Moçambique abre portas para a China em Macau

A abertura de um consulado geral da República de Moçambique na RAEM marca o reforço nas relações entre aquele país africano e a República Popular da China. Na cerimónia oficial, que decorreu no final de Outubro, o embaixador António Inácio Júnior sublinhou o forte investimento chinês no país e a vontade de continuar a crescer em termos de investimentos e trocas comerciais. A missão consular que agora se inicia a cargo do diplomata Rafael Custódio Marques pretende reforçar essa cooperação através de Macau.

Consulado de Moçambique

 

Texto Sandra Lobo Pimentel | Fotos Gonçalo Lobo Pinheiro

 

Desde o final de Outubro que a República de Moçambique tem, oficialmente, o seu consulado geral na RAEM, marcando, através de Macau, o reforço nas relações entre aquele país africano e a República Popular da China. A cerimónia de inauguração contou com a presença do secretário permanente do Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Filipe Chidumo, do embaixador de Moçambique na República Popular da China, António Inácio Júnior, e da secretária para a Administração e Justiça, Florinda Chan, em representação do Governo da RAEM, para além de vários convidados da comunidade moçambicana aqui radicada e de outras instituições locais.

O cônsul-geral designado, Rafael Custódio Marques, terá a seu comando a direcção desta missão diplomática que, como referiu no discurso inaugural, pretende “cooperar, colaborar e, acima de tudo, interagir com vista a aprofundarmos as nossas relações de amizade”. Testemunhando uma “recepção calorosa” por parte das autoridades do Governo Central e local, Custódio Marques expressou a vontade de “contar com o mesmo calor e apoio essenciais para o desempenho cabal das funções”.

Sobre os desígnios do novo consulado, o diplomata sublinhou a vontade de fazer mais do que apenas servir os utentes que procurarem os serviços disponíveis, nomeadamente, “contribuir para o reforço das actividades de cooperação triangular entre a República de Moçambique e a Região Administrativa Especial, no quadro de cooperação bilateral que desenvolvemos com a República Popular da China”.

Em representação do Chefe do Executivo, a secretária para a Administração e Justiça proferiu um discurso no qual sublinhou as “seculares” relações entre Macau e Moçambique e “entre as gentes de Macau e do Grande Delta do Rio das Pérolas e o povo de Moçambique”. Florinda Chan relembrou ainda que “com a criação do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, e a escolha de Macau para sede do respectivo Secretariado, essas relações adquiriram uma dimensão e uma institucionalização que antes não existia”.

A abertura do Consulado Geral na região “traduz não só a importância que o Governo de Moçambique atribui às relações com a República Popular da China e com Macau, mas também o aprofundamento das relações recíprocas entre Macau e Moçambique”, e o Governo local “tudo fará para o desenvolvimento amigável e frutuoso dessas relações”.

Rafael Custódio

Salto qualitativo na cooperação

O embaixador de Moçambique em Pequim, António Inácio Júnior, enfatizou os “diversos momentos de solidariedade e amizade mútua” entre Moçambique e a China e anunciou que, através da cooperação entre os dois bancos centrais, estão a ser criadas condições para que a moeda chinesa passe a ser usada naquele país africano, tal como a rede de pagamentos Union Pay.

O embaixador relembrou as palavras do presidente Xi Jinping, quando este disse que Moçambique é um “amigo de dia e de noite” da China, sublinhando o “relacionamento firme e consistente, no qual aprofundamos a nossa cooperação político-diplomática, cultural, comercial e económica”. Na opinião de António Inácio Júnior, a cooperação entre os dois países “tem vindo a dar saltos qualitativos” e a abertura de um Consulado Geral em Macau é um decisão que visa “redimensionar a sua representação diplomática na China”.

Sublinhando que a RAEM “possui excelentes condições para complementar as acções de cooperação” que aquele país tem com as instituições centrais no Interior, expressou a expectativa de que, “de Macau sejam mobilizados mais recursos, mais capitais e mais grupos empresariais chineses que possam intervir cada vez mais em Moçambique através de investimentos em novas áreas”.

Para tal, o embaixador convidou “a comunidade empresarial local a interagir” com o novo consulado, “de modo a criar as condições favoráveis para o desenvolvimento de parcerias dinâmicas”. António Inácio Júnior fez questão de sublinhar que a China é o segundo maior investidor no país e, actualmente, a “marca principal” das relações entre os dois países é o crescimento contínuo do volume das trocas comerciais e do investimento público e privado em diversas áreas, “com destaque para os sectores da agricultura, energia, educação, saúde, indústria mineira e no desenvolvimento de infra-estruturas públicas”.

A China já investiu nos últimos anos mais de 4000 milhões de dólares americanos em Moçambique. O investimento chinês é diversificado, sendo que “42 por cento foi feito no sector dos transportes e comunicações, 31 por cento na indústria como a agricultura e 12,5 por cento nos serviços”.

António Inácio Júnior admitiu que o objectivo das relações entre os dois países é potenciar ainda mais a relação bilateral esperando, ao nível puramente comercial, atingir no final deste ano 2000 milhões de dólares americanos de trocas. “Este consulado é a concretização de um objectivo que temos vindo a consolidar nos últimos anos para ampliar a nossa presença na Grande China e num quadro de relacionamento privilegiado com este país, aqui formulado e vincado através de Macau, a cidade plataforma da China para os países de língua portuguesa”, referiu.

Nesse sentido, salientou o diplomata, Moçambique quer potenciar também os contactos através do Fórum Macau, esperando a “mobilização de mais recursos, mais capitais e mais empresas” para investirem no seu país, não apenas nos sectores tradicionalmente mais rentáveis como os hidrocarbonetos, como ao “desenvolvimento de infra-estruturas necessárias à criação de condições para o crescimento sustentável da economia moçambicana”.