Macau já consolidou a sua posição como plataforma de comércio entre a China e os países de língua portuguesa, com o apoio das políticas governamentais. É neste contexto que a cidade pode aprofundar o seu papel, criando mais oportunidades de negócio, afirma Alvin Fong, empresário e presidente de uma associação comercial local
Texto Stephanie Lai
Já desempenhou várias actividades profissionais nas mais diversas áreas e reveste-se actualmente da missão de liderar a Associação de Macau para a Promoção do Comércio e das Relações Comerciais entre a China e Portugal, fundada em Outubro de 2024.
Alvin Fong diz que o objectivo da associação é reunir mais empresários envolvidos no comércio entre a China e os países de língua portuguesa, contribuindo para o fomento dos laços comerciais. Os actuais membros da direção da associação trabalham em diversos sectores, desde o comércio de mercadorias e distribuição de produtos até empresas de logística. “Através da associação, podemos contribuir com algumas sugestões ao Governo, nomeadamente sobre a forma como Macau pode reforçar o seu papel de plataforma para [fomentar] o comércio entre a China e os países de língua portuguesa”, avança.
Alvin Fong preside actualmente à Macau Direch Investment Technology Co. Ltd., empresa especializada na aplicação da tecnologia “blockchain” para o rastreio e certificação da origem de produtos. No passado, trabalhou nas áreas da auditoria, da gestão de fábricas e ainda no sector imobiliário.
Segundo o empresário, embora a associação seja recente, tem as prioridades bem definidas. A curto prazo, salienta Alvin Fong, o foco passa por promover o comércio entre a China e os países de língua portuguesa especificamente nos sectores da agricultura e da indústria de “big health” da medicina tradicional chinesa, nos quais a China tem muito a oferecer a potenciais parceiros.
A longo prazo, o responsável diz esperar ver mais profissionais de diversas áreas comerciais como membros da associação, algo que iria enriquecer a representação sectorial da organização.
“Em Outubro [deste ano], vamos organizar uma exposição agrícola entre a China e os países de língua portuguesa durante a Feira Internacional de Macau”, revela Alvin Fong. A Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla em inglês) é um evento anual que promove diversos tipos de actividades comerciais, sob organização do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento.
Tecnologia e maior eficiência
Segundo Alvin Fong, a China possui tecnologia agrícola avançada e reconhecida pela sua elevada relação custo-benefício, representando um potencial atractivo para investidores dos países de língua portuguesa. “Vamos convidar empresas do Interior da China especializadas em tecnologia agrícola, de grande dimensão e de elevada qualidade, para participarem na exposição [agrícola]; ao mesmo tempo, pretendemos convidar empresas do sector agrícola do Brasil, Portugal, Angola e outros países de língua portuguesa para participarem nesta exposição e realizarem um processo de conciliação comercial entre as partes”, afirma o líder da associação.
“Os [fornecedores] com produtos regionais do Interior da China também serão convidados a participar nesta exposição”, acrescenta. “Tendo em consideração que Macau faz parte da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, encontraremos alguns investidores da região para participar na exposição. O nosso objectivo é criar valor para aqueles que participam na exposição.”
Alvin Fong salienta que a associação irá também estudar opções para utilizar a tecnologia “blockchain” para aumentar a eficácia da correspondência comercial para as empresas e investidores que participem na exposição agrícola em Outubro. “Estamos a utilizar tecnologias – como a ‘blockchain’ e a internet das coisas (IoT) – para criar um sistema de rastreio, de forma a comprovar a qualidade dos produtos agrícolas ou de saúde da China. No futuro, esperamos que [estas tecnologias] se estendam também aos produtos industriais e electrónicos”, salienta o dirigente associativo.

De acordo com o responsável, a utilização de tecnologia de rastreio permitiria que cada produto fosse etiquetado com um “código” que, ao ser digitalizado, mostraria várias informações, nomeadamente os ingredientes, os padrões técnicos de processamento e os mercados onde o produto é comercializado. “[O uso de tecnologia] será útil para as empresas comercializarem e venderem os seus produtos, enquanto que, para os consumidores, ajuda como garantia de qualidade. No aspecto da exportação, pode ajudar a tornar o processo de desalfandegamento mais eficiente”, sugere Alvin Fong.
A certificação dos produtos – e a eficiência deste processo com o recurso à tecnologia – pode ser uma vantagem providenciada por Macau para facilitar o comércio entre a China e os países de língua portuguesa, adianta.
Formular regras
O empresário diz que a associação está também empenhada em promover um maior fluxo comercial na indústria da “big health” da medicina tradicional chinesa. O sector tem ganhado cada vez mais destaque na China, evoluindo rapidamente com a modernização das práticas de produção e procurando expandir-se para mercados internacionais.
A criação de normas para os produtos da medicina tradicional chinesa será um factor “importante” para Macau, contribuindo para promover ainda mais a exportação destes produtos para o exterior, incluindo mercados de países de língua portuguesa, afirma Alvin Fong. “Macau pode reunir especialistas chineses nesta área para conceber normas específicas para” os produtos de medicina tradicional chinesa, sugere o dirigente associativo.
E acrescenta: “Este é um campo em que Macau pode ser pioneiro, e podemos colaborar com os países de língua portuguesa para analisar os seus padrões e reportá-los [aos especialistas chineses]. Isto pode ajudar na venda de produtos [da medicina tradicional chinesa] para o exterior.”
A indústria da “big health” faz parte dos sectores emergentes que Macau tem vindo a promover como parte da estratégia para a diversificação adequada da economia local. Em 2023 , o Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM) introduziu a estratégia de desenvolvimento “1+4”, que é vista como um modelo de futuro para Macau. Neste âmbito, foi escolhido um conjunto de quatro indústrias consideradas de desenvolvimento prioritário – nomeadamente as áreas da tecnologia de ponta, da “big health”, da indústria financeira moderna e das convenções, exposições, comércio, cultura e desporto –, cujo crescimento deve ser apoiado através do sector basilar da economia local, o do turismo e lazer.
Embora estas quatro indústrias emergentes apresentem um novo potencial de crescimento económico para a RAEM, trazem também desafios inevitáveis, ressalva Alvin Fong.
“Acredito que agora se trata mais de termos de construir primeiro todo o ecossistema” para estas quatro indústrias emergentes, diz o responsável. “É difícil simplesmente expandir rapidamente estes quatro sectores em grande escala”, acrescenta.
De acordo com o empresário, as quatro indústrias emergentes representam sectores competitivos a nível regional. O sector das finanças modernas, por exemplo, é um ponto forte de Hong Kong; enquanto na tecnologia, Shenzhen lidera na região da Grande Baía; já nos eventos, existe concorrência tanto de Hong Kong como da província de Guangdong. “Portanto, devemos concentrar-nos na nossa parte mais sólida, que é a da certificação” de produtos, garantindo assim a sua qualidade e promovendo as trocas comerciais, sublinha.
Uma manifestação desta ideia é a política da gestão de indicações “fabricado sob supervisão de Macau”, “produzido sob supervisão de Macau” e “design de Macau”: trata-se de um selo de certificação que se aplica aos produtos de medicina tradicional chinesa, alimentos e suplementos alimentares, que podem solicitar o registo e a aprovação dos seus produtos junto das autoridades da RAEM e ter o processo de fabrico concluído em Hengqin. A política, anunciada pela Direcção dos Serviços de Assuntos Comerciais da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, está em vigor desde 30 de Outubro de 2023.
Aproveitar esta iniciativa ajudará nos esforços de diversificação económica de Macau, mas também poderá “promover melhor e de forma mais eficiente o intercâmbio comercial entre o Interior da China, Macau e os países de língua portuguesa”, sublinha Alvin Fong.