Retratos | Yin Xihou, antiquário

O meu nome é Yin Xihou, tenho 69 anos e sou dono de uma loja de antiguidades na Rua da Tercena que desde 1945 pertence à minha família.

 

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Fotos Locanda Films

 

Comecei a trabalhar com o meu pai quando tinha oito anos e desde então nunca mais parei. O meu pai comprava móveis antigos, coisas em madeira e todo o tipo de tralha. Um pouco de tudo. Trazia tudo para a loja e era preciso limpar, arranjar e pintar. O meu pai nunca conheceu outro emprego. A vida inteira dele foi dedicada a este negócio.

 

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Ele costumava ir a casas velhas, a hotéis e a restaurantes que estavam prestes a encerrar e trazia as coisas de maior interesse. Depois do trabalho de restauro, colocava os móveis e os objectos à venda. Naquela altura, quando eu era apenas um rapaz, eu limitava-me a sentar ao pé dele e observar como fazia. Às vezes ele olhava para mim, parava o que estava a fazer e deixava-me tentar. Foi assim que me ensinou tudo o que sei. Passados uns anos, eu já tinha prática suficiente para fazer tudo sozinho. Foi então que fiquei mais independente e dava uma grande ajuda: enquanto ele andava pelas ruas à procura de material, eu ficava na loja a fazer os restauros e a tratar do comércio.

 

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A maioria das pessoas que entra na loja hoje em dia acha piada às antiguidades, mas na verdade não compra nada. Antigamente, os portugueses eram os nossos melhores clientes. Também tínhamos uma boa clientela de britânicos que viviam em Hong Kong. Não havia quase nenhum chinês que cá entrasse. Isso se prolongou até aos anos 90. Agora as coisas mudaram bastante. Nos últimos 15 anos, os nossos clientes têm sido sobretudo chineses. Raramente aparece um estrangeiro.

 

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Um negócio como este não é fácil de manter. Há uns anos, a renda e a conta de electricidade eram bastante baratas, por isso havia sempre margem para lucro. Mas agora se não és proprietário do teu próprio espaço comercial, é muito mais complicado, porque os custos são muito altos e não dá para ter lucro nenhum. Eu só mantenho este negócio por causa do meu pai. Pouco a pouco ele poupou dinheiro suficiente para comprar o espaço, por isso eu não tenho de pagar renda.

 

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Quando eu comecei a ajudar o meu pai, seguia-o para todo lado. Naquela altura, a escola não era uma coisa prioritária. Não havia tanta variedade e facilidade como há hoje. A minha vida era muito mais difícil; a minha infância não foi fácil. Hoje há menos preocupações, as coisas estão mais disponíveis. Eu não tive outra alternativa que não trabalhar.

 

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*Este retrato é um dos episódios da série documental Os Resistentes: Retratos de Macau, da autoria do realizador António Caetano Faria.