A nova estratégia chinesa para pôr a circular carros no Brasil

Treze das 51 marcas de carros vendidas no Brasil já são chinesas. Para contornar a concorrência de montadoras mais conhecidas e altos impostos sobre os veículos importados, as empresas chinesas investem milhões a abrir fábricas locais e a criar gamas de alto luxo para conquistar as classes média e alta

Jac Motors

Em 2010, elas começaram a entrar discretamente no mercado brasileiro e agora, em 2014, já se contam 13 empresas chinesas a pôr em circulação carros nas ruas do Brasil. Com a chegada da Geely e da Zotye este ano, a lista de marcas chinesas que actuam no Brasil bateu o recorde e figura agora como o maior contingente estrangeiro, juntamente com a JAC, Chery, Hafei, Lifan, Shineray, Chana, Jinbei, Rely, Effa, Foton e DFM. Ainda assim, a quota de mercado não ultrapassou o 0,96 por cento em 2013.

Com o alargamento do poder de compra das classes mais baixas e facilidades de financiamento para a compra do primeiro carro, a indústria automotiva no Brasil bateu recordes de venda entre 2011 e 2013, com um crescimento médio de 10 por cento a cada ano, numa altura em que o Produto Interno Bruto (PIB) não ultrapassava os 3 por cento.

Mesmo com uma forte aposta em carros económicos e populares e com celebridades brasileiras a estrelarem publicidades, as marcas chinesas passaram a enfrentar mais dificuldades para agarrar consumidores. No final de 2011, o Governo brasileiro aumentou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) com incidência directa sobre os carros importados, o que criou um forte obstáculo para a expansão das chinesas. Por outro lado, as montadores nacionais ficaram isentas de impostos, o que levou as empresas do outro lado do mundo a reavaliarem estratégias para abocanhar o vasto mercado brasileiro.

Jac Motors

Foi então que a Chery abriu caminho e fez uma parceria local para conseguir uma isenção de impostos para o fabrico e a comercialização de mais de 7000 unidades entre Junho do ano passado e Maio deste ano. A JAC Motors seguiu as pisadas e conquistou uma quota de 10 mil veículos isentos para o mesmo período. Com o prazo de isenções já expirado, chegou a altura de pisar no acelerador e investir na abertura de fábricas em solo brasileiro.

 

Investimentos avultados

A Chery, a maior construtora privada de automóveis da China, fundada em 1997 na Província de Anhui, vai inaugurar em Agosto a sua primeira fábrica 100 por cento brasileira na cidade de Jacareí, no interior do Estado de São Paulo. O investimento rondou os 400 milhões de dólares e o objectivo é fabricar entre 30 e 35 mil veículos ainda este ano. Porém, a capacidade máxima de 150 mil carros só será atingida em 2016, quando a unidade prevê servir de central de exportação para toda a América Latina. Além da já conhecida linha popular, com carros bastante mais baratos do que as congéneres europeias e asiáticas, a Chery quer entrar em força na gama de alto luxo a pensar nas classes média e alta.

A JAC Motors também está a construir a sua primeira fábrica em Camaçari, no Estado da Bahia, com o início da produção prevista para o segundo semestre de 2015 e um investimento a rondar os 450 milhões de dólares. O anúncio já tinha sido feito em 2011, mas as obras só vão arrancar este ano depois de várias negociações com o governo baiano e problemas com licenças ambientais. A meta é produzir 100 mil automóveis por ano e mais 15 mil camiões. Parte dos equipamentos para a linha de produção será enviada da China, mesma estratégia adoptada pela Chery. Quando entrou no mercado brasileiro em 2011, a JAC vendeu 23.700 automóveis, mas o volume caiu para 15.900 unidades no ano passado devido à alta taxação do Governo brasileiro.

Ainda a explorar mercado está a Zotye Motors, que vai iniciar vendas no Brasil em Outubro com dois modelos – um compacto e outro desportivo –, alargando assim a lista para 13 marcas chinesas no país. Os veículos são equipados com motores de tecnologia Mitsubishi e prometem custar cerca de 40 por cento menos do que modelos da mesma gama comercializados pela Ford, por exemplo. Com confiança no sucesso, a Zotye já anunciou que também vai começar a construir a sua própria fábrica em Colatina, no Espírito Santo, no início do próximo ano, ainda sem previsão de data de funcionamento e capacidade.