Texto Cláudia Aranda | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro
São já dez anos a divulgar o talento dos criativos de Macau e ao lançar o tema da exposição do 10.º aniversário, Make a Wish, o objectivo foi “desejar boa sorte, um futuro risonho, para continuamos a fazer mais e melhor”, explica Lúcia Lemos, coordenadora do Centro de Indústrias Criativas – Creative Macau (CCI, na sigla inglesa). A exposição vai ser inaugurada dia 28 de Agosto na galeria do CCI, situada no edifício do Centro Cultural de Macau. Está também previsto o lançamento na mesma ocasião de um livro comemorativo dos dez anos, contendo o historial de exposições e eventos.
Agora que passou-se uma década a acreditar na criatividade local e a divulgá-la, o CCI aproveita a exposição do 10.º aniversário para também “olhar para trás numa retrospectiva e avaliar se vale a pena continuar nestes moldes, ou em moldes mais arrojados”. Também, “no sentido de desejar o melhor para as indústrias criativas, para que saiam desta letargia e para que passem da letargia à acção”, acrescenta Lúcia Lemos.
O CCI é uma organização sem fins lucrativos criada e gerida pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM) para promover o desenvolvimento das indústrias criativas da RAEM, incentivar a mão-de-obra criativa local, apoiar o seu reconhecimento internacional e facilitar o desenvolvimento cultural. O projecto começou a desenhar-se em 2002, ano da liberalização da indústria do jogo em Macau e do início do boom da construção dos casinos. A ideia era aproveitar o “momentum” económico e criar uma plataforma de ligações para gerar contactos entre criativos, agentes, investidores e empresários, explica Lúcia Lemos. Nestes dez anos, mais de 560 criativos residentes de Macau e inscritos no CCI participaram em exposições colectivas e individuais, aproveitando a “plataforma de lançamento e de reconhecimento” que a organização oferece.
A instituição continua a promover e divulgar o trabalho dos criativos locais, residentes permanentes ou temporários ou que tenham uma base permanente em Macau e que estejam empenhados em entrar no mercado das artes e indústrias criativas. “Encorajamos os nossos participantes a criarem trabalho novo, convidando-os a participar em exposições, seminários, concursos, workshops ou em feiras de indústrias criativas e culturais fora de Macau”, realça a coordenadora do projecto. O CCI organiza pelo menos uma exposição individual por mês e duas a três colectivas por ano. Lúcia Lemos explica que as mostras de grupo constituem boas oportunidades para artistas emergentes desenvolverem e mostrarem capacidade artística, lado a lado com artistas de renome. Depois de participarem com uma ou duas peças numa mostra colectiva, o CCI incentiva os artistas a desenvolverem “um corpo de trabalho” mais extenso e a participarem em mostras individuais, de modo a exibirem a sua capacidade e potencial artístico.
Ver e ser visto
A coordenadora do CCI refere que, no entanto, faz ainda falta em Macau estruturas destinadas ao ensino de Belas Artes e de design “que ponha artistas a trabalhar e que ofereça espaços” para que se idealizassem projectos. “Não é só ter estúdios individuais, a pessoa também precisa de fazer trabalho colectivo, precisa de estar sempre a aprender e é necessário esse convívio, essa confrontação. O artista emergente tem receio de mostrar o seu trabalho, é preciso ganhar coragem para se expor”, diz Lúcia Lemos. Portanto, o CCI acaba por funcionar como “um motor de confiança” para os artistas.
Para Gonçalo Oom Saldanha, arquitecto, regressado recentemente a Macau, o CCI constituiu uma oportunidade “para aparecer” e para “criar laços com outros artistas”. Mas, sobretudo, ofereceu-lhe oportunidades para expor a sua criatividade na área do design de objectos – “fui criando obras em part-time”, que foram já expostas no CCI em diferentes ocasiões. João Magalhães, português, filho de pais macaenses, conta já com um percurso bastante internacionalizado, apesar de ainda breve. Na obra que vai expor no CCI expressa o desejo de que “a arte em Macau ganhe mais reconhecimento” e que haja mais oportunidades de “expor e estudar fora” para os jovens artistas estabelecidos no território. Para a portuguesa, Sofia Arez a exposição Make a Wish será a primeira oportunidade de expor no CCI. A artista reúne já um extenso currículo construído em Portugal. No entanto, recém-chegada a Macau, tenciona usar todas as oportunidades para conhecer e dar-se a conhecer localmente e na região.
Make a Wish promete assim reunir um conjunto bastante heterogéneo de obras e artistas nas diversas áreas criativas. Inclui trabalhos de artistas emergentes, como é o caso do jovem fotógrafo nascido em Macau, Tang Kuok Hou. E de artistas com um trabalho consistente, apesar de muito recente, como é o caso da parisiense Armelle, que expôs em 2012 no CCI uma série de bem-humoradas fotomontagens de Macau. Também participam na exposição artistas já com grandes níveis de reconhecimento no território, como é o caso do australiano Denis Murrell, a residir na cidade há 25 anos e cujas obras integram colecções públicas e privadas em Macau e no estrangeiro.
Dar o salto
“Este é um projecto que tem uma visibilidade notável a nível internacional. Eu diria que é talvez a marca mais relevante das indústrias criativas para quem está de fora”, refere Álvaro Barbosa, director da Faculdade de Indústrias Criativas da Universidade de São José, em Macau, e com um percurso profissional e académico bastante sólido na área do design e do audiovisual. Álvaro Barbosa, que também participa na exposição colectiva Make a Wish com uma obra que antecipa uma mostra individual prevista para Janeiro de 2014, acredita que o CCI e Macau têm um grande potencial internacional. Falta ainda dar o salto para o exterior.
O especialista em design enaltece o trabalho do CCI do ponto de vista da imagem externa, resultado de uma “boa presença online”, e da sua boa capacidade de estabelecer um “networking” e gerar contactos, sendo por isso uma organização que é “central no panorama das indústrias criativas”. Álvaro Barbosa chama a atenção, no entanto, para a necessidade de haver uma maior abertura ao exterior e para um maior intercâmbio com artistas de fora. Estas medidas poderiam ser contrabalançadas com apoios à internacionalização dos artistas locais, por forma a assegurar um crescimento sustentável da cultura local a médio e longo prazo. Entretanto, da parte do CCI, “começa a haver alguma abertura no sentido de potencializar o seu capital de internacionalização”, refere o artista, dando como exemplo o concurso Sound & Image Challenge Worldwide, destinado a profissionais e amadores locais ou estrangeiros com competências no domínio da imagem animada.
O arquitecto Adalberto Tenreiro, que já participou em sete exposições colectivas e uma individual no CCI e marca agora presença com uma obra, sublinhou também a importância do intercâmbio entre artistas locais e não locais. O artista, que reside e trabalha em Macau desde 1973, refere ainda a necessidade de se criarem espaços de trabalho para os criativos e novas formas de canalizar as obras para os mercados de arte.
A promoção e o desenvolvimento das indústrias culturais e criativas é uma das prioridades políticas de interesse estratégico para a diversificação adequada da economia local do Governo da RAEM. O Executivo atribuiu competências ao Instituto Cultural através do departamento de promoção das indústrias culturais e criativas, para a formulação de políticas e estratégias de desenvolvimento do sector. Neste contexto, tanto Lúcia Lemos como Álvaro Barbosa sugerem a criação de uma estrutura governamental dedicada à promoção activa da imagem externa de Macau e à potencialização do seu capital criativo a nível internacional. “É preciso inovar a imagem de Macau e todos nós trabalhamos para isso, para que Macau seja mais do que um lugar conhecido apenas pela indústria do jogo”, afirma a coordenadora do CCI. Mas tem que ser um trabalho realizado “de forma consistente” e “em grandes quantidades”, para mostrar que há talentos em Macau e, para isso, é necessário “o apoio do governo”, conclui Lúcia Lemos.