Exposições, publicações de livros e outras actividades estão programadas para o Dia Mundial da Língua Portuguesa,que será celebrado pela primeira vez, a 5 de Maio, por decisão da UNESCO. A Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa e o Instituto Camões prepararam um programa completo que se associa a escolas e a toda a sociedade civil.
Texto Andreia Sofia Silva
A decisão da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) de ratificar, em Novembro do ano passado, a celebração do Dia Mundial da Língua Portuguesa a 5 de Maio trouxe um novo fôlego à forma como se celebra um idioma cada vez mais falado e ensinado no mundo.
A proposta aprovada em Paris fez referência ao facto de o português ser “a língua de nove estados-membros da UNESCO, a língua oficial em três organizações continentais e da Conferência Geral da UNESCO, ser falada por mais de 265 milhões de pessoas, sendo uma das mais faladas no hemisfério sul”. O facto de o idioma ter feito parte da primeira vaga da globalização também pesou na decisão. É esperado ainda que a língua portuguesa tenha um forte crescimento, prevendo-se que, no final do século, serão 500 milhões a falá-la, tornando-a uma língua cada vez mais global.
Esta foi a primeira vez que uma língua não oficial da organização é distinguida com um dia mundial. A proposta foi apresentada por todos os países lusófonos em Outubro e foi apoiada por mais 24 países como Argentina, Chile, Geórgia, Luxemburgo ou Uruguai, o que resultou numa aprovação por unanimidade no conselho da UNESCO, a 12 de Novembro.
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Segundo o embaixador de Portugal na UNESCO, António Sampaio da Nóvoa, este será um dia celebrado em grande nos corredores da sede da organização, com iniciativas musicais e literárias, mas que espera também ter impacto internacional. “Entra nos calendários internacionais, o que significa que ganha projecção do ponto de vista internacional e que pode ter consequências nos mais variados planos”, frisou.
Nesse sentido, tanto Camões – Instituto da Cooperação e Língua, I.P., entidade ligada ao Ministério dos Negócios Estrangeiros em Portugal, como a Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP) prepararam várias actividades para celebrar um dia especial para o idioma de Camões.
Luís Faro Ramos, presidente do Camões I.P., revelou à MACAU tudo o que está a ser pensado para a celebração desta efeméride. “Haverá uma atenção especial às comemorações na rede diplomática e consular. No estrangeiro, através das redes externas do Camões, I.P. e no âmbito das acções integradas nos planos de actividades de 2020, prevê-se para já a realização de mais de 90 acções de diversas áreas disciplinares em 58 países, a promover em articulação com as embaixadas dos países de língua portuguesa acreditadas naqueles países.”
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Além disso, Luís Faro Ramos denota que “nos últimos anos, as actividades então alusivas ao Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP, efectivamente realizadas, têm sido superiores às planeadas”.
Francisco Ribeiro Telles, secretário-executivo da CPLP, disse à MACAU que o tema para as comemorações é “A Língua Portuguesa no Mundo: Dimensões e Perspectivas”. “Temos um vasto programa, com a inscrição de actividades literárias, artísticas, cinematográficas, musicais, debates académicos e outras, que integram iniciativas do Secretariado Executivo da CPLP, dos Estados Membros, dos Observadores Associados, dos Observadores Consultivos, das diásporas lusófonas e da sociedade civil”, frisou.
No cartaz proposto pela CPLP consta uma cerimónia solene na sede da organização, em Lisboa, no dia 5 de Maio, bem como a realização de um programa comemorativo na sede da UNESCO, em Paris, promovido pelo Grupo de Embaixadores e representantes permanentes dos países da CPLP acreditados junto daquela organização internacional, entre os dias 5 e 19 de Maio.
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Haverá ainda actividades coordenadas pelo Camões I.P., em parceria com a rádio das Nações Unidas (ONU News Português), em Lisboa, igualmente a 5 de Maio, bem como a publicação de uma obra literária infanto-juvenil sobre a cidade de Brasília, com textos dos embaixadores dos Estados Membros da CPLP naquela capital.
O programa fica completo com a promoção do áudio livro Contos tradicionais da CPLP, junto das comunidades escolares, bem como a realização da exposição “O Futuro Aposta na CPLP”, nas escolas secundárias dos países-membros.
Um merecido reconhecimento
Para Francisco Ribeiro Telles, a decisão tomada em Paris em Novembro “traduz o reconhecimento da importância da língua portuguesa e contribui de forma inequívoca para sua maior projecção e visibilidade na escala internacional”. Além disso, o secretário executivo da CPLP considera que “fortalece a percepção da língua portuguesa como uma importante matriz identitária no contexto global e como património cultural comum dos povos que a têm como sua língua oficial, materna, segunda ou de herança”.
Na visão do representante máximo da CPLP, o facto de se celebrar o idioma de Camões a 5 de Maio constitui “uma renovada oportunidade de celebrar a vocação internacional da língua portuguesa no que ela tem de comum, mas também suas peculiaridades e especificidades nacionais e regionais, que reflectem a diversidade das sociedades e das culturas que constituem o universo dos falantes do português”.
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Já na opinião de Luís Faro Ramos, “trata-se de uma decisão que foi adoptada pela UNESCO por iniciativa de todos os Estados-membros da CPLP”, a qual “representa, ao mesmo tempo, uma enorme satisfação e uma enorme responsabilidade”.
“A partir deste ano a dimensão das comemorações terá que ser necessariamente diferente. É uma decisão que surge num momento em que a língua portuguesa é cada vez mais uma língua pluricêntrica e global. Nunca é tarde, e o caminho não está ainda completo”, concluiu o presidente do Camões I.P.
Uma nova estratégia?
Francisco Ribeiro Telles recorda que não é de agora que se pensa a projecção da língua portuguesa no contexto da CPLP e, sobretudo, na dimensão global que o idioma pode ter. “O ciclo de Conferências sobre a Língua Portuguesa no Sistema Mundial, aberto em Brasília em 2010 e que teve continuidade em Lisboa em 2013 e em Díli em 2016, testemunham desta preocupação, e os planos de acção adoptados em cada uma dessas conferências já oferecem uma estratégia sólida para a promoção e a projecção da língua portuguesa (cabe observar que está prevista para este ano a realização de uma quarta Conferência).”
A decisão de estabelecer o Dia Mundial da Língua Portuguesa “oferece uma oportunidade, mais do que uma exigência, de intensificar e aprofundar os esforços para a implementação da estratégia estabelecida nos referidos planos de acção”.
Francisco Ribeiro Telles destaca pontos como “a promoção e o fortalecimento da língua portuguesa nos próprios países da CPLP”, bem como a “promoção da língua portuguesa junto às comunidades originárias de países lusófonos em terceiros países”. É também importante, segundo o responsável, fazer a “projecção da língua portuguesa como língua estrangeira na escala internacional”, além de apostar na valorização do idioma como língua de ciência e conhecimento.
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Para que todas estas acções sejam uma realidade, o secretário executivo da CPLP defende que deve ser abordado “um aspecto essencial”, que é a necessidade de fortalecimento do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), com sede na Cidade da Praia, em Cabo Verde, que tem como vocação desenvolver projectos para a promoção e a projecção internacional da língua portuguesa.
O presidente do Camões I.P. acredita que tem de ser aproveitada a “oportunidade para dar uma dinâmica acrescida e porventura mais densidade à estratégia que já vimos pondo em prática”. “Essa estratégia é verdadeiramente global e passa, designadamente, por alargar públicos e geografias”, rematou.
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