MIECF 2014: Primavera de ideias verdes

Mais de 400 empresas oriundas de 20 países e territórios participaram na sétima edição do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau, uma montra diversificada de ideias ‘verdes’ à espera de saírem do papel.

 

 

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Texto Diana do Mar | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Da simples reciclagem ao tratamento de águas residuais, passando por casas e viaturas ecológicas, até sofisticados sistemas de poupança energética, o Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF, na sigla inglesa) fez convergir em Macau propostas e soluções “verdes” ao longo de três dias. Mais de 400 empresas provenientes de 20 países e territórios participaram no evento, procurando agarrar as oportunidades de negócio que o ambiente proporciona.

Do universo lusófono, Portugal foi o único a fazer-se representar por uma comitiva empresarial – a maior de sempre. O secretário de Estado do Ambiente, Paulo Lemos, também participou no MIECF, liderando uma delegação composta por cinco empresas do sector dos resíduos.

A Empresa Geral de Fomento (EGF), unidade de negócios da Águas de Portugal, e a Sociedade Ponto Verde foram duas das 24 empresas portuguesas presentes, ambas estreantes no MIECF, para dar a conhecer experiência adquirida ao longo de duas décadas. À missão de mostrar o trabalho levado ao nível dos resíduos e recolha selectiva de lixo, a EGF chegou a Macau também a pensar em despertar o interesse na própria empresa, a qual se encontra em processo de privatização.

“Temos conhecimento de que há duas ou mais empresas chinesas interessadas. Enfim, [viemos] avaliar a possibilidade de entrarem na privatização – é um pouco essa a expectativa”, disse Artur Cabeças, da EGF. Já a Sociedade Ponto Verde veio mostrar “o papel extremamente importante na área de fluxo de resíduos de embalagem” que levou a cabo em Portugal e, quem sabe, “ajudar a montar algo semelhante”, afirmou o seu director-geral, Luís Veiga Martins. Porém, “tudo depende da iniciativa ao nível do Governo” de Macau, já que a reciclagem não está actualmente muito desenvolvida mas poderá vir a estar “se todos os actores estiverem juntos no mesmo objectivo de maximizar os materiais de embalagem – o vidro ou mesmo o plástico”.

Focalizada na comunicação e educação para o desenvolvimento sustentável, a Formato Verde – com presença em Moçambique, Angola e Cabo Verde – também fez a sua estreia no MIECF, mas no quadro do seu processo de internacionalização. “Pareceu-nos que [Macau] seria interessante não só para reforçar essas relações mas também porque nos projectos internacionais muitas vezes procuramos parceiros e temos muita dificuldade em encontrá-los na Ásia”, explicou o seu director, Miguel Laranjo, para quem “Macau pode ser uma boa porta de entrada no sentido de encontrar esses parceiros para os projectos de cooperação internacional”, os quais contam com financiamento nomeadamente do Banco Mundial.

Já uma certa estranheza despertou o trio de guitarras portuguesas pintadas à mão patentes num dos expositores do MIECF, que chegaram pela mão da Artimúsica, uma empresa de Braga dedicada ao fabrico de instrumentos de corda tradicionais. “Não tem nada a ver com o ambiente, mas o facto é que os instrumentos são fabricados tendo já em consideração todos os factores ambientais aplicados à indústria no que respeita à eficiência energética, ambiental, gestão de recursos de materiais e já estão optimizados e essa é que é a relação” com o MIECF, explicou o consultor da Artimúsica, José Peixoto.

“No fundo [viemos] para apalpar, ver como funciona o mercado (…) e, por incrível que pareça, já se estabeleceram alguns contactos”, disse, sublinhando que só por essas “manifestações de interesse” cumpriu-se o propósito da visita a Macau. Tentar arranjar fornecedores para um componente específico da guitarra – alguns são maquinados –, bem como vendê-las nomeadamente através de um representante eram outros dos propósitos da missão. A Artimúsica participou pela primeira vez por via da Associação de Jovens Empresários Portugal-China no certame, onde pelo menos uma das guitarras portuguesas em exibição foi vendida por 2500 euros (cerca de 27.500 patacas), comprovando-se o fascínio pelo fado a Oriente.

 

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Vender produtos e explorar conceitos

Mas nem só de fora chegam ideias inovadoras. Apesar de ter nascido há menos de uma década, a Energy Greenway, uma empresa com capital exclusivamente local, teve oportunidade de ver a sua criatividade aplicada à protecção do meio ambiente mas no Interior da China, onde tem uma filial e fez a sua carteira de clientes.

“A Energy Greenway utiliza tecnologia no tratamento da água das piscinas que substitui o cloro, que faz mal à saúde”, explicou o director-geral, John Ramos, dando conta de que pioneiro sistema foi aplicado numa piscina de Cantão, cuja água pode, inclusive, ser consumida. “Talvez venhamos a falar, este ano, com o Governo de Macau no sentido de aplicar o conceito em piscinas públicas”, indicou.

No portefólio da empresa, ligada a outras unidades, como a Sun Tech Energy Saving Techonology, existem outras inovações. John Ramos destaca um sistema que permite ver indicadores do ambiente em tempo real, numa espécie de check up. O conceito, originário de Taiwan, onde têm um parceiro, recorre ao Google Maps para analisar o consumo de uma propriedade, criando ainda a possibilidade de se saber, por exemplo, que equipamentos são eficientemente energéticos e calcular o tempo necessário para se obter o retorno do investimento em dispendiosos materiais ‘amigos do ambiente’.

Já a Key Source Limited, com sede no Interior do País, participou no MIECF pela segunda vez, com o objectivo de mostrar as inovadoras técnicas da CISCA, da Holanda, com quem tem uma parceria, e, claro, de introduzi-las em Macau. Mickey Ho, administrador-geral da empresa, esteve literalmente à porta de uma casa, de microfone na mão, a explicar às ‘visitas’ os conceitos por detrás do design, concepção, construção e utilização da casa totalmente ecológica montada no recinto do MIECF, onde, aliás, encontrou, na edição anterior, o seu parceiro local. “Vim para introduzir o conceito aos proprietários para que mais residentes de Macau saibam como é uma casa ecológica e as soluções que apresentamos”, disse. Já a Hongcai, que respondeu pela primeira vez à chamada do MIECF, exibiu uma panóplia de produtos de plástico biodegradáveis fabricados em Shenzhen, explicou Joyce Leung, comercial da empresa com mais de dez anos, que estendeu a sua actividade a Macau, Malásia e a Singapura.

E se expositores procuraram oportunidades para o seu negócio, outros serviram apenas o propósito de mostrar conceitos, como o que está por detrás do primeiro edifício com zero emissões de carbono de Hong Kong.

O certame atraiu 9245 visitantes, foi palco de 800 bolsas de contacto e fechou com a assinatura de um total de 26 protocolos, contra 41 firmados em 2013. Os acordos envolveram entidades de Macau, Hong Kong, Taiwan, Interior da China (Pequim, Jiangmen, Zhuhai, Shenzhen e Cantão) e de Itália, abrangendo, entre outros, o tratamento e reciclagem de resíduos, engenharia ambiental, construção, agenciamento de produtos, projectos de conservação de energia, educação ambiental e intercâmbio de informações na área da tecnologia, bem como a criação de uma base de dados internacional para controlo da qualidade da medicina tradicional chinesa.

A próxima edição do MIECF vai decorrer entre os dias 26 e 28 de Março de 2015.