Competição “928 Challenge”

Ambição alta para empreendedorismo sino-lusófono

A competição “928 Challenge” visa promover o empreendedorismo na China e no mundo lusófono
A segunda edição da competição “928 Challenge” vai ter uma nova categoria, dirigida a start-ups, além de mais universidades envolvidas. O objectivo de criar dinâmicas de cooperação entre o mundo lusófono e a China mantém-se, mas a ambição sobe, com os organizadores a quererem que o evento se torne na maior iniciativa em Macau de promoção do empreendedorismo internacional

Texto Catarina Brites Soares

A esfera que o evento abrange foi o que lhe deu nome: as nove cidades da província de Guangdong que são parte da Região da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, as duas regiões administrativas especiais da China (Hong Kong e Macau) e os oito países de língua portuguesa. Ao “928” segue-se o “Challenge”, que neste caso passa por juntar estudantes universitários – e agora start-ups – e promover a germinação de ideias. Em suma, a competição “928 Challenge” foi criada a pensar na meta que foi atribuída a Macau pelo Governo Central: ser uma plataforma entre a China e a Lusofonia.

José Alves, director da Faculdade de Gestão da Universidade da Cidade de Macau e um dos coordenadores do evento, explica que a segunda edição terá duas novidades: a criação de uma nova categoria para start-ups, com o objectivo de atrair ideias de negócio mais desenvolvidas e potenciais investidores interessados nesses projectos; e organização de 10 instituições de ensino superior – seis de Macau, três do resto da Grande Baía e uma do Brasil –, ao invés de três como ocorreu na primeira edição.

“A nossa visão é que o projecto se torne o maior evento de empreendedorismo internacional em Macau. O impacto será medido pelo número de participantes, alunos universitários e start-ups”, afirma José Alves.

Marco Rizzolio, outro dos coordenadores do “928 Challenge” e docente da Universidade da Cidade de Macau, explica as diferenças entre as duas categorias da competição. “As ideias de negócio da maioria das equipas ligadas às universidades ainda estão numa fase muito inicial. Apresentam uma sugestão que vão desenvolver durante a competição, embora possam surgir equipas com um produto desenvolvido e prestes a ser comercializado”, refere. “No que respeita às start-ups, submetem um produto ou serviço, e estão no primeiro ano de operação. Estas competições são um excelente trampolim para testar produtos e serviços, e encontrar novos mercados”, diz.

As inscrições, gratuitas, abriram em Junho e terminam no final de Setembro. As equipas aceites irão depois participar durante duas semanas numa actividade de formação online, desenhada para aprofundar conhecimentos sobre o ambiente de negócios na China e nos países lusófonos, e durante a qual irão criar os seus projectos e planos de negócios, que devem ser orientados para a área da sustentabilidade.

“As mais-valias do ‘928’ são o conhecimento que transmitimos através de um painel composto por especialistas que irão dar palestras sobre as oportunidades nos países de língua portuguesa e na China; e o apoio no desenvolvimento das ideias. Empresários e professores ajudam durante a preparação do ‘pitching’”, detalha Marco Rizzolio.

Os melhores projectos serão depois apresentados a um júri, composto por académicos e empresários, e perante potenciais investidores, numa “final” agendada para dia 29 de Outubro.

Tudo a dobrar

Este ano, a organização espera 1600 participantes – o dobro do ano passado – e 300 equipas. As universidades envolvidas passaram de 51 a 100, e o número de patrocinadores cresceu de sete para 12.

“Esperamos dobrar o número de participantes”, assume Marco Rizzolio. “Mas mais do que a participação, gostaríamos de ver projectos a encontrarem investidores e a serem concretizados.”

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O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau), também conhecido como Fórum de Macau, é o principal parceiro público do projecto, apoiando a ideia desde o primeiro momento por ser um instrumento de cooperação. “O Fórum de Macau só tem a ganhar quando actua no quadro dos seus objectivos, o que é manifestamente o caso”, sublinha Paulo Espírito Santo, secretário-geral adjunto do organismo. “Acresce que a iniciativa não se esgota num mero exercício académico – o que per si já não seria de somenos –, mas vai mais além, desafiando os estudantes a conceberem projectos sustentáveis na área do empreendedorismo, adequados às realidades envolventes, buscando soluções para problemas reais e assim podendo vir a tornar-se start-ups”, acrescenta o responsável.

“Não nos podemos esquecer que as pequenas e médias empresas têm um grande impacto ao nível da empregabilidade e em muitos países são fonte de exportações”, diz Paulo Espírito Santo, que realça o balanço “fracamente positivo” das relações sino-lusófonas. “As trocas comerciais atingiram os 200 mil milhões de dólares americanos no ano passado. Em 2003, data da institucionalização do Fórum de Macau, o valor rondava os seis mil milhões de dólares americanos.”

Colmatar lacunas

A ideia de criar a competição “928 Challenge” surgiu depois de os organizadores constatarem que não existia um evento que incluísse todas as regiões abrangidas pela chamada “plataforma de Macau”. “Mais ainda, verificámos que, ao nível universitário, a maioria dos estudantes tem ainda um conhecimento incipiente sobre esta ideia”, explica José Alves.

Assim nasceu o conceito da competição. “A interdisciplinaridade e escala global que o empreendedorismo tem hoje permite que o ‘928’ seja um instrumento único para a divulgação de Macau às gerações mais jovens da China e dos países de língua portuguesa. Não haverá muitas outras áreas e eventos que possam ter o mesmo alcance e impacto a longo prazo”, defende o académico.

Todos saem beneficiados, sublinha. Os alunos, pelo conhecimento adquirido de outros países e culturas, “fundamental na criação de negócios competitivos e sustentáveis”. Já as universidades, entre outros motivos, ganham projecção à escala internacional e podem desenvolver relações com novos parceiros, diz José Alves. Do lado dos académicos, a mais-valia é realizada através dos contactos directos com líderes empresariais e outros académicos, ao passo que as empresas beneficiam pelo acesso privilegiado e directo a ideias, talentos e novos mercados. Por fim, as instituições públicas participantes podem afirmar-se no papel de dinamizadores do ecossistema empresarial e educativo, com um investimento relativamente reduzido, realça.

“É importante salientar que qualquer ecossistema de empreendedorismo precisa de uma cooperação dinâmica e equilibrada entre universidades, empresas e Governo”, enfatiza José Alves. “O ‘928’ está consciente desta dinâmica e vai continuar a trabalhar para que isto se torne uma realidade”, assegura.

A actual conjuntura, com os intercâmbios internacionais entre Macau e o exterior limitados por causa da pandemia da COVID-19, foi outro impulso para o lançamento da competição, salienta Marco Rizzolio. “Estes dois últimos anos têm sido muito difíceis para o mundo. Macau não fugiu à regra, com uma desaceleração muito grande no volume de negócios, especialmente para médias e pequenas empresas. Continuamos com as fronteiras fechadas, excepto para o Interior da China. A pandemia trouxe tempo e obrigou-nos a pensar em novos desafios”, afirma o também empresário, fundador da Follow Me Macau, ligada ao sector do turismo e uma das primeiras start-ups a instalar-se no Centro de Incubação de Negócios para os Jovens de Macau, organismo lançado em 2015.

À frente de outras iniciativas que relacionam empreendedorismo e ensino superior, Marco Rizzolio diz que a ambição do “928 Challenge” é que seja uma competição de referência para os países de língua portuguesa e para a China. “Queremos ser um mecanismo para o desenvolvimento de start-ups no âmbito da plataforma que Macau pretende ser, e conseguirmos conectar verticalmente todos as partes”, sublinha. 

Como funciona o “928 Challenge”?
– As equipas inscritas participam em duas semanas de formação online (ao estilo “bootcamp”), com palestras e tutoriais;

– Durante o “bootcamp”, cada equipa deve criar e apresentar o seu projecto e plano de negócios, orientado para a promoção da sustentabilidade e da cooperação entre a China e os países de língua portuguesa;

– Os projectos seleccionados para a final, a decorrer no dia 29 de Outubro, serão apresentados perante um júri e potenciais investidores;

– As três equipas vencedoras vão partilhar entre si um prémio monetário total de 70 mil patacas, bem como um prémio em serviços “cloud” no valor de 30 mil patacas, patrocinado pela gigante tecnológica chinesa Alibaba.