conquista de uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Pequim

 

De acordo com o secretário-geral do Comité Olímpico Nacional (CON), Penalva Pena, tudo depende de Maria Mutola ultrapassar as dificuldades físicas que tem sentido. “Se até Agosto tiver superado as lesões que a têm apoquentado nos últimos tempos e estiver no seu melhor em termos de força anímica não há dúvidas que pode ganhar. É a maior referência mundial nos 800 metros”, sublinhou Penalva Pena.

Apesar de fazer em Outubro 36 anos, Maria Mutola pode levar  Moçambique a conquistar uma medalha de ouro nas próximas Olimpíadas.

Nos Jogos Olímpicos de 2000, em Sidney, a atleta nascida em Chamanculo (distrito de Maputo, no sul de Moçambique) conquistou a medalha de ouro. Em 1996, em Atlanta, a corredora moçambicana subiu ao pódio para receber a medalha de bronze.

Moçambique tem também assegurada a presença de Kurt Couto, nos 400 metros barreiras, que obteve uma marca abaixo dos 50 segundos necessários nesta especialidade.

Em Outubro de 2007, na primeira edição dos Jogos da Lusofonia, realizada em Macau, Kurt Couto tornou-se o primeiro atleta africano a conquistar uma medalha de ouro, num evento até então dominado por atletas brasileiros e portugueses (nos jogos participaram 760 atletas de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Macau, Brasil, Portugal, Timor-Leste, Índia (Goa) e Sri Lanka).

Ainda no atletismo, Moçambique espera conseguir mais uma vaga, pois a atleta Leonor Piúza, corredora dos 800 metros, precisa de apenas quatro centésimos de segundo para estar presente na prova. Em 2007, Leonor Piúza conquistou a medalha de ouro nos Jogos Africanos de Argel.

 

Natação com hipótese

 

O secretário-geral do CON afirmou ainda que o país tem também a possibilidade de colocar dois atletas de natação na competição, por via da obtenção do tempo mínimo exigido.

“Se falhar a qualificação dos atletas ainda com hipóteses de ir a Pequim por via dos mínimos exigidos, há ainda a possibilidade de dois atletas, provavelmente de natação, competirem na prova através das duas vagas que o Comité Olímpico Internacional reserva para os países que não tenham um mínimo de quatro atletas no evento”, observa.

Penalva Pena enfatizou que independentemente do número de atletas que vão estar nos próximos Jogos Olímpicos, Moçambique pretende voltar a figurar no quadro de países com medalhas olímpicas.

Para alcançar esse objectivo, o CON ofereceu bolsas desportivas a Kurt Couto e a três nadadores para viverem e treinar em academias da África do Sul, a maior potência olímpica de África, tendo sido retirada a bolsa a um dos nadadores por ter falhado nos requisitos para a sua continuação na África do Sul.

 

Estágio em Macau

 

As autoridades desportivas moçambicanas conseguiram da cooperação francesa uma bolsa para a corredora Leonor Piúza, que se encontra agora a treinar e a estudar nas Ilhas Reunião.

“Temos outros atletas em Portugal e na África do Sul, que apesar de se encontrarem nesses países a título particular, fazem parte dos planos de qualificação”, disse ainda o secretário-geral do CON.

Quanto às modalidades colectivas, principalmente futebol e basquetebol, as de maior expressão em Moçambique, nenhuma estará presente em Pequim, pois falharam a qualificação.

A delegação olímpica moçambicana, que será chefiada pelo vice-presidente do CON, António Munguambe, planeia deixar o país 20 dias antes do início da prova, a 8 de Agosto, e agendou um estágio pré-competitivo em Macau.

 

* Agência Lusa, Moçambique

 

A mão de José Craveirinha

 

Foi com relutância que a então adolescente Maria de Lurdes Mutola, nascida a 27 de Outubro de 1972 em Maputo, aceitou ingressar no mundo do atletismo. A paixão de “Lurdinhas”, a mais nova de dez irmãos da família Mutola, era então outra: o futebol, que jogava com os rapazes do seu bairro pobre de Chamanculo, distrito de Maputo, sul de Moçambique (onde vivia com o pai, um operário dos caminhos-de-ferro e a mãe, empregada doméstica, desde que emigraram de Inhambane na década de 70). A troca pelo atletismo aconteceu aos 15 anos, pela mão do conhecido poeta moçambicano José Craveirinha, cujo filho acabou por se tornar o primeiro treinador de Mutola. No início, “Lurdinhas” chegou a ponderar desistir, concluindo que o atletismo não era o seu desporto. O potencial que já lhe era então reconhecido precipitou os acontecimentos. A atleta chegou a estar na iminência de ingressar no Benfica, mas a transferência acabou por não se concretizar. Em 1991, no âmbito de um programa do Comité Olímpico Internacional, viajou para Oregon, nos Estados Unidos. Seguiram-se anos de altos e baixos em termos desportivos. O momento alto da atleta surgiu nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000, quando alcançou finalmente a medalha de ouro numa grande competição, batendo as suas duas principais rivais, Stephanie Graf e Kelly Holmes. Foi recebida em apoteose em Maputo.

Embaixadora da Juventude das Nações Unidas, desde 2003,  Maria de Lurdes Mutola tem procurado atrair mais jovens para o desporto, ajudando-os simultaneamente a alcançar os seus objectivos escolares, sendo este um dos principais desígnios da sua fundação.