O doce triunfo de Leong

Como um empreendedor de Macau passou de vendedor ambulante a magnata do apetitoso mercado local de recordações, à frente da rede de pastelarias Koi Kei

 

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Texto Cecília Lin | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Um pouco por todo o mundo, o galicismo souvenir tornou-se a palavra usada por turistas e vendedores para descrever a miríade de produtos característicos de cada local. Porque não basta visitar, é preciso trazer uma recordação típica para juntar às fotos no regresso a casa. Em Macau, recordações e souvenirs têm outro sinónimo: Koi Kei.

Em 2011, um estudo da Universidade de Macau calculou que a rede de pastelarias Koi Kei facturava 70 por cento do mercado de souvenirs em Macau. Segundo o presidente da marca, esse valor está hoje em 74,3 por cento. Embora recuse dizer a quantas patacas corresponde a percentagem, reconhece que os lucros aumentam todos os anos.

Há outro dado, porém, bastante revelador: um passeio de fim-de-semana, pelas ruas apinhadas de gente na zona central do Largo do Senado, mostra uma imensidão de turistas carregando os inconfundíveis sacos da Koi Kei. Dos crepes chineses aos biscoitos de amêndoa, os visitantes são incapazes de resistir aos souvenirs mais típicos de Macau. E a Koi Kei tem a selecção completa.

O presidente e fundador da Pastelaria Koi Kei chama-se Leong Chan Kuong. Congratula-se naturalmente com o sucesso actual da empresa, mas ao contar a sua aventura à MACAU sublinha que o início foi duro. “Comecei a vender numa banca de rua, em 1986, na Travessa do Auto Novo.” A economia de Macau estava longe da pujança de hoje. Por isso, quando Leong foi contar ao pai os seus planos de expansão para o negócio da família, tentando convencê-lo a abrir uma loja a sério, foi recebido com cepticismo. “O meu pai achou que era uma ideia irrealista.” Os dois irmãos também se mostraram descrentes.

Mesmo sem o apoio da família, não esmoreceu. Agarrado à sua convicção, deu o salto sem rede quando vendeu o apartamento e pediu aos amigos todo o dinheiro emprestado que conseguiu. Finalmente, em 1997, abriu a primeira Pastelaria Koi Kei na “sua” Travessa do Auto Novo.

 

Ideia vencedora

Com muito trabalho – ainda hoje Leong diz que só dorme quatro horas por dia, trabalhando o resto do tempo sem nunca tirar férias – superou as dívidas, mas os desafios para impor uma nova marca iam além dos aspectos financeiros. Além disso, o seu objectivo não era ganhar dinheiro para sobreviver, mas sim expandir um negócio em que acreditava como ninguém.

Sendo a Koi Kei uma novidade na área dos souvenirs, a sua reputação era obviamente nula. E Leong era especialista em doces de amendoim (aprendera em miúdo com o pai), não a gerir uma loja, o que fazia pela primeira vez. No entanto, tinha a seu favor duas qualidades imbatíveis: capacidade de trabalho e facilidade de aprendizagem. Depressa estendeu a gama de produtos dos doces de amendoim para pastelaria e biscoitos de amêndoa, carnes secas e crepes chineses.

A loja ia ganhando clientes, mas faltava algo que fizesse a diferença, conseguindo destacar a marca da competição. Foi então que Leong aplicou a sua terceira qualidade mais evidente: imaginação. O impulso criativo aparentemente simples, obteve grande sucesso: trazer o processo de produção dos doces e snacks para a loja, à vista de toda a gente. Os clientes adoraram poder observar os pasteleiros a fazer biscoitos de amêndoa e outras iguarias à sua frente, o que ainda hoje sucede. A ideia tornou-se uma referência da Koi Kei, ganhando popularidade extra porque os clientes também associaram o “show da criação dos doces de amêndoa” à frescura dos produtos da marca.

A loja ganhou fama e começou a ser procurada pelos turistas. Agarrando a oportunidade, Leong lançou o segundo espaço em 1999. Hoje, com mais de 600 empregados, tem 17 lojas em Macau, sete em Hong Kong, uma em Singapura e planos permanentes de expansão.

 

Receita de êxito

“A qualidade dos produtos é a razão principal do meu sucesso”, diz o presidente da Koi Kei. Garante ainda que, por muito ocupado que esteja, insiste sempre em provar os seus produtos todos os dias, para fazer um controlo de qualidade na primeira pessoa. Aliás, no que diz respeito ao controlo de qualidade tem uma equipa de dez pessoas, onde além de ele se inclui também um dos dois irmãos (ambos vieram trabalhar para a Koi Kei). “Os dez membros trabalham há pelo menos seis anos na Koi Kei e têm uma grande sensibilidade de gosto. Nenhum de nós está em exclusivo nesta área, todos acumulamos outras funções.”

Para dar resposta ao elevado consumo, a empresa produz em grande escala (só biscoitos de amêndoa são mais de quatro milhões por dia). Claro que para atingir números desta dimensão são necessárias linhas mecanizadas, mas Leong explica que, apesar de produzir menos, nunca quis que a produção fosse toda automatizada. Para obter a qualidade que deseja, mantém alguns procedimentos fora das máquinas, ficando ao cuidado de empregados especializados. Uma parte mais pequena da produção, cerca de dez por cento, é totalmente feita à mão, com a devida referência nas respectivas caixas postas à venda. Ainda assim, ele afirma que, em termos de sabor, não se nota diferença.

A origem dos ingredientes é outra das linhas de força da rede. Segundo Leong, são cuidadosamente seleccionados em todo o mundo. Por exemplo, as amêndoas são dos Estados Unidos, a farinha do Japão e o açúcar da Coreia do Sul. Se por algum motivo houver uma falha no fornecimento dos ingredientes de eleição – já aconteceu – ele suspende a produção em vez de arranjar ingredientes de substituição. “Nunca irei comprometer o nível de qualidade que atingimos com os nossos produtos.” Pelo contrário, a empresa está constantemente à procura de melhores ingredientes. “Uma vez o meu irmão quase morreu por causa disso. Tinha ido às montanhas da província de Yunnan para trazer nozes e ficou muito mal com a doença da altitude. Felizmente recuperou e trouxe as nozes, que eram fantásticas.”

A Koi Kei aumenta regularmente o seu portfólio de produtos (são já mais de 200). No início tinha apenas snacks típicos de Macau, mas agora inclui produtos tradicionais da China, de Portugal e até do Japão.

 

Museu de souvenirs

“Não aguento ficar parado, mesmo quando descanso estou sempre a pensar em novas ideias.” Leong aponta como exemplo a aposta no design das caixas e embalagens dos  seus produtos ou a decoração das lojas. Investimentos pouco vistos nesta área de negócio, em particular no que diz respeito a Macau. “Pode parecer estúpido aos olhos dos meus concorrentes, devem achar que a aparência da loja não tem nada que ver com os lucros. Para mim tudo tem que estar perfeito e a aparência das coisas faz parte dessa perfeição.”

O seu entusiasmo transborda do negócio para o mercado global de souvenirs em Macau e, também, para a terra que o acolheu. “Nasci em Foshan, na Província de Guangdong, mas cresci em Macau e amo este lugar.” Uma prova do seu amor foi a abertura do Museu de Souvenirs, perto do Templo de A-Má. “É uma forma de os turistas e os habitantes locais conhecerem um pouco da história daquilo que compram como recordação. E do que foi preciso fazer para chegar onde estamos agora.”

 

Cinco estrelas

São cinco os produtos mais vendidos da Koi Kei, sendo os seus preços calculados todos os anos, conforme a variação nos custos da mão-de-obra e dos ingredientes:

  • Biscoitos de amêndoa
  • Bolinhos de amêndoa
  • Doces de amendoim
  • Crepes chineses
  • Carnes secas