Entrevista

UM busca excelência, apesar da COVID-19: Reitor

Song Yonghua, reitor da Universidade de Macau (UM), conta à Revista Macau como a instituição continua a construir um ambiente educativo de nível internacional e a expandir os seus programas, apesar dos desafios trazidos pela pandemia da COVID-19. A instituição pretende ainda reforçar a sua posição académica com uma Estratégia de Desenvolvimento de 5 Anos e aprofundar os laços com congéneres do Interior da China e dos países de língua portuguesa

Texto Stephanie Lai

Um dos principais objectivos da Estratégia de Desenvolvimento de 5 Anos da Universidade de Macau (UM) é aprofundar o chamado modelo educacional composto por quatro componentes (4-em-1), para formar talentos. Em que consiste este modelo e que resultados obteve até agora?

Foi em 2010 que a UM sugeriu este modelo de educação “4-em-1” para apoiar os nossos alunos de licenciatura. O modelo está orientado para proporcionar aos alunos um sistema de educação integrado, e tem quatro dimensões: educação holística, educação especializada, educação através da investigação e de estágio, bem como a educação comunitária e entre os alunos. Para concretizar isso, oferecemos a educação especializada através das várias faculdades da universidade. A instituição é também conhecida graças aos nossos colégios residenciais, uma parte importante no nosso objectivo de educação integrada.

O modelo “4-em-1”, que implementámos na última década, provou ser bem-sucedido, especialmente depois de nos mudarmos para o campus de Hengqin, em 2014, e introduzirmos o modelo de colégios residenciais. Com este objectivo, queremos principalmente cultivar nos nossos alunos um sentido de integridade e responsabilidade social para com a nossa cidade e o nosso país. Também queremos que tenham uma vida saudável, espírito de equipa e mentalidade competitiva, e que se interessem pela cultura.

Em 2021, ano em que a universidade completou 40 anos, resumimos a nossa experiência na implementação do modelo “4-em-1” no livro “Educação Integrada em Colégios Residenciais Universitários em Acção: A Experiência de Universidades na China” e explorámos este tema num fórum. As principais universidades do Interior da China participaram no evento, tais como a Universidade de Pequim, a Universidade de Tsinghua, a Universidade de Zhejiang e a Universidade de Fudan. As universidades do Interior da China também estão a promover o modelo de colégio residencial e certamente que a nossa universidade pode partilhar a nossa experiência.

A Universidade de Macau mudou-se, em 2014, para o novo campus em Hengqin

Outro objectivo da estratégia da UM é aumentar a percentagem de estudantes não locais. Porquê esta meta e qual a actual quota de estudantes locais e não locais na universidade?

Actualmente, cerca de 75 por cento dos nossos alunos de licenciatura são locais. Quanto aos mestrados, cerca de 40 por cento são estudantes locais; a percentagem é menor para os doutorandos.

O nosso objectivo sempre foi muito claro: com os cursos de licenciatura, procuramos formar talentos locais, enquanto para os programas de mestrado e doutoramento, iremos garantir que haja vagas suficientes para estudantes locais, antes de aumentar o número de estudantes não locais a serem admitidos nesses cursos.

Na Estratégia de 5 Anos, dissemos que gostaríamos de ver o número de alunos aumentar de 12 mil em 2021 para 17 mil nos próximos cinco anos. O número de alunos de licenciatura irá permanecer estável porque a proporção de finalistas do ensino secundário local é basicamente estável. O [potencial] aumento virá principalmente de mais estudantes não locais que se matriculem nos nossos programas de mestrado e doutoramento, e que poderão vir do Interior da China, do Sudeste Asiático ou do resto do mundo.

A universidade quer melhorar os cursos avançados e irá estabelecer mais programas de mestrado baseados na procura existente no mercado. Quais são estes novos programas?

Estamos a responder às necessidades de Macau, da região da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, especialmente da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, bem como do nosso país. A área da Grande Baía, em geral, Macau e Hengqin estão a analisar os contributos estratégicos da ciência e inovação e a ligação entre a academia e a indústria. Por exemplo, no Plano Director de Desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin são mencionadas algumas novas indústrias: o desenvolvimento da microelectrónica e circuitos integrados; a medicina tradicional chinesa; a inteligência artificial; novas energias; novos materiais; a Internet das Coisas; biotecnologia; arte e finanças.

A universidade espera ter 17 mil alunos nos próximos cinco anos

Estamos a avaliar as necessidades e a estabelecer um programa de mestrado em ciência de dados, que envolve estudos interdisciplinares. Também estamos a oferecer programas de mestrado em Internet das Coisas, tecnologia financeira, bem como numa área popular: a microelectrónica. Há também programas de mestrado em saúde pública e artes plásticas.

Entretanto, estamos a expandir o currículo de estudos integrados de gestão de resorts integrados e turismo. Também oferecemos um doutoramento em gestão de empresas e, ainda neste contexto, um programa de mestrado executivo em gestão de empresas. Oferecemos ainda doutoramentos em administração pública e educação. Além disso, vamos lançar um curso de mestrado em neurociência cognitiva, com um currículo interdisciplinar, que será uma pedra basilar, essencial para os estudos de inteligência artificial.

A UM quer expandir os estudos interdisciplinares e oferecer novos programas. Mas ainda não se avista o fim da pandemia da COVID-19. Quão difícil é para a universidade adquirir recursos suficientes e contratar novos docentes para estas novas disciplinas?

O nosso recrutamento está voltado para o mundo: para os docentes, desde os assistentes aos professores e aos catedráticos, ou para os cargos de gestão, dos directores das faculdades aos vice-reitores e reitor, para todas essas posições o recrutamento está aberto a candidatos de todo o mundo. A UM tem visto a sua reputação internacional crescer e a própria cidade é também reconhecida pela sua estabilidade. O modelo de educação internacional da nossa universidade, bem como a mistura multicultural da cidade, contribuem para a capacidade de atrair talentos de todo o mundo.

Ou seja, mesmo após dois anos de COVID-19, vemos ainda o número de professores recrutados e candidatos a estas posições a crescer. É claro que a crise de saúde pública nos trouxe alguns problemas. Mas, para responder a isso, organizámos as nossas entrevistas [de emprego] de maneira inovadora. Aqueles [vindos do estrangeiro] que aceitaram as nossas ofertas tiveram de enfrentar algumas dificuldades, como passar pela quarentena obrigatória, que em Macau varia de 14 a 21 dias. Mas, ainda assim, passaram pelo processo e puderam juntar-se a nós. Ficamos gratos e estamos orgulhosos por atrair estes excelentes académicos.

Como parte do nosso processo de recrutamento, temos também alguns mecanismos que encorajam os melhores bolseiros de Macau que se encontram no estrangeiro a regressar, como é o caso do nosso programa de bolsas. Nos últimos anos – mesmo durante a COVID-19 –, conseguimos recrutar alguns bolseiros através deste programa, e continuamos a manter o orçamento para o apoiar.


“Estamos a responder às necessidades de Macau, da região da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, bem como do nosso país”

SONG YONGHUA
REITOR DA UNIVERSIDADE DE MACAU

A universidade quer crescer como uma plataforma entre a indústria, o mundo académico e a investigação, e para atingir esse objectivo está a desenvolver um “Espaço Nacional de Trabalho Colaborativo” para formar mais talentos inovadores e empreendedores. Como funciona este projecto?

Os professores são bons a fazer investigação académica. Mas quando se trata de ligar os resultados da investigação à dinâmica do mercado, precisam de conhecimentos de comércio, finanças, recursos humanos e todo o tipo de competências de gestão para criar negócios. O mesmo se aplica aos alunos que estão nas salas de aula ou nos laboratórios e que precisam de aprender como manter os seus estudos ligados à sociedade. Por isso, criámos o Centro de Inovação e Empreendedorismo, que funciona como uma base para dar aos professores e alunos as competências que eles precisam de adquirir. O centro é como uma incubadora que os ajuda a iniciar negócios e já apoiou a criação de mais de 30 empresas.

O centro foi reconhecido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China como um “Espaço Nacional de Trabalho Colaborativo”. Isto representa a valorização por parte do país do sucesso da UM na articulação da indústria, academia e investigação, e dos negócios iniciados pelos professores e alunos. Vamos continuar a desenvolver esta plataforma, para apoiar a diversificação da economia de Macau e o desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin.

75%
Proporção de alunos de Macau em cursos de licenciatura na Universidad de Macau

Em que áreas trabalham estas 30 novas empresas?

Estão envolvidas em biotecnologia; medicina tradicional chinesa; microelectrónica; materiais aplicados, especialmente materiais avançados e materiais verdes; materiais energéticos; Internet das Coisas; energia; tecnologias de transporte e de prevenção de desastres.

Como é que a universidade vai aprofundar a cooperação a longo prazo com instituições de ensino superior dos países de língua portuguesa, um outro objectivo mencionado na Estratégia de Desenvolvimento de 5 Anos?

A UM foi considerada a melhor entre os mais de 200 membros da Associação das Universidades de Língua Portuguesa. Estamos a aprofundar os laços com as instituições de ensino superior dos países de língua portuguesa. Com algumas universidades em Portugal, incluindo a Universidade de Lisboa, temos também planos para lançar alguns programas conjuntos. Para promover o ensino da língua portuguesa, formámos uma aliança com dezenas de escolas no Interior da China que ensinam a língua portuguesa e disponibilizam materiais didácticos em português.

A instituição completou 40 anos em 2021

E quanto aos laços de cooperação entre a universidade e as várias instituições de ensino superior do Interior da China?

Estamos envolvidos, neste importante domínio, com instituições de ensino superior, centros de investigação, autoridades governamentais e empresas do Interior da China.

Temos programas conjuntos com a Universidade de Zhejiang e a Universidade de Tecnologia do Sul da China. Temos também planos para oferecer programas conjuntos com a Universidade de Pequim e a Universidade de Fudan.

Além disso, criámos cinco laboratórios conjuntos com a Academia de Ciências da China, que abrangem investigação sobre inteligência artificial, neurociências, oncologia e ciências marinhas. A nossa universidade é ainda um dos mais de 40 membros da Aliança Universitária de Guangdong, Hong Kong e Macau. Todos esses esforços melhoram as relações da nossa universidade com as instituições de ensino superior do Interior da China em termos de formação de talentos e de investigação científica.