Olá Mundo!

Entre 1 de Maio e 31 de Outubro todo o mundo cabe em Xangai, cidade em que se realiza, até agora, a maior exposição universal da História. “Cidade Melhor, Vida Melhor” é o tema de uma exposição em que participam todos os países representados nas Nações Unidas

 

Situada à beira do rio Huangpu, entre as pontes Nanpu e Lupo, a expo estará no centro da maior cidade da China. A área, que ocupa 5,28 quilómetros quadrados, estende-se a este do rio, oferecendo assim uma vista panorâmica do skyline da cidade.

As boas-vindas têm sido dadas ao longo dos últimos meses pela mascote oficial da Expo, o Haibao, cuja forma é inspirada no carácter chinês 훙 (ren), salientando assim a centralidade dada ao ser humano no contexto do espaço urbano moderno e sustentável. Além do homem e o seu meio, a exposição releva igualmente a universalidade e o cariz cosmopolita da nova China e especialmente da cidade capital económica do país. O próprio logo da organização é inspirado no carácter 各 (shi), que significa mundo, época, experiência de vida.

A Expo Xangai 2010 tem um orçamento de 28,6 mil milhões de renminbis, contando com a participação de 200 países, um recorde em comparação com edições anteriores da expo.

Esta pretende ser não apenas a maior Expo de sempre, mas também a mais amiga do ambiente. Na avenida onde se localiza a Expo estarão oito imensas “cornetas” de metal criadas para captar a luz solar e para a levar ao subsolo, além da recolha de água da chuva que servirá para encher as cisternas das casas de banho e regar as áreas verdes, que cobrem um terço do espaço. Além disso, para a iluminação serão utilizadas exclusivamente lâmpadas que consomem pouca energia eléctrica. A água do rio Huangpu será utilizada para os sistemas de ar condicionado, com uso frequente numa cidade em que a temperatura no Verão sobe até os 35 graus.

A exposição será não apenas amiga do ambiente, mas também em ambiente de festa permanente.

Estão planeados mais de vinte mil espectáculos, a uma média de cem por dia. Além dos espectáculos de cor e luz que as imagens digitais vão projectar, haverá um leque variado de exibições, peças de teatro originais, espectáculos temáticos e tradicionais, e muitos concertos em pequenas praças. Depois, cada pavilhão vai celebrar um dia nacional e cada organização internacional terá o seu dia de honra.

As províncias, regiões e municípios da China vão estar em grande destaque ao longo dos seis meses. Será dedicada uma semana a cada região e província com o objectivo de promover a diversidade e riqueza cultural e económica das várias partes de um país que, depois de ter impressionado o mundo com os Jogos Olímpicos de Pequim 2008, se prepara para reflectir em Xangai o melhor dos vários mundos.

 

Xangai dá-lhe as boas-vindas

 

Quando a Expo 2010 abrir as portas em Maio, Xangai estará entre as cidades mais bonitas da China. “Melhor cidade, melhor vida” foi o lema a inspirar a renovação daquela que é a capital financeira do país

 

Perder-se nas ruas antigas a apreciar os recantos e as janelas ou perder-se a tentar contar o número de andares de mais um dos arranha-céus da cidade, Xangai deixa espaço para ambos. Espreitamos para dentro dos portões das casas térreas de arquitectura de estilo europeu ou divagamos a olhar na direcção do céu numa tentativa de contar os andares de um dos edifícios mais altos do mundo. Oitenta, oitenta e um, oitenta e dois, oitenta e três e continua.

Há quem lhe chame uma China com um toque de Europa mas Xangai é mais do que isso. É uma cidade marcada pelo encontro entre o Oriente e o Ocidente e que cresceu no século XX a acompanhar a fundação da China moderna. Escolhida para receber a Exposição Internacional, a Expo 2010, passou nos últimos anos pelo maior processo de recuperação e transformação. E quando a 1 de Maio se abrirem ao público as portas da Expo 2010, o visitante vai poder apreciar uma cidade rejuvenescida.

 

Um passeio pela história

 

Como um dos principais portos do país, Xangai tem um claro orgulho no seu cosmopolitismo. Marca dos muitos anos de contacto com estrangeiros, cresceu entre as duas margens do rio Huangpu e hoje divide-se geograficamente pelo Este ou Oeste do rio, zonas chamadas de Pudong e Puxi, respectivamente.

Num percurso pela história da cidade começa-se a visita por Puxi, a margem Este do rio.

A arquitectura proporciona-nos o bilhete de uma viagem pelo tempo.

Xangai recebeu os primeiros estrangeiros ainda no século XIX. Ingleses e franceses estabeleceram-se na cidade dando início àquela que foi a primeira grande transformação arquitectónica de Xangai. Numa volta pelos bairros mais antigos, o visitante pode apreciar ainda algumas casas que remontam ao final de 1800 e que são hoje património da urbe.

Desde que em 2002 Xangai foi escolhida como cidade anfitriã da Expo 2010, muitas zonas da cidade entraram em processo de recuperação. Bairros inteiros foram renovados e muitos prédios foram aproveitados para comércio. Hoje algumas das lojas mais modernas da cidade encontram-se entre as ruas estreitas mais antigas.

A área de Puxi guarda uma arquitectura de décadas e é o sítio ideal para perceber as influências estrangeiras de Xangai. No bairro chamado “Concessão francesa” aparecem alguns dos mais bonitos traços de construção que evidenciam as influências que chegaram de toda a Europa. Uma cidade plana, Xangai dá vontade de se caminhar a pé. Porém, como uma das maiores urbes da China, exige seguramente um mapa.

Numa tradição de Xangai, as ruas da cidade velha são como que decoradas pelos estendais de roupa. A fazer uso do sol da cidade, os habitantes estendem a roupa lavada nas longas canas de bambu que ocupam metade da rua. Passeia-se entre as sombras criadas pela roupa dos vizinhos numa demonstração do hábito de vida em comunidade que sempre classificou a cultura chinesa.

Puxi guarda também as casas daquelas que foram algumas das figuras mais relevantes da história da China. Nomes que vão desde o presidente Mao Zedong até à Madame Song Qingling, esposa de Sun Yatsen, o fundador da república em 1911, e uma das primeiras mulheres na política chinesa. As habitações foram convertidas em museus excelentemente conservados para fazer lembrar a vida daqueles que as habitaram.

Desde o local do primeiro encontro do Partido Comunista da China, fundado em 1921, até à casa de um dos mais influentes escritores do início do século passado, Lu Xun, podemos visitar a cidade pela história recente. Só que Xangai tem muito mais para ver, dir-nos-á qualquer habitante. Ao lado de galerias de arte e casas museu, Puxi guarda também os templos e jardins mais antigos da cidade.

Yuyuan é um jardim construído no século XVI seguindo a inspiração da dinastia Ming. Reconstruído no século passado, é agora um dos principais pontos turísticos com uma oferta de restaurantes onde se podem provar os mais famosos pratos da cidade.

Centenas de pessoas visitam Yuyuan diariamente e aos fins-de-semana o número pode chegar aos milhares.

Outra das atracções da cidade é o Templo do Buda de Jade onde ainda vive uma grande comunidade de monges budistas. Embora construído no início do século passado, o templo foi concebido segundo a arquitectura da dinastia Song que durou do século X ao século XIII. Além da sala dos Mil Budas, a imagem do Buda de Jade com dois metros de altura conquista os visitantes. O templo proporciona ainda a experiência de comer num restaurante vegetariano dirigido pelos próprios monges. O sucesso desta espécie de cantina de templo chega para atrair não só os turistas de passagem mas também os moradores de Xangai.

Durante os seis meses que vai durar a Expo 2010, Xangai espera receber até setenta milhões de visitantes. No entanto, este é um número talvez calculado por baixo porque a inovação que se vai viver naquela que vai ser a maior feira internacional organizada é suficiente para trazer mais gente.

Na Praça do Povo, a maior praça no centro da cidade, o Museu do Planeamento Urbano, mesmo ao lado do Museu de Xangai, mostra através de uma maqueta gigante o tamanho colossal da cidade. Um dos centros da urbe, a Praça do Povo oferece ainda o museu “Madame Tussaud” de Xangai onde à entrada a estátua em cera do jogador de basquetebol Yao Ming, natural de Xangai, faz as delícias de quem passa para ver “ao vivo” a altura real do jogador com 2,29 metros.

 

A passadeira do Bund

 

O rio Huangpu percorre Xangai e os dois lados unem-se pelas pontes da cidade. Do lado Puxi, olhando para o outro lado do rio, entende-se a modernidade que caracteriza Pudong. A torre da Pérola Oriental, um ícone da cidade, ilumina-se à noite mostrando a sua estrutura redonda assente sobre um tripé gigante. Ao lado, o edifício do Centro Financeiro concorre com a torre Jinmao em altura. Com 492 metros, o Centro Financeiro, terminado em 2008, integra a lista dos mais altos do mundo. Para quem não tem medo de alturas, é possível subir ao topo da torre e num dia de céu limpo apreciar toda a vista de Xangai banhada pelo Huangpu.

Naturalmente, a melhor forma de apreciar Pudong é estar em Puxi e olhar para o outro lado do rio. Renovado também este ano, o Bund é uma passadeira de quilómetros de comprimento que segue no lado Este do rio. É um passeio que se faz entre dois tempos e dois séculos. Em Puxi junto ao rio erguem-se os edifícios, hoje todos recuperados, do início do século XX quando os primeiros bancos estrangeiros se estabeleceram na China. Influências neoclássicas pintam um cenário que à noite se ilumina e encanta quem por ali passeia.

O Bund é a imagem mais fotografada de Xangai. De um lado do Huangpu surgem os edifícios de estilo europeu e, do outro, algumas das mais modernas construções de Xangai. A diferença não significa contradição. Com passeios que vão de uma até três horas, vários barcos atravessam o Huangpu de dia e de noite.

Para passar de um lado ao outro do rio, as pontes são apenas um dos canais de comunicação. A mesma viagem pode fazer-se por barco ou, desde há um ano, pelo túnel do Bund, num comboio que passa debaixo de água e que durante uns minutos proporciona uma viagem animada por música e ecrãs iluminados. Verdadeira inovação de Xangai, o túnel do Bund mostra a vanguarda da inovação tecnológica da cidade.

A aposta nos meios de multimédia tem sido outra parte da transformação da cidade. Xangai dispõe dos museus mais inovadores do país que continuam a cativar milhares de turistas por ano.

À noite, Xangai ilumina-se como mais nenhuma cidade na China. As várias vias rápidas elevadas estão coloridas com luzes em azul e vermelho criando um efeito visual único para quem as olha de fora.

Com a maior população do país, estimada em 18 milhões de pessoas, Xangai ocupa o primeiro lugar nos centros de negócios da China. Pudong é o sítio por excelência para as grandes companhias internacionais e nacionais. O ritmo acelerado da cidade sente-se nas duas margens do rio mas, ao contrário de Puxi onde as ruas antigas podem tornar-se verdadeiros labirintos dentro de bairros, em Pudong privilegiaram-se as avenidas largas.

 

Melhor cidade, melhor vida

 

A requalificação urbana da cidade, parte do projecto da Expo 2010, obedeceu ao princípio de tornar Xangai um melhor sítio para viver. Como uma cidade que coexiste nos dois lados do rio, a feira internacional aproveitou este facto para a localização e vai usufruir das duas margens.

Quando chegar o Verão, na passadeira do Bund vão crescer as esplanadas e restaurantes à beira rio. Ao amanhecer – momento ideal para conhecer Xangai antes do bulício das horas de trabalho -, juntam-se nos parques e em frente ao rio, dezenas de pessoas que escolhem a manhã para a prática de tai-chi. No silêncio dos parques e do rio ao amanhecer, ouvem-se apenas os movimentos lentos e sincronizados dos praticantes.

Mais espaços verdes e menos trânsito já fazem parte de uma tendência mundial para tornar as cidades mais amigas do homem e do ambiente. Em Xangai, os parques continuam a ser local de encontro para muitos habitantes que ali vão passar o dia, jogar mahjong ou passear os seus pássaros. A sintonia entre a cultura chinesa e a vida dos parques observa-se um pouco por todo o país e Xangai não é excepção. No Parque do Povo juntam-se todos os dias centenas de amigos e conhecidos que encontram ali um sítio sossegado para ouvir os seus pássaros cantar e comparar os sons de cada um.

Preparada para turistas, a área da cidade antiga pode ser percorrida de bicicleta. Durante o tempo da Expo 2010, em vários locais vai ser possível alugar uma bicicleta para pedalar por Xangai. A diminuição do trânsito está prevista como forma de facilitar os passeios daqueles que querem conhecer Xangai este ano.

Entre Pudong e Puxi, dois séculos de história e dois ritmos de vida, as duas margens do rio vão decerto agradar aos visitantes. A população de Xangai já habituada a lidar com o turismo da cidade, facilita a integração. O orgulho de viver numa das cidades mais modernas do país é fácil de perceber. Numa competição saudável e já com muitos anos de existência, os naturais de Xangai defendem a sua casa por contraposição a Pequim. E este ano têm razão para dizer – “é em Xangai que tudo acontece”.