ENTREVISTA

Hengqin abre novas oportunidades para jovens empreendedores

Lee Koi Ian, presidente da Associação dos Jovens Empresários de Macau
A Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin pode ser a alavanca necessária para apoiar o empreendedorismo jovem local, defende Lee Koi Ian, presidente da Associação dos Jovens Empresários de Macau, em entrevista à Revista Macau

Texto  Tony Lai
Fotografia  Cheong Kam Ka

O PROJECTO-GERAL de Construção da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin vai trazer um novo mundo de recursos para o desenvolvimento dos jovens empresários de Macau. As palavras são de Lee Koi Ian, presidente da direcção da Associação dos Jovens Empresários de Macau.

Com a missão principal de impulsionar o desenvolvimento de Macau a longo prazo e agilizar a integração regional, o projecto foi promulgado pelo Comité Central do Partido Comunista da China e o Conselho de Estado no dia 5 de Setembro. São 106 quilómetros quadrados que vão proporcionar “um novo espaço para os residentes de Macau viverem e trabalharem”, afirma Lee, destacando as oportunidades que se abrem também para os jovens empresários de Macau.

“Esperamos que a implementação do Projecto-Geral promova um bom fluxo de pessoas, bens, capital e informação entre Hengqin e Macau, gerando novas oportunidades de desenvolvimento para os jovens de Macau e acelerando a diversificação económica”, salienta. 

Para Lee, a Zona de Cooperação Aprofundada pode ajudar a alargar o leque de opções de negócio da comunidade de jovens empreendedores locais, para além das tradicionais áreas relacionadas com o turismo e o entretenimento.

O Projecto-Geral destaca quatro sectores-chave como sendo as “novas indústrias” da Zona de Cooperação Aprofundada: indústrias manufactureiras de alvo nível e ligadas a investigação e desenvolvimento científico e tecnológico; indústrias de marcas de Macau, como o sector de medicina tradicional chinesa; indústrias cultural e turística, de convenções e exposições e de comércio; e a indústria financeira moderna.

“As pessoas com qualificações profissionais nas áreas das finanças, construção, urbanismo e design em Macau e outros locais também poderão trabalhar na Zona de Cooperação Aprofundada, cumprindo os requisitos dos reguladores”, diz Lee, exemplificando como o projecto pode ajudar os empresários locais a superar alguns dos desafios existentes em Macau. “Este tipo de inovação nas regulamentações pode ser benéfico [para as empresas] na Zona de Cooperação Aprofundada no recrutamento de talentos e profissionais qualificados”, sublinha.

Estudar e pensar mais

A implementação do Projecto-Geral ocorreu num momento em que muitas empresas locais estão a enfrentar um período de adaptação causada pelas restrições de viagens durante a pandemia da COVID-19, que já se prolonga há quase dois anos. “As oscilações da pandemia reduziram fortemente o número de turistas que chegam a Macau, um destino turístico que depende do Interior da China como principal mercado, e as pequenas e médias empresas dos sectores do turismo, restauração e comércio a retalho também foram afectadas”, observa.


“Esperamos que o Projecto-Geral promova um bom fluxo de pessoas, bens, capital e informação entre Hengqin e Macau”

LEE KOI IAN

Por esse motivo, o desenvolvimento desta nova Zona de Cooperação Aprofundada pode representar uma luz ao fundo do túnel ou um divisor de águas para as empresas locais e jovens empreendedores nestes tempos de adversidade, sublinha Lee, que também é o administrador geral da Seng Fung Jewellery, uma rede de ourivesarias com base em Macau mas que também opera no mercado do Interior da China.

“Devido às diferenças de políticas e regulamentos entre as duas partes, as empresas de Macau podem por vezes não ter um domínio total do mercado de trabalho, das políticas e regras de Hengqin”, afirma o empresário.

“Há também outras questões que requerem atenção, como as diferenças de regime tributário e o reconhecimento mútuo das qualificações profissionais”, continua, referindo-se ao facto de as empresas em Macau pagarem menos impostos, dado o estatuto da região como porto franco.

“Os jovens empreendedores devem entender, em profundidade, as políticas da Zona de Cooperação Aprofundada” para pensarem sobre como “maximizar esta oportunidade”, acrescenta o dirigente associativo.

Fase de desenvolvimento

Antes mesmo do estabelecimento oficial da Zona de Cooperação Aprofundada, algumas start-ups e jovens empresários já se começaram a aventurar além das fronteiras da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), usufruindo das medidas de apoio  de incubadoras como o Vale de Criação de Negócios para os Jovens de Macau em Hengqin. Os incentivos incluem escritórios para arrendamento a baixo custo, serviços de consultoria e de registo de empresas e bolsas de contactos.

Dados divulgados por Lin Keqing, vice-governador executivo da província de Guangdong, durante uma conferência de imprensa sobre a Zona de Cooperação Aprofundada, mostram que Hengqin acolheu pelo menos 613 start-ups e projectos empresariais de Macau ao longo dos últimos anos. Um total de 4578 empresas financiadas por capital de Macau foram constituídas em Hengqin, enquanto 314 empresas de Macau estabeleceram escritórios em Hengqin.

Lee Koi Ian acredita que os serviços prestados pelas incubadoras em Hengqin aos jovens empresários de Macau serão melhorados, tal como foi estipulado no Projecto-Geral, com vista a criar “um ecossistema completo” para start-ups. “[O projecto] também realça a importância de os residentes de Macau gerirem negócios e trabalharem em estreita cooperação para usufruírem das medidas de apoio apresentadas pelas autoridades de Guangdong e de Macau”, acrescenta.

Hengqin, adjacente a Macau, poderá albergar “um ecossistema completo” para start-ups

Segundo o mesmo responsável, para além do projecto da incubadora, toda as infra-estruturas e serviços em Hengqin estão a evoluir, o que irá beneficiar o desenvolvimento de Macau. O Projecto-Geral prevê um novo sistema de governação através do qual as autoridades de Guangdong e da RAEM vão supervisionar o desenvolvimento de Hengqin, em linha com as práticas de Macau e as normas internacionais. A circulação de mercadorias e pessoas entre Macau e Hengqin também será reforçada para oferecer mais comodidade, acrescenta.

“A Zona de Cooperação Aprofundada ainda está em fase de desenvolvimento e os recursos abundantes ainda não foram totalmente utilizados”, explica o presidente da associação. “À medida que a qualidade de vida e o sistema de saúde da Zona de Cooperação Aprofundada melhorarem, cada vez mais jovens de Macau vão se sentir atraídos para ali viver e desenvolver as suas carreiras,” conclui.

Nova plataforma, nova era

O papel de Macau enquanto ponte de ligação para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa também está contemplado no Projecto-Geral. O novo plano de desenvolvimento determina que a Zona de Cooperação Aprofundada deve estabelecer-se como um “centro de comércio internacional” e uma “plataforma de serviços financeiros entre a China e os países de língua portuguesa”. A par disso, o Centro de Intercâmbio de Inovação e Empreendedorismo para Jovens da China e dos Países de Língua Portuguesa também irá ser estabelecido em Hengqin.

Relativamente ao papel que os jovens empresários locais podem desempenhar na promoção da missão de Macau enquanto plataforma, Lee salienta que “se devem focar no desenvolvimento de marcas de Macau, bem como aumentar a exposição das criações e dos produtos Made in Macau”. Defende também que os elementos culturais de Macau podem ser melhor promovidos e que os empresários mais jovens devem ser apoiados na internacionalização das marcas locais.

Lee Koi Ian não tem dúvidas de que o projecto abre “novas oportunidades para o crescimento da nova geração de Macau”. “Nesta nova era, os jovens de Macau devem conhecer melhor o mercado para procurar o caminho mais adequado para o seu desenvolvimento pessoal.”