Água para regar o progresso

O crescimento colossal de Macau não pára e os próximos cinco anos vão mudar a face do Cotai. Serão negócios de referência na hotelaria e no entretenimento, edifícios de grande dimensão, milhares de trabalhadores. E água para tanta exigência? A Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau conhece bem as dificuldades e já trabalha para superar o desafio

 

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Texto Nuno G. Pereira | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Entre vistas de lagos e mar, muitos são os locais de Macau onde a água surge no horizonte. No entanto, a região tem dependência total de abastecimento, já que não possui fontes próprias. Para garantir este fornecimento, a Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau (SAAM) negociou há alguns anos um acordo com as autoridades chinesas. Os problemas que decorriam da dependência de água ficaram assim resolvidos e, segundo Felix Fan, director-executivo, não deverão voltar. “A população de Macau pode estar descansada porque o Governo Central chinês aprovou o fornecimento contínuo de água para a nossa região.”

O presente é risonho para a SAAM, que está em todos os lares e empresas de Macau. Contudo, o futuro traz desafios inéditos, colocando a fasquia bem alta. “A SAAM, assim como muitas empresas de serviços de utilidade pública, atravessa um momento crucial da sua existência: tem que saber manter-se a par do desenvolvimento acelerado de Macau, sendo economicamente viável.”

Do ponto de vista histórico, Macau desenvolveu-se de Norte para Sul, com poucas pessoas em Coloane e na Taipa e mais gente na Península, onde, por isso, está a maior parte das estruturas de empresas de serviços de utilidade pública. Felix Fan sublinha o impacto da mudança em curso. “Por causa deste contexto, a maior parte das estruturas da SAAM está localizada no Norte. Isto vai ter de mudar, em particular nos próximos cinco anos. Porque o desenvolvimento no Cotai, com o enorme crescimento dos casinos e hotéis, vai implicar não só muito mais gente a viver lá mas também um aumento no número considerável de visitantes. Naturalmente, o consumo de água naquela área vai disparar. Precisamos de responder a esta mudança com a criação de infra-estruturas.”

 

Prós e contras

O aumento do consumo traz mais lucro mas, por estar associado à enorme expansão do Cotai, também obriga a investimentos avultados em infra-estruturas. “Do ponto de vista do negócio, a companhia colhe benefícios, já que o aumento do consumo traz mais facturação. No entanto, também é complicado, porque as infra-estruturas da água diferem de outros negócios, onde se podem mudar com facilidade – a grande maioria dos canos é subterrânea e de tamanho fixo.”

Para responder aos novos desafios e, em particular, ao crescimento do Cotai, a SAAM tem um grande plano de reestruturação em marcha. “Prevê o aumento do consumo de água em Macau nos próximos cinco anos e que novas infra-estruturas terão de ser construídas. Este plano será apresentado ao Governo de Macau em Março de 2014, tal como, aliás, está previsto no contrato de concessão.”

Felix Fan admite tratar-se do plano mais ambicioso traçado pela SAAM até hoje. “Também é preciso ter em conta que criar infra-estruturas para esta área de negócio não é algo que se faça de um dia para o outro. No que diz respeito à área do Cotai, temos de ter tudo pronto antes que os novos casinos e hotéis estejam a funcionar. Ou seja, antes de 2016, 2017. Por isso, há já obras a avançar.”

As novas exigências decorrentes de uma expansão tão rápida e de tão grande envergadura merecem total atenção. “Temos uma equipa permanente para analisar o consumo de água e, a partir das suas conclusões (apresentadas em relatórios trimestrais), agimos em conformidade. Estamos também em permanente comunicação com o Governo, assim como com os nossos fornecedores de água.”

 

Alta rotação laboral

A falta de recursos humanos locais também afecta a SAAM. “Como em todos os outros negócios de Macau, este aspecto é um problema. Ainda por cima, na nossa área a experiência é um factor fundamental. Só que o meio laboral de Macau, devido à falta de mão-de-obra qualificada, faz com que muitos empregados mudem de empresa facilmente. Curiosamente, neste momento o nosso maior competidor na procura de recursos humanos é o Governo, com os seus vários serviços e departamentos.”

A empresa esforça-se por inverter a situação, oferecendo incentivos apetecíveis aos seus colaboradores. “Damos óptimas condições aos nossos empregados e também investimos na formação de novos quadros e na melhoria dos que já  trabalham connosco. Mesmo assim, porém, saem muitas pessoas todos os anos. O maior problema, por estarmos neste mercado, é manter os empregados, que têm muitas opções de mudança em Macau – é fácil arranjarem um bom emprego.”

 

E o financiamento?

O director-executivo da SAAM garante que, apesar de a empresa ser a única a operar em Macau na sua área de negócio, isso nunca é sinónimo de desleixo. “Temos de manter a satisfação dos nossos clientes. Fazemos um grande investimento na área de contacto e serviço aos clientes. Nós não temos de convencer os clientes a usarem a nossa água – só há esta opção – mas temos de convencê-los que o serviço que recebem é bom.”

A estratégia de comunicação reforçada no apoio ao cliente tem dado bons resultados, mas tal só sucede porque o serviço também tem crescido de qualidade. A expansão do  Cotai obriga a construir novas infra-estruturas e ninguém na empresa deseja que isso belisque a qualidade atingida pelo serviço da SAAM. Impõe-se por isso a pergunta mais pertinente: como vai a SAAM, apesar da sua saúde financeira, pagar os gigantescos investimentos em curso? “Precisamos de financiamento, mas temos esperança que o Governo nos ajude. Esta ajuda passa por permitir-nos alterar as tarifas da água. E esperamos também que os clientes compreendam que temos esta necessidade porque estamos a investir muito na expansão e melhoria do serviço.”

 

Nova área de negócio

A SAAM dá cada vez mais importância a acções de responsabilidade social, integrando objectivos de sustentabilidade a longo prazo nas suas operações de negócio. A protecção do ambiente, através da poupança de energia, é um dos exemplos apontados. A SAAM garante ter reduzido o consumo de energia das bombas de água em 6,61 por cento (tendo 2009 como ano de referência), com a introdução de várias medidas.

Paradoxalmente, como explica Felix Fan, promover a poupança da água abriu caminho a uma nova área de negócio, onde a SAAM prepara investimentos. “O Governo de Macau tem promovido a necessidade de poupar água, com bons resultados, pois a população está cada vez mais ciente disso. O aumento do consumo de água, desde 2007, não foi tão elevado como apontavam as nossas expectativas. Se por um lado isto diminui a nossa receita, por outro recusar promover a poupança da água seria ignorar um movimento global. A curto prazo a empresa perderá um pouco com esta política, mas a longo prazo é um benefício. E queremos, no futuro, entrar no negócio da reciclagem de água em Macau.”

 

Parceria entre França e China

A SAAM foi fundada em 1932, com estatuto de empresa privada. Em Junho de 1985, a Sino-French Holdings (Hong Kong) Limited, empresa de capitais mistos constituída pela Lyonnaise des Eaux e a Chow Tai Fook Enterprises Limited, tomou posse da SAAM, com 85 por cento do capital. No mesmo ano, foi assinado com o Governo de Macau um contrato de abastecimento de águas com a duração de 25 anos. Este contrato foi renovado em 2009 por mais 20 anos.

A Sino-French Holdings (Hong Kong) Limited é agora a empresa de capitais mistos da Suez Environnement (nascida com base na Lyonnaise des Eaux) e da NWS Holdings Limited (constituída após reorganização da New World Infrastructure Limited, que tinha comprado a participação na SAAM da Chow Tai Fook Enterprises).

 

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