Associação de Hotéis de Macau

Hotéis preparados para agarrar novas oportunidades

Jocelyn Wong, presidente da Associação de Hotéis de Macau
Fundada há 40 anos, a Associação de Hotéis de Macau testemunhou o rápido desenvolvimento do sector do turismo e como a indústria da hotelaria se tem adaptado aos desafios inerentes a tão céleres mudanças. Para a presidente, Jocelyn Wong, o futuro pode passar por uma maior colaboração com Hengqin, bem como por um maior foco nos mercados internacionais

Texto Stephanie Lai

A Associação de Hotéis de Macau representa estabelecimentos de três a cinco estrelas, incluindo vários hotéis internacionais com presença no mercado local. Como é que a organização evoluiu ao longo destas quatro décadas?

A Associação de Hotéis de Macau foi fundada em 1985. Inicialmente, a associação contava apenas com alguns hotéis como membros, entre os quais: The Oriental; Hotel Lisboa; Hyatt Regency; Pousada de São Tiago; Hotel Royal; Hotel Presidente; Hotel Matsuya; Hotel Estoril; Hotel Sintra; Hotel Bela Vista e Hotel Metrópole.

As pessoas podem ter-se esquecido de alguns destes nomes, mas gostaria de referir que, para além do Hotel Lisboa – que tem uma história rica por si só –, o Hotel Royal foi o primeiro hotel de cinco estrelas de Macau; na altura, tínhamos também o Hotel Estoril, de menor dimensão, bem como o Hotel Matsuya e o Hotel Bela Vista, os quais ainda me lembro de ter frequentado quando era jovem.

Após quatro décadas, a nossa associação conta agora com 58 hotéis como membros, estabelecimentos entre as três e as cinco estrelas.

Somos uma organização sem fins lucrativos e, no âmbito das nossas funções, actuamos principalmente como uma ponte entre o Governo e o nosso sector: dialogamos sobre os últimos desenvolvimentos na indústria hoteleira, as orientações políticas para o turismo, os negócios que envolvem hotéis locais e o desenvolvimento económico em geral.

A nossa associação foi distinguida com a Medalha de Mérito Turístico em 2024 pelo Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), uma honra que reconhece os nossos esforços contínuos e de longa data, e que serve também de incentivo para que os nossos membros continuem a contribuir para o sector hoteleiro e para o turismo em geral em Macau.

Em Macau, predominam os hotéis de cinco estrelas. No entanto, nos últimos anos, temos observado o surgimento de mais hotéis de categoria inferior ou opções de alojamento mais económicas. O que tem impulsionado esta tendência e de que forma contribui para o desenvolvimento da indústria?

O aparecimento de opções de alojamento económicas para turistas é uma tendência global, dado que tem havido um número crescente de visitantes jovens, mochileiros, etc., que procuram estas opções. Macau não é excepção.

Neste sentido, os turistas que vêm a Macau têm agora mais opções, com uma maior variedade de tipologia de alojamentos disponíveis. Alguns turistas não necessitam das suites em hotéis de cinco estrelas, mas valorizam mais a comodidade da localização do hotel e um preço acessível. Assim, os alojamentos mais económicos localizados nas zonas históricas da cidade vão ao encontro das necessidades destes turistas.

Uma gama mais diversificada de opções de alojamento permite que viajantes com diferentes orçamentos reservem a estadia desejada, o que contribui para que prolonguem o tempo de permanência e, por sua vez, isso ajuda a expandir o mercado de turistas que pernoitam em Macau.

Embora os hotéis apresentem taxas de ocupação elevadas, a duração média da estadia dos turistas que pernoitam em Macau permanece abaixo das duas noites, segundo dados oficiais. O sector está satisfeito com a duração da estadia dos turistas? Acha que há medidas que podem ser implementadas para incentivar os turistas a ficarem mais tempo?

A duração média da estadia dos hóspedes rondou as 1,6 noites [em Agosto], e este é um dado que se tem mantido nestes níveis desde o início da pandemia.

No final de Setembro, Macau tinha 147 estabelecimentos hoteleiros, com um total de 45.204 quartos

É claro que esperamos que os nossos hóspedes fiquem mais tempo em Macau, durante duas ou três noites. Mas isso também depende dos eventos que se realizam na cidade ou do número de atracções que se podem visitar. Penso que existem algumas atracções que fazem parte da Lista do Património Mundial, localizadas em alguns dos bairros antigos, que vale a pena visitar e que devem ser melhor promovidas junto dos visitantes, como o Farol da Guia, a Praça do Tap Seac e o Bairro de São Lázaro, que oferece também algumas lojas culturais e criativas e pequenos restaurantes.

Observámos que alguns eventos culturais ou desportivos foram realizados nas imediações de algumas das atracções mais icónicas de Macau, como as Ruínas de São Paulo, que já recebem um grande fluxo de turistas. Penso que deveria haver um maior número de eventos culturais ou artísticos noutras zonas, como a Praça Flor de Lótus ou a Praça do Tap Seac […], pois isso ajudaria a direccionar o fluxo de visitantes para bairros antigos como o Bairro de São Lázaro ou a Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida.

Actualmente, quando se observa onde os hóspedes ficam alojados, muitos estão a ficar nos hotéis localizados no Cotai. No futuro, acredito que devemos priorizar a promoção do alojamento nestes bairros antigos da península de Macau.

Macau acolhe actualmente mais eventos desportivos e espectáculos musicais. Nota-se já algum impacto deste tipo de eventos no número de turistas que pernoitam na cidade?

O surgimento destes eventos desportivos e musicais – especialmente os concertos, que têm sido muito bem-sucedidos – ajudou a atrair visitantes de diferentes origens. Eventos de grande escala, como o Grande Prémio de Macau, o Concurso Internacional de Fogo de Artifício de Macau ou a Festa Internacional das Cidades de Gastronomia, Macau 2025, não só melhoraram a promoção da cidade junto da comunidade internacional, como também impulsionaram a ocupação hoteleira. Quando estes eventos acontecem, a ocupação hoteleira em Macau pode passar os 90 por cento.

O aparecimento da “economia dos espectáculos” trouxe também novas oportunidades e fontes de visitantes a Macau, uma vez que as pessoas que vão a estes espectáculos procuram desfrutar da vida nocturna de Macau após as actuações. Isto significa que o seu tempo de permanência aqui será maior e que os negócios nocturnos de Macau também serão beneficiados.

Além disso, devemos trabalhar para promover as nossas outras ofertas de hospitalidade para incentivar os hóspedes a permanecerem mais tempo na cidade, sejam passeios por locais inscritos na Lista do Património Mundial ou ofertas gastronómicas, entre outras. Actualmente, muitos hotéis passaram a oferecer pacotes de alojamento que incluem bilhetes para vários eventos, o que é conveniente para os hóspedes e eficaz para atrair mais visitantes que pernoitam e prolongam a sua estadia.

Em termos do perfil dos hóspedes, existe algum segmento específico no qual o sector hoteleiro se deve focar?

O Interior da China continua a ser o mercado com o qual estamos mais familiarizados, representando agora mais de 70 por cento do nosso fluxo de visitantes. No entanto, daqui para a frente, devemos trabalhar mais para atrair hóspedes chineses de cidades para além da província de Guangdong.

Devemos também trabalhar para atrair viajantes do Sudeste Asiático ou de outros mercados internacionais. Mercados como o Japão, a Coreia do Sul e a Tailândia – que fornecem potencialmente turistas com elevada propensão para gastar – deverão ser os nossos principais alvos a explorar.

Vale também a pena explorar os viajantes de mercados de longa distância, como o mercado do Médio Oriente, nomeadamente o Dubai. O mais importante é direccionar as campanhas promocionais para estes mercados. Após a pandemia, quando todas as restrições de viagem foram levantadas, os visitantes de longa distância ficaram provavelmente mais interessados não só em vir para aqui, mas também em visitar o Interior da China.

Acha que Macau deveria estreitar a cooperação com cidades vizinhas no que toca à promoção de pacotes de “uma viagem, várias paragens” para visitantes de longo curso?

Sim. Colaborar [na promoção de viagens] com Hengqin ou com cidades da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau é um caminho a seguir, para que estes viajantes do exterior possam conhecer a província de Guangdong e também Hengqin, incluindo Macau no roteiro.

Considera que Hengqin representa maior concorrência para o sector hoteleiro de Macau ou as duas regiões são complementares?

Não diria que Hengqin representa concorrência, mas sim que nos traz recursos complementares. Hengqin tem as suas próprias vantagens, pois tem potencial para desenvolver o sector das convenções e exposições. Hengqin tem também mais atracções naturais, parques temáticos e outras instalações de lazer, enquanto Macau está vocacionada para viagens urbanas, onde se explora o património cultural, resorts de turismo e lazer integrados e eventos internacionais.

No que diz respeito ao sector hoteleiro, Hengqin tem apresentado um rápido desenvolvimento nos últimos anos e oferece agora mais opções de alojamento de médio a alto padrão, bem como opções adequadas para famílias. O fundamental seria perceber como atrair visitantes para Macau, bem como para Hengqin, ou mesmo para outros locais na Grande Baía, para que Macau e Hengqin possam gerar um impacto sinérgico na atracção de um maior número de visitantes e beneficiar os sectores hoteleiros em ambos os locais.

Actualmente, há mais jovens a viajar para Macau, que fazem um maior uso das redes sociais e meios tecnológicos. Como é que o sector hoteleiro local se está a adaptar a esta nova realidade? O que deve ser feito para continuar a elevar a qualidade do serviço?

Estamos a atrair hóspedes através de vários canais online e offline, incluindo através das plataformas das agências de viagens online que oferecem um serviço imediato e completo, abrangendo passagens aéreas e reservas de hotéis.

Os hotéis de Macau receberam mais de 10,9 milhões de hóspedes nos primeiros nove meses de 2025, segundo dados oficiais

Para criar uma experiência de viagem completa e conveniente para os viajantes jovens e que recorrem mais à tecnologia, o sector poderia fazer uma maior aposta na esfera digital, como, por exemplo, a introdução de sistemas de check-in automático, a implementação de um sistema de controlo inteligente nos quartos e o desenvolvimento de aplicações móveis que integrem vários dos serviços que [esses hotéis] oferecem.

Já muitos hotéis dedicam atenção à criação de quartos temáticos ou grandes instalações interactivas com vista a responder à intenção dos jovens de partilhar os seus momentos especiais nas redes sociais. Em termos de esforços de marketing, o sector está também a reforçar a sua interacção com os jovens visitantes em plataformas de redes sociais como Douyin, Xiaohongshu e Instagram, com o objectivo de aumentar a visibilidade dos hotéis de Macau.

No futuro, o uso de inteligência artificial será uma área em que todos necessitarão de melhorar, seja através de actualizações do sistema ou da adaptação [da tecnologia] para melhorar a qualidade dos serviços prestados aos hóspedes.

Qual o papel que a associação tem desempenhado no apoio à formação de talentos para o sector hoteleiro?

A Universidade de Turismo de Macau (UTM) é nossa associada. Durante vários anos, a nossa associação e a UTM – anteriormente designada por Instituto de Formação Turística – colaboraram num programa de bolsas de estudo para estudantes de licenciatura e pós-graduação. A nossa associação assinou também memorandos de cooperação [na área da formação de profissionais qualificados] com, respectivamente, a Universidade Politécnica de Macau e a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau.

A Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) também apoia esta iniciativa: através do programa “Ocupação de Jovens em Férias”, os estudantes são encaminhados para estágios em hotéis.

Para além de cooperarmos com instituições de ensino locais, tivemos também intercâmbios e colaborações com instituições do Interior da China, incluindo a Faculdade Profissional e Técnica de Huzhou, bem como o comité de integração indústria-educação da Câmara Geral de Empresários de Liaoning.

O sector hoteleiro apresenta vários desafios e os jovens podem não estar interessados no dia-a-dia das operações. Gosto muito deste sector, pois traz sempre novidades e espero que possamos ser mentores para os mais jovens, estimulando o seu interesse por esta área, que se baseia na comunicação, na paciência e na prestação de serviços de qualidade.