Dar a conhecer o golfe aos alunos das escolas de Macau e apostar na criação de academias locais são projectos em curso para que a modalidade dê o tão desejado salto qualitativo. A realização de torneios internacionais na cidade tem também contribuído para o desenvolvimento deste desporto
Texto Vítor Rebelo
O golfe, um desporto de precisão e estratégia, é uma modalidade que tem crescido a nível internacional, com um aumento do número de praticantes, tanto a nível amador como profissional. A tendência não tem passado ao lado da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), com a introdução de programas para captação de jovens a trazer sangue novo para a modalidade.
Os programas, lançados pela Associação dos Profissionais de Golfe de Macau (MPGA, na sigla em inglês), com o apoio da Associação Geral de Golfe de Macau, têm procurado promover a modalidade junto das escolas locais, numa tentativa de atrair mais jovens para este desporto.
O “PGA Tour Dreams, Macau”, projecto implementado já em alguns estabelecimentos de ensino locais, “tem despertado um grande interesse e entusiasmo das crianças e das respectivas escolas”, diz à Revista Macau o presidente da assembleia-geral da MPGA.
Nesta primeira fase, o principal objectivo “é dar a conhecer o golfe aos mais novos”, refere Ernie Lee, acrescentando que, “se eles aprenderem as bases antes dos 11 anos, terão uma aptidão para o futuro”. O golfe, adianta, “ensina aos mais jovens muitas competências para a vida, como paciência, disciplina, honestidade, auto-reflexão, entre outros aspectos”.
Apesar da escassez de espaços e de instalações para a prática de golfe – que em Macau se resumem ao Macau Golf and Country Club, em Coloane, e ao Macau International Golf, no Cotai –, o dirigente diz que, durante anos, a Associação Geral de Golfe de Macau programou campos de verão “para dar a conhecer o golfe às crianças” e, posteriormente, foi criada a Associação de Golfe Juvenil de Macau, “que está a ter muito sucesso”.
Além disso, o aparecimento da Macau Champion Golf Academy (MCGA) veio oferecer a possibilidade de realização de treinos e eventos destinados aos jovens. Keith Un, responsável pela nova academia e um dos treinadores em Macau com mais anos de experiência no ensino do golfe aos mais pequenos, considera que o desenvolvimento do golfe juvenil em Macau não estava anteriormente alicerçado numa estrutura sólida. “Os jovens jogadores não dispunham de canais estruturados para formação organizada, competições ou acesso à informação”, afirma.
Aposta consistente na formação
Em 2018, as várias organizações “uniram forças para impulsionar activamente o golfe juvenil local, promovendo programas de formação, constituindo equipas para participar em vários torneios e criando planos de carreira para jogadores de elite”, refere Keith Un. Os esforços, realça, já começaram a demonstrar resultados: depois de Kelvin Si Ngai, que era o único jogador júnior de Macau com um ranking atribuído na lista do golfe amador, foi promovido “com sucesso” outro atleta local, Harry Lei Kun Wang, que passou também a constar no ranking da categoria.
Face à aposta que tem sido feita em anos recentes, Keith Un frisa que, “actualmente, os jogadores de Macau estão a aparecer cada vez mais no topo das tabelas de classificação em torneios de juniores”, com participação em provas em Macau, Singapura, Hong Kong, Tailândia, Malásia, Índia e Nova Zelândia, num total de cerca de 20 eventos por ano.
O responsável recorda também o lançamento, no ano passado, de um programa de elite para jovens golfistas, com o apoio do Macau International Golf. O projecto centra-se na “formação intensiva e no planeamento de carreiras para os praticantes locais”, com o objectivo de “cultivar sistematicamente os futuros talentos”.

Para além do programa escolar que teve início este ano, destaque para a iniciativa “First Touch”, desenvolvida, desde 2018, em colaboração com a Associação de Golfe Juvenil de Macau, segundo a qual vários treinadores certificados organizam aulas abertas ao público a cada três meses.
Nos últimos anos, a criação da MPGA “expandiu ainda mais as oportunidades de acesso dos jovens ao golfe, proporcionando-lhes mais possibilidades de se envolverem no desporto”, diz Keith Un, adiantando que 2024 foi o ano de maior crescimento da modalidade em Macau.
Actualmente, Macau dispõe de um grupo de golfistas da categoria júnior que participam regularmente em competições e que têm alcançado resultados positivos, segundo o dirigente. Jim Huang Iat I, de 17 anos, obteve o melhor registo de 65 pancadas – seis abaixo do par – na categoria de juniores do Torneio de Golfe Guangdong-Hong Kong-Macau, e Oscar Hung Chi Che, de 15 anos, jogou abaixo do par numa prova de elite local e tem conquistado frequentemente prémios em várias competições da categoria.
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De entre as ideias para apoiar o desenvolvimento do golfe júnior local, o fundador da academia MCGA sugere que a criação de uma equipa de representantes do escalão poderia “permitir que os jovens jogadores tenham objectivos claros em diferentes fases”. Outras iniciativas referidas por Keith Un incluem a certificação de treinadores locais, visando “garantir uma formação de qualidade”; a procura de financiamento, “para reduzir os encargos financeiros dos pais”; e a concretização de um “planeamento de carreira mais claro e percursos de desenvolvimento para os atletas” de escalões mais jovens.
“Antes de progredirmos, Macau tinha muitos treinadores altamente qualificados e experientes, incluindo até Butch Harmon – o lendário treinador de Tiger Woods –, que já ensinou em Macau”, recorda o responsável. “Apesar de termos menos de uma década de experiência de ensino, a nossa academia, juntamente com uma organização sem fins lucrativos, conseguiu criar uma nova geração de jogadores de elite, numa altura em que a equipa de golfe de Macau estava à beira de um fosso geracional, estando, nesta altura, ainda a aprender e melhorar, o que requer muita dedicação”, remata.
No que respeita às instalações existentes em Macau, Keith Un refere alguns obstáculos à popularização e ao desenvolvimento do desporto, um desafio que não é exclusivo à cidade.
Apelidando o golfe de “um dos desportos mais desafiantes do mundo”, o monitor explica que as crianças precisam de resiliência para persistir no processo de aprendizagem só para chegarem à fase de principiantes. “Aqueles que ultrapassam a fase inicial e começam a jogar no campo enfrentam uma dura realidade, que é aplicar as técnicas de treino ao jogo real, o que é um desafio completamente diferente”, salienta Keith Un.
Melhorias e dedicação
Harry Lei, 16 anos, um dos jovens orientados por Keith Un, participou, em Março, no Torneio de Golfe “International Series” de Macau, no âmbito do Asian Tour. O atleta vai também representar Macau no “Asia-Pacific Amateur Championship” e na próxima edição dos Jogos Nacionais.
O golfista reconhece que o nível do golfe nas camadas juvenis “melhorou significativamente” com os projectos que começaram a ser desenvolvidos na cidade, ajudando a consolidar algo que, para o jovem atleta, se tornou numa paixão. “Quando era criança, o meu interesse inicial por este desporto veio de gostar de conduzir carrinhos de golfe e, mais tarde, achei o golfe em si bastante interessante.” Esta modalidade, afirma, “não requer apenas habilidade, mas também estratégia mental e paciência”, o que lhe permite “aprender muito para além do golfe”.

Hope Ning, que se encontra presentemente a estudar nos Estados Unidos da América, refere que o golfe se tem tornado mais popular em Macau, “também por causa dos vários torneios internacionais que a cidade tem acolhido e pela aposta na divulgação junto das escolas, que incluem o golfe nas actividades curriculares”.
A atleta, que começou a praticar em Macau quando tinha nove anos de idade, considera que a RAEM já dispõe de bons treinadores, “mas precisa que haja um maior investimento em recintos de aprendizagem abertos à população”.
Para além de precisão e estratégia, o golfe – mesmo a nível amador – exige dedicação, diz João Nolasco Antunes, atleta amador sénior residente na região há vários anos. “O golfe vicia e exige tempo e dedicação”, mas proporciona um “enorme prazer”, refere, acrescentando que a parte social é “fantástica”.
O praticante frisa que o golfe em Macau se encontra hoje “numa fase que nunca passou desde que o primeiro campo abriu em 1993”, pelo facto de receber torneios internacionais, “o que traz prestígio e dá oportunidade para ver jogadores de grande qualidade ao vivo”.
João Nolasco Antunes observa que “as associações estão mais activas e empenhadas nas camadas jovens e na divulgação da modalidade, organizando regularmente eventos para os seus membros, tanto em Macau como [noutros locais da] Grande Baía”.
Além de a MPGA ter “delineado um programa de desenvolvimento e promoção nas camadas jovens e em escolas de Macau”, outro factor que tem apoiado o desenvolvimento da modalidade tem sido a abertura de “estúdios com simuladores de última geração, onde se pode praticar o fundamental e confraternizar com outros entusiastas do golfe”.
Na opinião de João Nolasco Antunes, as associações locais deveriam empenhar-se mais na organização de actividades com os membros mais novos, “por forma a trazê-los para o jogo e criar uma comunidade de praticantes”. Estas organizações, sugere, podem tirar partido dos “dois campos fantásticos, ambos em muito boas condições de manutenção e de características muito diferentes, um deles possuindo um ‘driving range’ bem equipado, onde se proporcionam as melhores condições para o treino”.

Sobre a percepção de elitismo na modalidade, reconhece que a imagem existe e, até certo ponto, representa um obstáculo à massificação do desporto. “Não é um desporto facilmente promovido junto da população, como acontece com o futebol, badminton, voleibol ou ciclismo”, diz. No entanto, acrescenta, “hoje em dia, praticar golfe não é mais caro do que outros desportos que precisam de equipamento especializado ou de recintos dedicados exclusivamente à actividade”.
Numa perspectiva regional, “na Grande Baía, em cidades como Zhuhai, Shenzhen, entre outras”, existem “óptimos campos, a preços acessíveis, não esquecendo que os recintos em Macau têm custos mais baratos durante os dias de semana e promoções regulares”, conclui.