Delta do Rio das Pérolas em grande transformação

Transformar o Delta do Rio das Pérolas na mais dinâmica região da Ásia até 2020. Este é a ideia base das “Linhas Gerais do Planeamento para a Reforma e Desenvolvimento da Região do Delta do Rio das Pérolas 2008-2020”. Trinta anos após o início da política de reforma e abertura, a China prepara-se para dar um novo impulso ao desenvolvimento da região que foi o motor para o crescimento económico nacional

 

Trinta anos de reformas económicas transformaram o Delta do Rio das Pérolas na fábrica do mundo. Em três décadas, uma economia rural deu lugar a milhares de unidades industriais que produzem têxteis, brinquedos e equipamentos electrónicos para exportação.

Agora é chegada a altura de uma nova transformação que deverá mudar a face económica desta região ao longo da próxima década. Guangdong vai deixar de ser um centro de produção de baixo custo para se assumir, até 2020, como uma potência económica capaz de competir nos mercados internacionais e de resistir a crises financeiras como a actual.

Até ao final da segunda década do século XXI, o Delta do Rio das Pérolas deverá investir na inovação, alta tecnologia, prestação de serviços e no sector financeiro.

O plano foi aprovado pelo Conselho de Estado que, no último dia de 2008, decidiu dar um novo rumo ao desenvolvimento do Delta do Rio das Pérolas, zona que abrange a província de Guangdong e as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong. Uma semana depois, o documento era publicado pelo Conselho Estatal para o Desenvolvimento e Reforma, permitindo compreender a escala da transformação proposta por Pequim.

O documento intitulado “Linhas Gerais do Planeamento para a Reforma e Desenvolvimento da Região do Delta do Rio das Pérolas 2008-2020” define esta zona como uma espécie de balão de ensaio para aprofundar a reforma da economia nacional e permitir uma maior abertura o mundo.

O Delta do Rio das Pérolas está hoje a sofrer os efeitos da crise financeira internacional e, em particular, a desaceleração dos tradicionais mercados de exportação. Por isso, o plano de Pequim prevê precisamente uma alteração do modelo económico permitindo que Guangdong deixe de depender em tão larga medida das exportações e passe a ser um “centro de inovação”.

O plano compreende a criação, até 2011, de cerca de cem laboratórios estatais para a inovação na área da engenharia, bem como da pesquisa e do desenvolvimento. Em 2012, deverão estar a funcionar entre três a cinco centros de desenvolvimento de alta tecnologia, cujo objectivo é gerarem 100 mil milhões de renminbis em produção industrial. A meta é conseguir que, em 2020, as indústrias de alta tecnologia representem, pelo menos, 30 por cento do produto do Delta do Rio das Pérolas.

Pequim entende que a continuação do desenvolvimento de Guangdong é essencial para a saúde económica nacional. O Delta do Rio das Pérolas e o Delta do Rio Yangtze constituem apenas 2,6 por cento da área da China, mas representam cerca de 30 por cento do produto interno bruto e cerca de 40 por cento do total das receitas fiscais.

Para manter a dinâmica de Guangdong, é fundamental uma maior integração com as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong. É nesse âmbito que se insere a construção da ponte que está avaliada em cerca de 40 mil milhões de renmimbis e que permitirá uma redução do tempo de viagem e dos custos de movimentação entre as duas margens do Rio das Pérolas.

 

Reforço com Hong Kong

 

O reforço das relações entre Macau e Hong Kong é considerado vital para o sucesso do processo de Reforma e Desenvolvimento da Região do Delta do Rio das Pérolas 2008-2020. Em Fevereiro passado, o secretário para a Economia e Finanças, Francis Tam, esteve em Hong Kong para a segunda reunião de cooperação ao mais alto nível entre as duas regiões administrativas especiais da República Popular da China. O interlocutor de Francis Tam foi o homólogo de Hong Kong, o secretário das Finanças, John Tsang.

Francis Tam defendeu que os dois governos devem realizar esforços conjuntos para enfrentar o impacto da crise financeira internacional e manter a estabilidade e desenvolvimento económico regional, bem como promover a cooperação bilateral em diversas áreas.

O secretário para a Economia e Finanças lembrou que o programa define claramente a cooperação estreita entre Guangdong, Hong Kong e Macau, principalmente no que diz respeito à articulação no domínio das grandes infra-estruturas regionais, bem como o seu reforço na área industrial e de melhoria da qualidade de vida da população, a par do aperfeiçoamento em termos da inovação.

“A divulgação e o implementação do referido programa é um factor muito favorável e uma oportunidade rara para reforçar a cooperação de Guangdong, Hong Kong e Macau” defendeu Francis Tam que afirmou que o Governo de Macau vai “planear as disposições e tomar medidas pragmáticas e eficazes para lhe dar resposta”.

 

Francis Tam adiantou que Macau vai participar nos projectos de cooperação relacionados com o desenvolvimento integrado de grandes infra-estruturas inter-regionais, dos sectores de turismo, exposições, convenções e serviços logísticos e da Ilha de Montanha, de melhoria da qualidade de vida da população e na definição conjunta do plano de desenvolvimento regional.

 

Geografia e números

 

O Delta do Rio das Pérolas inclui as cidades de Guangzhou, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Jiangmen, Dongguan, Zhongshan, Huizhou e Zhaoqing, além das regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong.

A economia enfrenta grandes dificuldades e Guangdong cresceu apenas 10,1 por cento no ano passado quanto em 2007 tinha crescido 14,7 por cento. O crescimento das exportações foi de apenas 5,6 por cento, quatro vezes menos do que em 2007.

Só no ano passado fecharam portas 62.400 empresas que levaram a que 600 mil trabalhadores migrantes tenham regressado às províncias de origem.

O Delta do Rio das Pérolas representa 10 por cento do produto interno bruto da China e gera 80 por cento do produto de Guangdong. A região emprega 30 milhões de trabalhadores migrantes, o que representa cerca de um quarto desta população a nível nacional.

O Delta do Rio das Pérolas é já a terceira maior área metropolitana do mundo, logo atrás de Nova Iorque e Tóquio, ficando à frente de Londres. Se Guangdong, Macau e Hong Kong fossem consideradas como uma única entidade económica, o seu produto interno bruto seria o quarto maior da Ásia, logo a seguir ao Japão, Coreia do Sul e Índia.

 

Macau prepara-se

 

O Governo da Região Administrativa Especial de Macau quer aproveitar ao máximo as potencialidades da cooperação regional nas seguintes áreas:

– Promoção da articulação das grandes infra-estruturas. Propõe-se o reforço da coordenação e cooperação entre Guangdong e Macau, procedendo à integração do planeamento urbanístico, redes de transporte ferroviário, informática e das bases energéticas, bem como das instalações de abastecimento de água urbana das duas partes. A construção da ponte ligando as duas margens do Rio das Pérolas é, por isso, essencial.

– Reforço da implementação do Acordo de estreitamento das relações económicas e comerciais entre o Interior da China e Macau (CEPA). O Governo pretende realizar concretizar os projectos pilotos de carácter experimental, consolidar a cooperação industrial e promover o desenvolvimento do sector de serviços, tais como, a logística internacional, as convenções e exposições, a cultura e o turismo. É neste âmbito que se inclui também a cooperação no domínio financeiro, apoiando o desenvolvimento das operações em renmimbi pelo sector bancário local através da utilização desta moeda para o cálculo e a liquidação das transacções comerciais relativamente a Macau;

– Consolidar o papel de Macau como um centro de turismo e de lazer a nível internacional. Pretende-se coordenar a oferta turística com as regiões vizinhas de forma a diversificar este sector. Um dos projectos passa por melhorar as medidas de “isenção de visto por 144 horas” de forma a facilitar a circulação de pessoas;

– Criar um novo mecanismo de cooperação entre Zhuhai e Macau. O Governo quer aproveitar o parque industrial transfronteiriço transformando-o num local favorável ao desenvolvimento da cooperação nas áreas de serviços e de tecnologia avançada. Pretende-se optimizar as potencialidades e capacidades de complementaridade das duas regiões, para que possam competir nos mercados internacionais;

– Empenhar-se em desenvolver a cooperação bilateral no domínio da alfândega. O Governo pretende alargar a reforma dos processos de passagem nos postos alfandegários; estudar mecanismos que permitam o reconhecimento recíproco e o uso comum dos resultados do controlo; reforçar a colaboração que visa combater as actividades de contrabando e proteger a propriedade intelectual;

– Construir um espaço verde com qualidade de vida na região do Grande Delta do Rio das Pérolas. O Governo quer colaborar na criação de políticas de energia limpa, pondo em prática, de forma progressiva, as medidas de utilização uniformizada de combustíveis menos poluentes em embarcações e automóveis, bem como de adopção de padrões mais rigorosos de controlo das emissões poluentes com o objectivo de melhorar a qualidade do ar da região do Delta do Rio das Pérolas. Pretende-se também desenvolver a reciclagem de lixo.

 

J. F. P.

 

A maior ponte do mundo

 

Depois de anos em discussão, o projecto da ponte entre Hong Kong-Macau-Zhuhai recebeu luz verde para avançar. Este é mais um passo rumo à aceleração da integração da região do Delta do Rio das Pérolas. As vias rodoviárias da ponte terão quase 30 quilómetros e passarão por um túnel com até sete quilómetros, escavado a 40 metros de profundidade. De acordo com previsões, o projecto custará mais de dez mil milhões de dólares norte-americanos (o Produto Interno Bruto de Portugal em 2007 fixou-se nos 232 mil milhões de dólares norte-americanos).

É já no final deste ano que as obras para a construção da mega-estrutura vão começar. A ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai deverá ter seis faixas de rodagem, uma velocidade de circulação máxima de 100 quilómetros por hora e assentará em uma ou duas ilhas artificiais para sustentar a estrutura. Num futuro próximo, ir de carro de Zhuhai para Hong Kong, levará cerca de 30 minutos.

Responsáveis pelo planeamento da sua construção garantem que as preocupações ambientais vão ser tidas em conta. Há regiões do Delta do Rio das Pérolas onde habitam os golfinhos ‘cor de rosa’ e toda uma flora e fauna aquáticas de grande interesse.

Macau e Hong Kong, regiões administrativas especiais da China e Zhuhai, zona económica especial da China, juntam esforços com o Banco da China para o financiamento do projecto. O consórcio bancário à frente do empréstimo ainda não é conhecido, nem as condições do empréstimo. A ponte terá portagem – é um dado seguro – e o Banco da China mostrou-se disponível para liderar um empréstimo de 22 mil milhões de renmimbis (3,2 mil milhões de dólares norte-americanos).

Hong Kong deve contribuir com 50,2 por cento do valor do custo, Macau com 14,7 por cento e Guangdong com os restantes 35,1 por cento.

O projecto deverá estar concluído em 2016 e totalmente pago num prazo de 35 anos. Prevê-se que a estrutura seja utilizada, no ano em que for concluída, por até 14 mil veículos por dias e, em 2035, por 250 mil pessoas e 60 mil veículos diariamente.

 

Objectivos até 2020

 

– Desenvolvimento de duas ou três cidades que serão centros de serviços

– Criação de dez empresas multinacionais com volume de negócios anual de 20 mil milhões de dólares norte-americanos

– Criação de dois ou três fabricantes de automóveis com volume de negócios anual de 14,6 mil milhões de dólares norte-americanos

– Construção de três mil quilómetros de auto-estradas

– Construção de mil quilómetros de linha férrea

– Construção da ponte entre Hong Kong, Macau e Zhuhai

– Aumento do PIB per capita de sete mil dólares para 20 mil dólares norte-americanos

– Aumento da esperança de vida para 78 anos

– Criação de um sistema de segurança social que abranja 95 por cento da população urbana, 80 por cento dos trabalhadores migrantes e 60 por cento dos trabalhadores rurais.