Fez-se história em Novembro, com a abertura oficial da 15.ª edição dos Jogos Nacionais, dado que, pela primeira vez, o evento foi organizado por três regiões: a província de Guangdong, Hong Kong e Macau. A iniciativa ilustra os esforços de integração regional no âmbito da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau
Texto Nelson Moura
É o “maior evento multidesportivo” a nível nacional e “um palco importante para demonstrar o poder nacional abrangente e para promover o intercâmbio e cooperação desportivos em todo o País”. Foi deste modo que Sam Hou Fai, Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM), descreveu os Jogos Nacionais, num discurso na cerimónia de inauguração da 15.ª edição do evento, a 9 de Novembro.
A edição de 2025 dos Jogos Nacionais – que decorreu até 21 de Novembro – foi a primeira na história a realizar-se em mais do que uma região, com a província de Guangdong, Hong Kong e Macau a partilharem a responsabilidade pelo evento. Foi também a primeira vez que a RAEM participou na organização dos Jogos Nacionais.
As três regiões também colaboraram para organizar em Dezembro a 12.ª edição dos Jogos Nacionais para Pessoas Portadoras de Deficiência e a 9.ª edição dos Jogos Olímpicos Especiais Nacionais.
Mais do que demonstrar a vitalidade da cooperação regional, o espectáculo de abertura da 15.ª edição dos Jogos Nacionais – no Centro Desportivo Olímpico de Guangdong, em Guangzhou – foi um retrato da história secular do País e da sua profunda herança cultural.
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A proclamação oficial do arranque do evento foi dada pelo Presidente Xi Jinping, numa cerimónia que contou com a presença de várias figuras de destaque, incluindo o Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong, John Lee Ka-chiu; a presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Kirsty Coventry; o presidente honorário vitalício do COI, Thomas Bach; e altos responsáveis do Partido Comunista da China. O director executivo da Comissão Organizadora da 15.ª edição dos Jogos Nacionais e Governador da província de Guangdong, Meng Fanli, presidiu ao evento.
No seu discurso na cerimónia de inauguração, o Chefe do Executivo da RAEM sublinhou o significado histórico da participação de Macau como coorganizadora dos Jogos Nacionais, destacando que a colaboração entre as três regiões “é prova clara das vantagens institucionais do princípio ‘um país, dois sistemas’ na promoção do desenvolvimento integrado da Grande Baía e é uma oportunidade importante para impulsionar Macau a integrar-se na conjuntura do desenvolvimento nacional”.

Sam Hou Fai revelou que, desde a organização até à execução, Guangdong, Hong Kong e Macau partilharam “as mesmas aspirações e directrizes”.
“Temos colaborado estreitamente e potenciado plenamente as vantagens institucionais e a vitalidade da cooperação regional, dedicando-nos para que o evento desportivo nacional decorra de forma ‘simples, segura e maravilhosa’”, afirmou, na altura, o líder do Governo da RAEM.
Sam Hou Fai destacou ainda que seriam mantidas firmes as convicções de “Juntos na Grande Baía, Juntos nos Jogos Nacionais” para proporcionar um palco onde os atletas pudessem “exibir as suas proezas e ultrapassar os seus limites”, mas também para que o “carisma vibrante do espírito inclusivo e harmonioso” da Grande Baía fosse apresentado aos espectadores.
A cerimónia culminou com o acender da chama dos Jogos Nacionais por três atletas de renome das regiões anfitriãs: a atleta de wushu de Macau, Li Yi; o campeão olímpico de esgrima de Hong Kong, Edgar Cheung Ka-long; e o velocista de Guangdong, Su Bingtian. Wong Weng Ian, outra atleta de wushu, foi a porta-estandarte da RAEM.
Maior e melhor participação
A 15.ª edição dos Jogos Nacionais fica igualmente na história da RAEM devido ao número recorde de atletas que representaram Macau no evento. A delegação de Macau contou com 420 membros, incluindo 295 atletas, entre desportistas experientes e novos talentos. Os atletas locais competiram em 23 modalidades, incluindo natação, atletismo, basquetebol – nas modalidades 3×3 e 5×5 –, boxe, ciclismo, futebol, judo, tiro, ténis de mesa, ténis e voleibol, avançou o Instituto do Desporto (ID) à Revista Macau.
A 15.ª edição dos Jogos Nacionais pautou-se pela melhor participação de sempre de Macau no evento, culminando num total de três medalhas de ouro e duas de bronze. Foi também a primeira vez que atletas de Macau subiram ao lugar mais alto do pódio desde que a RAEM participa nos Jogos Nacionais. Isto depois de, na edição de 2021, Kuok Kin Hang ter conquistado a primeira medalha para Macau na história dos Jogos Nacionais, ao garantir o terceiro lugar na prova individual masculina de karaté.


Os karatecas de Macau, Iong Kuang Hou e Fong Man Wai, venceram, respectivamente, nas provas de (amador) masculino – 67 Kg e (amador) feminino – 55 Kg. Já os atletas Xu Jia Cheng e Lei Hong Kio conquistaram, respectivamente, medalhas de bronze nas provas de (amador) masculino – 67 Kg e (amador) feminino – 55 Kg. Antes disso, os atletas Kuok Kin Hang, Fong Man Hou e Cheang Pei Lok conquistaram a primeira medalha de ouro para Macau, na prova de categoria de grupo masculino de karaté.
Numa mensagem de felicitações, o Chefe do Executivo considerou que as conquistas foram “fruto da […] dedicação” dos atletas e da sua “persistência nos treinos árduos, ao longo dos anos”, bem como “do contínuo aperfeiçoamento” e da “constante vontade de superarem os seus limites”.
“Espero que todos os atletas considerem este como um novo ponto de partida, promovam constantemente e busquem um espírito desportivo de excelência e continuem a empenhar-se para alcançar conquistas ainda maiores em competições futuras e tragam honra para a RAEM”, afirmou Sam Hou Fai.
Motivação e experiência
Em resposta à Revista Macau, o ID sublinhou o compromisso das autoridades de continuar a apoiar os atletas locais através de melhores condições de treino, incentivos financeiros e instalações adequadas. “A RAEM orgulha-se de enviar uma delegação tão numerosa e diversificada”, referiu o ID, antes do arranque do evento.

A preparação para os Jogos Nacionais, destacou o organismo, foi apoiada pelo Programa de Glória dos Jogos Nacionais/Jogos Asiáticos, que providencia apoio ao treino, ajuda financeira e acesso ao Centro de Formação e Estágio de Atletas. “Demos prioridade ao uso do Centro de Formação para que os atletas se pudessem concentrar totalmente na sua preparação”, salientou o organismo.
Além do treino técnico e de acções de formação em ciências do desporto, o “Plano de Apoio Financeiro para formação dos atletas de elite e equipas em estágio” e o “Plano dos Prémios Pecuniários do Desporto de Alto Rendimento” visam recompensar o desempenho e incentivar a excelência desportiva. “Estas medidas têm como objectivo motivar os atletas a alcançar os melhores resultados e reconhecer o seu esforço e dedicação”, acrescentou o ID.
Para o antigo presidente do ID, Manuel Silvério, os preparativos da RAEM para a mais recente edição dos Jogos Nacionais foram exemplo da “experiência acumulada” e da “capacidade de coordenação local”. Em declarações à Revista Macau, o ex-dirigente referiu que Macau estava “plenamente preparada para acolher parte dos Jogos Nacionais, uma demonstração clara da confiança do Governo Central na região”.
Manuel Silvério sublinhou que os Jogos Nacionais são “o maior e mais importante evento multidesportivo da China”, reunindo atletas de todas as províncias, regiões autónomas e regiões administrativas especiais. “Estes Jogos têm uma dupla missão: promover a excelência desportiva e demonstrar a capacidade organizativa do País, reforçando a integração regional e a cooperação interna”, afirma.
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O antigo dirigente considera que a coorganização entre Guangdong, Hong Kong e Macau “marcou um passo histórico” na integração da RAEM no panorama desportivo nacional. “A participação de Macau não se limita à colaboração, reflecte uma integração plena no modelo da Grande Baía, que projecta a região como uma parceira activa no desenvolvimento nacional e regional.”
Manuel Silvério recorda ainda que Macau tem “um histórico sólido na organização de grandes eventos multidesportivos”, como os Jogos da Ásia Oriental (2005), os Jogos da Lusofonia (2006) e os Jogos Asiáticos em Recinto Coberto (2007). “Há uma continuidade institucional e técnica evidente – muitos dos quadros que participaram nesses eventos estão novamente envolvidos, o que garante eficiência e qualidade operacional”, observa.
O antigo presidente do ID destacou também as três dimensões que tornaram esta edição dos Jogos Nacionais particularmente relevante para Macau: “a desportiva, por permitir aos nossos atletas competir com os melhores do País; a política, por reforçar a integração na Grande Baía e o princípio ‘um país, dois sistemas’; e a estratégica, por preparar futuras colaborações em eventos de grande escala”.











