Negócios portugueses no décimo ano da RAEM

As empresas portuguesas que operam em Macau têm aumentado os lucros. Depois da saída de alguns projectos, nomeadamente na área financeira, dois empresários apostaram na RAEM, criando uma fábrica de café e uma clínica-spa. O número de jovens lusos que encontram trabalho em Macau também tem crescido

 

A presença empresarial portuguesa em Macau nunca foi muito significativa. Nos primeiros nove anos da região administrativa especial terá mesmo diminuído, sobretudo na área financeira. O Banco Comercial Português vendeu em 2005, por 1719 milhões de patacas, o Banco Comercial de Macau e a Companhia de Seguros de Macau ao grupo financeiro Dah Sing, de Hong Kong.

O Finibanco e o Banco Totta Ásia também deixaram Macau. A primeira joint-venture financeira luso-asiática, começou a operar em 1995, mas em Maio de 2002 o Finibanco vendeu a sua participação de 85 por cento à Winwise Holdings Limited, sediada em Hong Kong, por 189 milhões de patacas. Hoje, o antigo Finibanco (Macau) chama-se Banco Chinês de Macau.

O Banco Totta Ásia, depois de em 1999 ter transformado a sua sucursal num banco local, encerrou a operação na sequência da compra do BTA pelos espanhóis do Santander Central Hispano.

A Portugal Telecom também diminiu a sua presença em Macau com a venda de participações em quatro empresas, mantendo apenas a jóia da coroa: a CTM.

Em sentido contrário, destaque para os investimentos dos empresários Vasco Pereira Coutinho numa fábrica de café e de Paulo Malo numa clínica-spa no complexo Venetian, que deverá entrar em funcionamento durante este ano.

No sector privado, realce ainda para o elevado número de jovens arquitectos que vieram para Macau nos últimos anos, assim como advogados e jornalistas.

Quase uma década após a criação da RAEM, fomos fazer a radiografia às empresas portuguesas que trabalham em Macau, sem esquecer as que têm accionistas lusos. E olhámos também para o sector da restauração, que continua a ter uma forte componente portuguesa.

 

Lucros do BNU não páram de crescer

 

O Banco Nacional Ultramarino é o melhor exemplo dos interesses portugueses que têm lucrado com o desenvolvimento da Região Administrativa Especial de Macau.

A instituição bancária, que integra o universo do Grupo Caixa Geral de Depósitos, continua a registar elevados lucros. O também banco emissor – função que divide com o Banco da China – encerrou 2008 com 397,9 milhões de patacas de lucro.

Com 14 agências e mais de 400 funcionários, o Banco Nacional Ultramarino tem participado nos sindicatos bancários que têm financiado os projectos de concessionárias do jogo como a Wynn Resorts, MGM ou Las Vegas Sands.

“O BNU registou uma expansão muito forte, que se mede por um aumento do activo líquido do banco e por elevadas taxas de rentabilidade”, nota Artur Santos. O vice-presidente da comissão executiva destaca também a prestação de serviços (cartões de crédito e desenvolvimento da rede ATM) e o aumento significativo dos depósitos e crédito de clientes (habitação, compra de autómovel e pessoal). Nos últimos anos, o BNU apostou também no desenvolvimento da internet banking.

Depois de vários anos com forte crescimento nos lucros (397,9 milhões de patacas, em 2008; 379,5 milhões, em 2007 e 306,6 milhões, em 2006), Artur Santos diz que 2009 vai ser um ano de consolidação da actividade2. “O crédito deve ter um abrandamento, pois a procura vai ter menor dinâmica, já que os particulares e as empresas vão ser mais cautelosas. Os depósitos devem ter também um crescimento mais moderado e o PIB de Macau vai cair ou estabilizar”, perspectiva, sublinhando que perante a actual crise “não se espera a realização de qualquer empréstimo de alta dimensão na área do jogo”.

 

Nova representação no sudeste asiático

 

O Banco Espírito Santo do Oriente (BESOR), banco local subsidiário do BES, tem também participado no financiamento dos grandes projectos na área do jogo-turismo, como o Wynn, MGM, Venetian, Melco-PBL ou o complexo Doca dos Pescadores. O BESOR não tem balcões abertos em Macau, já que a sua actividade está ligada ao corporate banking, nomeadamente as áreas de trading finance e investimentos.

“Numa primeira fase, o objectivo primordial do BES foi ter uma presença na Ásia, que possibilitasse parcerias estratégicas com entidades asiáticas. O BESOR funcionava, essencialmente, como booking center. Nos últimos cincos anos, a aposta foi dar maior dinamismo ao negócio activo na Ásia, designadamente em Macau, Hong Kong, China e Índia”, explica José Morgado.

O presidente da comissão executiva do Banco Espírito Santo do Oriente adianta que “estamos a trabalhar para criar condições para alargar a nossa actividade e ampliar a nossa base de clientes”.

Com lucros de 23 milhões de patacas e resultados financeiros de 40 milhões de patacas em 2007, o Banco Espírito Santo do Oriente vai apostar no futuro em novas actividades. “Queremos dinamizar o trading finance, o investment banking e o private banking”, revela José Morgado.

O Grupo Espírito Santo, que tem um escritório de representação em Xangai e um banco no Dubai, está a estudar a abertura de novas representações no sudeste asiático. Singapura e Hong Kong são hipóteses a considerar, mas os responsáveis do BES ainda não decidiram.

O BESOR está também ligado a projectos de investimento em Macau de empresários portugueses como Vasco Pereira Coutinho e Paulo Malo.

Contribuir para que Macau seja a verdadeira plataforma de negócios entre empresários chineses e homens de negócios dos países de língua portuguesa é outro dos objectivos do banco. “Queremos aproveitar a nossa experiência na região e o facto de o Grupo BES ter vários bancos nos países de língua portuguesa”, sublinha José Morgado.

No sector financeiro, os interesses portugueses passam também pela presença da Caixa Geral de Depósitos, Millennium BCP e o Banco Português de Investimento (BPI), que exploram sucursais de off-shore. O Millennium BCP tem também um escritório de representação em Cantão. Na área dos seguros, a Fidelidade Mundial mantém, desde 1999, uma sucursal em Macau, que actua em parceria com o BNU no apoio a clientes e empresas.

 

Hovione em Macau desde 1987

 

A Hovione (indústria farmacêutica) é o maior projecto industrial português na RAEM. As matérias-primas (75 por cento) de todo o grupo são adquiridas na China. No futuro, o mercado chinês também vai consumir, o que leva os responsáveis da Hovione a reforçar a sua aposta no Oriente.

Em Abril do ano passado, a farmacêutica portuguesa comprou uma fábrica na China, a Zhejiang Hisyn Pharmaceutical. “Vai especializar-se em meios de contraste radiológico, um produto que não estava a ser competitivo na nossa fábrica de Loures”, explica o administrador da Hovione, Peter Villax, que adianta que as unidades de Macau e da China asseguram um terço da facturação da Hovione (125 milhões de dólares em 2008).

Em Macau desde 1987, a Hovione tem 120 funcionários, “60 por cento dos nossos quadros falam mandarim”, sublinha o director-geral, que se mostra muito satisfeito com o trabalho desenvolvido no Oriente.

A Hovione exporta para os Estados Unidos, União Europeia, Japão, Canadá e Austrália. “Além de fabricar os chamados ingredientes activos para a indústria farmacêutica, a unidade de Macau produz um produto recomendado para combater o Antrax”, frisa Jorge Pastilha.

Entretanto, a empresa lusa acaba de concretizar a compra de uma unidade da Pfizer na Irlanda, o que permitirá aumentar em 50 por cento a sua capacidade de produção. Objectivo: transformar-se no maior produtor mundial de princípios activos para novos medicamentos.

O Grupo Hovione, que emprega 850 pessoas, entre os quais 150 investigadores, pretende aumentar as suas vendas para 120 milhões de dólares, até 2011. Os projectos de investigação e desenvolvimento (I&D) são uma das grandes apostas da empresa, que tem fábricas em Loures, Macau, Taizhou (China) e um centro de transferência de tecnologia em New Jersey (Estados Unidos).

 

Da central de incineração à ilha da Montanha

 

Com quase 400 trabalhadores e um volume de negócios de cerca de 300 milhões de patacas, a CESL Asia é uma das principais empresas com interesses portugueses em Macau. Liderada por António Trindade, opera um vasto conjunto de serviços, designadamente a central de incineração e a estação de tratamento de águas residuais (ETAR) da Taipa e assegura a manutenção do Aeroporto. Operação e manutenção técnica, gestão de energia, arquitectura e engenharia e desenvolvimento imobiliário são outras áreas de actuação, quer em empresas privadas, como bancos locais e operadoras do jogo, quer em departamentos públicos.

Em Macau desde 1987, a CESL-Asia tem três empresas a operar no território. A AGS-Macau tem como objectivo o fornecimento de serviços de operação e gestão em Macau, República da China, Hong Kong e outros países da região, de instalações públicas ou privadas de tratamento de resíduos sólidos, água potável e águas residuais. A FOCUS Facilities Management centra a sua actividade na prestação de serviços de gestão de instalações e optimização energética.

A terceira estrutura, a MPS, reforça o papel da CESL-Asia como uma das maiores empresas de consultoria, na gestão de contratos e até no planeamento urbano.

“Somos uma empresa de serviços claramente enraizada no território, que quer contribuir para o seu desenvolvimento equilibrado”, nota António Trindade, que destaca que o sector privado é já responsável por mais de 50 por cento do trabalho da CESL-Asia.

“Além dos contratos de facilites management (FM) do aeroporto e dos projectos integrados da área do jogo, estamos também envolvidos em outras infra-estruturas públicas”, acrescenta o director executivo. António Trindade garante que a empresa apresentou a melhor proposta no concurso de renovação do funcionamento da central de incineração. “O actual contrato termina em Julho de 2010 e queremos continuar a liderar a operação por mais 10 anos, sucedendo o mesmo com a renovação e expansão da ETAR da Taipa. Estamos confiantes que vamos ganhar”, frisa.

A CESL-Asia tem sido “a única empresa local que tem entrado em concursos internacionais realizados em Macau e acaba de garantir uma nova adjudicação no projecto City of Dreams”, adianta, admitindo interesse no futuro desenvolvimento da ilha da Montanha. “Há anos que estamos a acompanhar com interesse o que se passa. Temos estado a trabalhar com o objectivo de vir a participar no que for planeado para a ilha da Montanha”, observa António Trindade.

 

Café para toda a China

 

No parque transfronteiriço Macau-Zhuhai, que beneficia de isenções fiscais, o empresário Vasco Pereira Coutinho inaugurou em Outubro de 2008 uma fábrica de café. O investimento de 25 milhões de dólares, que já criou 50 postos de trabalho, pretende exportar para o mercado chinês o café que é adquirido no Brasil, Índia e Vietname. “Depois de torrado, moído e embalado na RAEM queremos invadir o mercado da China, onde o consumo está a aumentar”, explica João Basto. O director-geral da Sociedade Industrial de Macau (SIM) adianta que em 2009 “vamos ter disponíveis mais de mil toneladas de uma capacidade instalada de 9000 toneladas”.

A marca Olá Café está já a ser promovida nas cidades de Cantão, Zhuhai, Shenzhen, Pequim, Hong Kong e Xangai. “Queremos apostar na prestação de serviços a outros agentes, já que temos a mais moderna fábrica de café de toda a Ásia”, sublinha João Basto. “Estamos abertos a colaborar com outros produtores que queiram torrar o seu café aqui e com outras marcas de café que operam já no mercado chinês, mas que podem aproveitar as nossas vantagens, não só tecnológicas, como os 15 por cento de isenção das taxas aduaneiras (se o café for adquirido em verde e tratado em Macau), por estarmos localizados no parque transfronteiriço”, acrescenta o director-geral da SIM.

 

ANA quer continuar e TAP quer sair

 

No Aeroporto Internacional de Macau, Portugal está representado na ADA – Administração de Aeroportos e na Air Macau. A empresa que gere a infra-estrutura tem como accionista a ANA (Aeroportos e Navegação Aérea). O parceiro chinês, a CNAC (Companhia Nacional de Aviação Civil) tem 51 por cento do capital social.

“O actual contrato expira em Setembro, mas já há contactos com a CAM (Sociedade do Aeroporto) para a análise do contrato e eventual renovação do mesmo, embora com condições e prazos diferentes do inicial”, revela José Carlos Angeja.

O director executivo mostra-se confiante na renovação, “devido à qualidade do trabalho executado ao longo dos anos, assim como dos elevados níveis de segurança e segurança operacional, o que pode ser comprovado pela ausência de acidentes em 15 anos de operação”.

Com cerca de 250 funcionários, oriundos de vários países e territórios – “temos 16 nacionalidades na empresa”, diz José Carlos Angeja -, a ADA é responsável pela gestão operacional e financeira do aeroporto, incluindo o controlo de tráfego aéreo.

“Para a ANA, a ADA não é fundamental por uma questão de retorno financeiro, mas é importante por razões estratégicas, já que queremos ter uma presença portuguesa na Ásia na área da gestão de aeroportos”, nota.

O director-executivo destaca, por outro lado, que foi a primeira empresa gestora de aeroportos certificada no sistema de qualidade e ambiente pelas autoridades da China e de Portugal.

“Temos know-how, capacidade e experiência para expandir a nossa actividade na região”, acrescenta José Carlos Angeja, que admite que no futuro a ADA pode entrar na corrida à exploração de aeroportos na Ásia.

Relativamente ao Aeroporto Internacional de Macau, começa por recordar que “o sector da aviação, pela sua sensibilidade, é o primeiro a sentir a crise, mas é também o primeiro a sair da recessão”. Para José Carlos Angeja, “a retoma vai ser segura na Ásia, pois há capital disponível e o número de potenciais passageiros é muito, muito elevado”.

A exploração de aeroportos não é um negócio com tanto risco como o das transportadoras, o que significa que em 2009 “vamos assistir a uma recuperação”.

Depois de conhecer uma redução no tráfego de passageiros em 2008, o Aeroporto Internacional de Macau deve ter um movimento no corrente ano de 4,5 milhões de passageiros (em 2007 atingiu os 5.5 milhões).

A TAP Air Portugal é um dos accionistas da Air Macau. A transportadora portuguesa tem 75 por cento da SEAP (Serviços, Administrações e Participações), que detém 20 por cento da companhia de bandeira do território.

A venda da participação na Air Macau tem sido equacionada pelos responsáveis da TAP Air Portugal, mas até ao momento o negócio não foi concretizado. A situação da transportadora local, que nos últimos anos acumulou prejuízos, não favorece as intenções da companhia portuguesa.

Em 2008, a Air Macau encerrou as contas com elevados prejuízos. Os voos directos entre

 

EDP olha para a China

 

Com 730 trabalhadores e lucros de 478 milhões de patacas em 2008, a Companhia de Electricidade de Macau é uma das maiores empresas da região administrativa especial.A Electricidade de Portugal (EDP) detém 22 por cento do capital social de 580 milhões de patacas. A Asiainvest do empresário Ilídio Pinho, o empresário macaense Johny Or, através da Polytec (ambos com 10 por cento) e o Banco Nacional Ultramarino (três por cento) integram o grupo sino-português, que controla 45 por cento da CEM.

O actual contrato da CEM (que assegura a distribuição, transporte, importação e produção de electricidade) termina em 2010, mas é muito provável que o Governo da RAEM e a CEM cheguem a acordo para a renovação do mesmo. A concessionária investiu 718 milhões de patacas em 2008 e prevê investir mil milhões em 2009, com o objectivo de aumentar a capacidade de distribuição, já que o consumo tem aumentado.

O administrador da EDP, Marques da Cruz, manifestou a intenção da operadora portuguesa continuar em Macau. “A EDP tem orgulho no que fez na CEM e pretende continuar a servir Macau na área da energia”, frisou.

Quanto à China, admitiu que a EDP está a estudar hipóteses de negócio, “já que é um dos maiores mercados do Mundo”, mas ainda não foi tomada qualquer decisão.

A empresa portuguesa e o empresário Stanley Ho criaram a EDP Energy Solutions, que quer actuar no mercado das energias limpas na China.

 

PT vende tudo excepto a CTM

 

Depois de ter vendido as suas participações na TV Cabo, Cosmos (produção de conteúdos para televisão), Telesat (estação terrena de televisão) e Directel Macau (páginas amarelas), a Portugal Telecom mantém apenas a participação na Companhia de Telecomunicações de Macau, onde tem uma quota de 28 por cento. Com lucros que ascenderam em 2007 a 650 milhões de patacas, a CTM tem sido um excelente negócio para o Grupo Portugal Telecom, que anualmente tem recebido avultados dividendos.

Taiwan e a China estão a ter efeitos directos na actividade da operadora, já que aquele mercado representava mais de 70 por cento do seu tráfego.

 

Nas maiores obras de Macau

 

A PAL AsiaConsult, do Grupo PCG Profabril Consulplano, que está em Macau há mais de 30 anos, tem participado nas principais obras do território, como o novo terminal de passageiros, o Aeroporto Internacional de Macau, a ponte Flor de Lótus, o posto fronteiriço de COTAI e algumas das obras dos jogos da Ásia Oriental, como o Macau Dome.

Com um volume de negócios de 60 milhões de patacas e 50 funcionários (metade são portugueses), está a participar na construção do novo terminal de passageiros no Pac On (perto do Aeroporto Internacional), uma obra de mais de 150 milhões de patacas. “Estamos também a trabalhar na ampliação do Centro Hospitalar Conde de S. Januário, em novas empreitadas no aeroporto e em projectos públicos, como os tribunais, sedes do Comissariado contra a Corrupção e Auditoria e edifício dos Serviços de Polícia Unitários, que vão ser construídos nos aterros do NAPE”, revela  o director da PAL AsiaConsult, Rui Cernadas.

 

De Macau a Timor

 

A Pengest Internacional (planeamento, engenharia e gestão), a operar em Macau desde 1983, “teve algumas dificuldades em ultrapassar o período de crise” que atingiu o sector nos últimos anos, reconhece Pedro Castro. O sócio-gerente da empresa de consultadoria na área da engenharia nota que o panorama começou a mudar em finais de 2008, “com o lançamento de algumas empreitadas públicas”.

Entretanto, o Governo anunciou que em meados do ano vai lançar mais uma série de obras, o que deixa Pedro Castro satisfeito. “Há muitos projectos pequenos, mas vamos ter sete ou oito de dimensão, o que abre boas oportunidades a empresas como a nossa”, acrescenta.

Com um quadro de 20 funcionários, a Pengest acabar de ganhar a fiscalização do novo mercado de Iao Hon, a extensão do parque de estacionamento do novo terminal marítimo da Taipa (em parceria com a PAL AsiaConsult) e o desenvolvimento do campo de golfe de COTAI, além da coordenação e fiscalização da recuperação do túnel da Guia e do novo terminal de combustíveis da Taipa.

Do trabalho realizado nos últimos anos, Pedro Castro destaca a intervenção em projectos como a terceira ponte de Macau, praça Ferreira do Amaral, Jardim das Artes, Museu da Transferência, arruamentos e aterros em COTAI, a renovação de três agências do BNU e a construção da fábrica de Café de Vasco Pereira Coutinho.

A Pengest Internacional está também a olhar para as oportunidades de negócio em Timor-Leste. “Já fui duas vezes a Díli, mas por enquanto não fomos além dos contactos, mas é uma hipótese a considerar”, frisa Pedro Castro.

 

Fontes para o City of Dreams

 

A Tecproeng – Técnica e Projectos de Engenharia, assinou já mais de mil projectos desde que foi inaugurada em Abril de 1984. Nos últimos anos, esteve envolvida em obras como o novo posto fronteiriço das Portas do Cerco, cuja fase de ampliação ainda está a decorrer, o arranjo da praça Ferreira do Amaral (parte superior), Doca dos Pescadores, incluindo a futura segunda fase, e casino-hotel Wynn. Os novos edifícios do Ministério Público, comissariados contra a Corrupção e Auditoria e a futura zona de lazer, que inclui jardim e parque de estacionamento na Taipa, em frente ao complexo habitacional Nova Taipa, vão ter também a assinatura da Tecproeng.

O sócio-gerente da empresa portuguesa acredita que 2009 vai ter outra dinâmica, já que nos últimos anos “muitos projectos, públicos e privados, estiveram parados”.

João Godinho diz que a actual estrutura da Tecproeng (15 pessoas) é excedentária para o serviço que há. “Decidi manter o pessoal, porque acredito no futuro do território e quero investir em Macau. Tenho esperança de que novos empreendimentos vão ser lançados em 2009”.

João Godinho, que tem outra firma em Macau, a ‘Água e Design’, projecto, instalação e manutenção de fontes, diz que já montou mais de 30 na RAEM. A mais emblemática é a fonte do casino-hotel Wynn, “a concepção não foi nossa, mas a montagem e manutenção sim”. Da ‘Água e Design’ são o conjunto de fontes da praça Ferreira do Amaral, Jardim das Artes ou da terceira ponte (lado da Taipa).

O empresário está muito satisfeito com o trabalho que está a desenvolver no complexo City of Dreams, cuja primeira fase deverá abrir até ao Verão. “É o nosso maior contrato. São sete fontes que já estão a funcionar”, revela, mostrando-se confiante no futuro, já que o desenvolvimento de outros projectos na área do jogo “abre boas hipóteses de negócio à ‘Água e Design’”.

 

Transferência de tecnologia

 

O Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade, Macau, (IDQ), uma parceria entre o Instituto de Soldadura e Qualidade e várias instituições locais (Universidade de Macau, Laboratório de Engenharia Civil, Instituto para os Assuntos Municipais, Instituto Politécnico, Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia e Fundação Macau), está em Macau desde 1997.

Com cerca de 20 funcionários e um volume de negócios de oito milhões de patacas, o IDQ “tem permitido a transferência de tecnologia para Macau”, sublinha Carlos Costa. “Temos actuado na garantia de qualidade em estrutas metálicas e sistemas electromecânicos, na qualidade ambiental, designadamente na emissão atmosféricas de poluentes e qualidade do ar do interior,  desenvolvido alguns sistemas mais tecnológicos, como a localização em tempo real, através de GPS, de frotas automóveis”, revela o director do Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade, Macau.

“Temos ainda feito ensaios de resistência ao fogo de materias de construção, consultadoria técnica e desenvolvemos também sistemas que permitem detectar avarias na iluminação dos jardins públicos e na bombagem de água pluviais”, acrescenta Carlos Costa, que faz um balanço positivo da actividade do IDQ em Macau.

 

Arquitectos, advogados e jornalistas

 

A construção de vários empreendimentos na área do jogo e outros projectos tem sido também um bom negócio para os arquitectos. Nos últimos anos, os ateliers não tiveram mãos a medir, o que permitiu que muitos jovens profissionais tivessem encontrado emprego em Macau. A situação alterou-se nos últimos meses, mas Carlos Couto considera que se trata de “uma crise pontual”. Em Macau há mais de 25 anos, o arquitecto recorda que entre 2004 e 2008 “houve muito trabalho, o que criou oportunidade a jovens arquitectos, que vieram para a RAEM trabalhar em ateliers de profissionais portugueses ou em empresas norte-americanas”.

A crise chegou em poucos dias, “em duas semanas os projectos começaram a parar, uns atrás dos outros, o que nos obrigou a ficar quase paralizados”. Carlos Couto calcula que o sector voltará ao normal até finais de 2010, “embora longe da pujança que teve nos últimos tempos”. O Governo, lembra, “está a lançar uma série de projectos que já estavam em carteira, mas só com a entrada do novo Executivo vamos ter obras de dimensão”. A área do jogo “vai também reanimar lentamente”, admite, frisando que para combater a crise foi necessário reduzir o horário de trabalho ou optar por férias de dois-três meses sem vencimento.

O mesmo se passa com a área do Direito. O número de jovens advogados lusos em Macau continua a aumentar. O presidente da Associação dos Advogados considera que a RAEM “continua a precisar de advogados portugueses, apesar de o número de profissionais de origem chinesa ser cada vez maior. Muitos clientes preferem os advogados portugueses, que têm maior experiência e, geralmente, dominam melhor o inglês, a língua mais utilizada nos negócios”.

Globalmente a crise ainda não chegou à advocacia local, mas Jorge Neto Valente reconhece que “a natureza do negócio vai mudar”. Se nos últimos anos o boom económico permitiu a realização de muitos contratos de compra e venda, a crise vai aumentar o serviço nos tribunais, onde vão ser derrimidos muitos negócios concretizados no período de crescimento da economia. Uma fase em que a actividade dos advogados será menos rentável, já que a conflitualidade não é tão lucrativa como os grandes negócios.

Em Macau há 50 escritórios de advogados, onde trabalham 200 causídicos. O número de estagiários ultrapassa a centena.

Desde a criação da região administrativa especial muitos jovens jornalistas (mais de 20) começaram a trabalhar em Macau, além dos mais de dez profissionais que ficaram depois da transição. Os jornalistas distribuem-se pela Teledifusão de Macau (TDM rádio e televisão), e pelas redacções dos quatro jornais de língua portuguesa (três diários e um semanário), além de várias outras publicações periódicas em língua portuguesa editadas em Macau.

 

Comes e bebes portugueses

 

A presença portuguesa na Região Administrativa Especial de Macau passa, indubitavelmente, pelo sector da restauração. Os chineses escolhem hoje, com maior regularidade, os restaurantes portugueses para comer, o mesmo sucedendo com residentes de outras nacionalidades, que nos últimos anos encontraram trabalho em Macau.

Em Coloane, o restaurante Fernando continua a ser uma referência. Em Macau desde 1978, Fernando Gomes recorda que o seu restaurante, na praia de Hác-Sá, é frequentado anualmente por 1,5 milhões de clientes, “muitos turistas conhecem melhor o Fernando do que outros locais da RAEM”.

Com receitas anuais na ordem dos 20 milhões de patacas, Fernando Gomes recorda que durante o surto da pneumonia atípica “houve uma quebra de 15 por cento durante alguns meses, mas depois voltou ao normal”.

O empresário tem também uma empresa de importação/exportação (é o representante da Super Bock em Macau) e uma padaria, que fabrica diariamente cerca de dez mil pães, “o restaurante é o principal cliente, mas todos os supermercados do território vendem o nosso pão”.

Na rua Central, perto das instalações da Polícia Judiciária, temos um dos principais restaurantes portugueses de Macau. A funcionar desde Junho de 1990, o Afonso III é um dos locais de encontro e convívio da comunidade lusa, sobretudo ao almoço. “Ao jantar tenho mais clientes chineses e turistas, mas os portugueses representam 50 por cento da nossa clientela, contra 40 de chineses e dez por cento de turistas”, conta Afonso Carrão Pereira.

O profissional de hotelaria, que veio para Macau em 1984, diz que “não tem razão de queixa”, já que o número de clientes se tem mantido. “Os nossos preços não são altos, as doses são bem servidas, o ambiente é acolhedor”, lembra, adiantando que serve, em média, 80 refeições por dia.

 

Bolos com menos acúçar

 

No coração da cidade, perto da Sé, o café Ou Mun (que significa ‘Macau’ em Cantonês) é outro dos locais de encontro da comunidade portuguesa. Fernande Marques diz que “a crise ainda não chegou”. A pastelaria-restaurante reabriu a 8 de Agosto de 2008, “um dia auspicioso na China”. Inaugurado em 2001, o Ou Mun funcionou até Novembro de 2007, altura em que os seus responsáveis, confrontados com os aumentos elevados da renda do espaço, decidiram fechar.

“Estou muito satisfeito com o volume de negócios. O número de clientes tem aumentado, o espaço está mais atraente”, observa Fernando Marques. “Os portugueses vêm muito ao almoço, ao pequeno-almoço é mais turistas e na parte da tarde a maioria são clientes chineses, que gostam muito dos meus bolos, que são confeccionados com menos acuçar, mais do agrado dos orientais”. A presença nas várias edições do Festival de Gastronomia é apontada por Fernando Marques “como a melhor promoção” dos seus produtos. “Tenho lutado muito para que a nossa doçaria conquiste os chineses, o que está a resultar”, acrescenta o pastaleiro português, que lamenta que a partir das 19 horas a zona do Leal Senado deixe de ter grande movimento.

Fernando Marques mantém também em funcionamento uma padaria, que confecciona pão e bolos para os supermercados de Macau, alguns hotéis e outras instituições da RAEM, como a Escola Portuguesa, o IPOR ou o Aeroporto Internacional “, um dos meus melhores clientes”.

Nas épocas festivas, como o Natal e a Páscoa, não há mãos a medir para responder aos pedidos da comunidade portuguesa e outros residentes, que não perdem o tradicional bolo rei, as rabanadas e outras iguarias.

 

Vinhos e porco preto

 

Os produtos portugueses, com especial destaque para os vinhos, marcam presença nos principais supermercados, restaurantes e hotéis de Macau.

Tomás Pimenta, dono da Agência Comercial Vino Veritas, nota que o consumo “começou a crescer após a criação da RAEM, um aumento de dez por cento ao ano”.

Os restaurantes dos empreendimentos da área do jogo são os principais consumidores de vinhos e produtos alimentares lusos, sobretudo os de primeira qualidade, como os presuntos pata negra, enchidos, queijos, carne congelada e os melhores vinhos portugueses. “Com os do Douro à cabeça”, nota Tomás Pimenta, que destaca o Quinta do Crasto 2005 Vinhas Velhas, considerado pelos especialistas como um dos melhores do Mundo.

“O vinho está a entrar, cada vez mais, nos hábitos alimentares dos chineses. Nos restaurantes dos casinos gostam muito dos vinhos com identidade própria, que competem de igual para igual com os franceses, italianos, australianos, etc”, sublinha Tomás Pimenta. “Para a promoção dos nossos vinhos têm contribuído as reportagens publicadas nas melhores revistas da especialidade, como a Wine Spectator e a Decanter”, precisa.

O empresário diz que a qualidade/preço tem sido afectada pelo câmbio do euro e realça o fim do imposto sobre o vinho. “Uma decisão muito importante, até porque em Hong Kong já não existia”, nota.

A Vino Veritas importa anualmente 100 mil garrafas de vinho, que vende em Macau, Hong Kong e China.

 

Malo abre clínica-spa no maior casino do Mundo  

 

No complexo Venetian, que alberga o maior casino do Mundo, Paulo Malo está a construir uma clínica-spa, que pretende atrair, essencialmente, clientes chineses. O empresário reconhece que na região há falta de serviços de qualidade e na China está a emergir uma classe média com grande poder de compra.

Em cerca de 12 mil metros quadrados está a ser montada uma unidade, com cinco blocos, destinada a cirurgia ambulatória (medicina dentária, oftalmologia, urologia, otorrinolaringologia e, mais tarde, cardiologia), zonas de lazer e o maior spa da Ásia. Vai disponibilizar cirurgia plástica, reabilitação oral e check-up global de saúde. O empresário português investiu em Macau 350 milhões de patacas. Numa primeira fase vão ser criados 150-200 postos de trabalho, mas quando o projecto estiver concluído deve empregar 400-500 pessoas. A MaloClinic Spa, que vai oferecer uma ampla selecção de tratamentos médicos e serviços de spa,  deve entrar em funcionamento em meados de 2009.