O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, esteve de visita a Macau, para promover as relações bilaterais. A deslocação a Oriente incluiu também uma passagem pelo Interior da China, onde o diplomata enfatizou a boa saúde dos laços sino‑portugueses
Texto Emanuel Graça
Foi com a certeza de um reafirmar do relacionamento de excelência entre Portugal e Macau que o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros luso, Paulo Rangel, disse sair da cidade, na recta final de uma deslocação de cinco dias à China. A visita, que teve lugar em Março, incluiu também passagens por Pequim e Hainão, no Interior da China, e por Hong Kong.
O próximo passo no reforço das relações Macau-Portugal passa agora por uma visita do Chefe do Executivo, Sam Hou Fai, ao país europeu. Tal deve ocorrer ainda na primeira metade deste ano, após as eleições legislativas lusas, marcadas para 18 de Maio, de onde sairá um novo governo português. Isso mesmo explicou Sam Hou Fai no âmbito da apresentação do “Relatório das Linhas de Acção Governativa para o Ano Financeiro de 2025”, em meados de Abril. O governante salientou na altura que essa será a sua primeira deslocação oficial ao estrangeiro enquanto Chefe do Executivo, num sublinhar claro da importância dada às relações com Portugal.
Sam Hou Fai teve a possibilidade de transmitir de viva-voz os seus planos a Paulo Rangel, durante a reunião que ambos tiveram na Sede do Governo da Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). Sam Hou Fai fez questão de dizer ao líder da diplomacia lusa que ele era o primeiro responsável ministerial estrangeiro que recebia após a tomada de posse como Chefe do Executivo em Dezembro do ano passado, um reflexo do bom relacionamento entre Macau e Portugal, com uma história de longa data.
Durante o encontro, os dois governantes trocaram opiniões sobre o intercâmbio e a cooperação bilateral nas áreas judicial, económico-comercial e da educação, entre outras, de acordo com uma nota do Gabinete de Comunicação Social. Sam Hou Fai fez uma apresentação sobre os desenvolvimentos mais recentes relacionados com a Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, frisando como a RAEM tem seguido de forma firme, após o retorno à pátria, o princípio “um país, dois sistemas”, sob o forte apoio do Governo Central.

O Chefe do Executivo enfatizou que a RAEM preserva o sistema jurídico continental de matriz lusa, bem como protege a cultura e costumes tradicionais da comunidade de origem portuguesa a viver na cidade. Em paralelo, Macau tem solidificado o seu papel de plataforma entre a China e os países lusófonos, impulsionando, de forma contínua, o estabelecimento de relações amigáveis em diversas áreas de cooperação bilateral, notou Sam Hou Fai.
O aprofundamento das relações bilaterais poderá conhecer ainda outros capítulos ao longo de 2025. Do lado português, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já manifestou publicamente a vontade em visitar Macau ainda este ano. De acordo com Paulo Rangel, estão também em curso os trabalhos preparatórios para a próxima reunião da Comissão Mista Portugal–RAEM, que poderá eventualmente vir a ter lugar em Macau no segundo semestre de 2025.
A importância da língua
O Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal chegou a Macau já após quatro dias no Interior da China. Embora a deslocação à RAEM tenha sido de curta duração, incluiu uma agenda cheia. Paulo Rangel visitou a Escola Portuguesa de Macau (EPM), tendo ainda tido um encontro no Clube Militar com a comunidade lusa local, bem como se deslocado ao Consulado-Geral de Portugal em Macau para reuniões de trabalho.
Na EPM, o governante tomou nota do apoio fornecido ao estabelecimento escolar pelas autoridades locais. O chefe da diplomacia lusa anunciou ainda que Portugal estava a elevar as suas contribuições financeiras para o funcionamento da escola, repondo-as aos níveis anteriores ao programa de resgate financeiro internacional a que o país esteve sujeito, entre 2011 e 2014.
O financiamento da EPM “está agora nos níveis legais outra vez e é a primeira vez ao fim de 11 anos”, realçou Paulo Rangel. “Isso é algo que é altamente significativo do empenho que temos”, acrescentou. O Estado português controla a maioria do capital da fundação que gere a EPM, com uma posição equivalente a 51 por cento.
“Também registamos com agrado […] que nunca houve tantos alunos de português – e agora falo de alunos da comunidade chinesa – como há hoje em múltiplas escolas” em Macau, apontou Paulo Rangel. “Significa que também a RAEM tem incentivado o ensino de português e o conhecimento de português e isso é algo que só pode trazer boas relações entre os dois lados”, referiu.
Um regresso, cinco anos depois
A deslocação à China do Ministro dos Negócios Estrangeiros português serviu para quebrar um hiato de mais de cinco anos sem visitas de alto nível de governantes lusos ao parceiro chinês – em grande parte, devido ao surgimento da pandemia da COVID-19 e às restrições associadas. A deslocação coincidiu com o 20.º aniversário da parceria estratégica global entre a China e Portugal e o 50.º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre a China e a União Europeia (UE), dois marcos que se assinalam este ano.
“Existe um estado muito positivo nas relações. O facto de ter havido esse hiato não desacelerou o interesse que ambos os países têm na sua relação bilateral”, garantiu Paulo Rangel durante a visita.

O chefe da diplomacia lusa deslocou-se à China entre 24 e 28 de Março, onde se reuniu com vários representantes chineses, participou na Conferência Anual do Fórum Boao para a Ásia 2025, na província de Hainão, e proferiu uma palestra na Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim.
A visita incluiu um encontro, na capital chinesa, com Wang Yi, membro do Politburo do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC) e ministro dos Negócios Estrangeiros. Em discussão estiveram temas como o reforço da cooperação bilateral em domínios como o investimento, a transição verde, a economia digital, a inovação e a investigação e desenvolvimento, com destaque para o papel de Macau enquanto ponte entre a China e os países de língua portuguesa.
Segundo um comunicado do lado chinês, Wang Yi manifestou a Paulo Rangel a vontade da China em estreitar a relação com Portugal, tornando-a cada vez mais estável, frutífera e dinâmica. O chefe da diplomacia chinesa notou que Portugal é um dos países da UE com mais investimento chinês per capita, dando como exemplo a cooperação existente em sectores como a energia, as finanças e a saúde.
Por outro lado, Wang Yi assegurou que a China atribui grande importância ao papel singular de Portugal no seio da UE e no contexto internacional, estando disponível para reforçar a coordenação bilateral com vista à defesa do multilateralismo. O governante chinês manifestou a vontade do Governo Central em aprofundar a parceria com o continente europeu, promovendo uma maior abertura e cooperação, expressando a expectativa de que Portugal continue a desempenhar um papel activo neste processo.
Por sua vez, de acordo com o mesmo comunicado, Paulo Rangel realçou a evolução positiva das relações entre Portugal e a China. O governante reconheceu a importância do investimento chinês no desenvolvimento económico e social português e expressou disponibilidade para reforçar a cooperação bilateral. Salientou ainda o interesse crescente de quem vive em Portugal pela língua e cultura chinesas, propondo o fortalecimento das trocas culturais e educativas.
O oceano como ponto comum
Em entrevista ao Diário do Povo Online, Paulo Rangel destacou o estado das relações bilaterais entre Portugal e a China. São “relações muito antigas e que, nestes últimos 45 anos, tiveram um desenvolvimento, um aprofundamento extraordinário”, disse, numa referência ao estabelecimento oficial de ligações diplomáticas entre os dois lados, em 1979.
Referindo-se a potenciais oportunidades de cooperação a nível económico, Paulo Rangel apontou para a importância da economia oceânica em ambos os países. “Há imensas oportunidades na área dos oceanos. É uma área à qual Portugal se tem dedicado muito”, afirmou.

Durante a sua visita à capital chinesa, o governante luso reuniu-se ainda com Liu Jianchao, responsável pelo Departamento Internacional do Comité Central do PCC. No encontro, Liu salientou a importância da RAEM como elo de ligação entre a China e os países de língua portuguesa e manifestou a disponibilidade da China para reforçar a articulação com Portugal no domínio das estratégias de desenvolvimento, com o objectivo de intensificar a cooperação em várias áreas e promover o intercâmbio entre civilizações.
A propósito da visita de Paulo Rangel à China, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, destacou a amizade duradoura entre os dois países e manifestou expectativas positivas quanto ao aprofundamento das relações bilaterais. “A China e Portugal mantêm uma amizade de longa data. A cooperação amigável tem sido uma característica constante das relações bilaterais”, afirmou Mao Ning, sublinhando que, nos últimos anos, a confiança política mútua se tem consolidado.
Vendo a partir de Lisboa a visita de Paulo Rangel à China, o embaixador chinês junto do país europeu, Zhao Bentang, referiu que a mesma deu “um sinal muito importante” quanto ao bom relacionamento entre as duas nações. “O retorno de Macau é um exemplo de como resolver problemas através de negociações pacíficas entre países”, afirmou o diplomata em declarações à agência Lusa. O apoio português ao modelo “um país, dois sistemas” ajuda Macau “a desenvolver-se e a manter-se em estabilidade”, bem como “a adaptar-se a novas realidades”, defendeu Zhao Bentang.