Macaenses na diáspora voltam a casa para um encontro com poucos jovens

Cerca de 1.500 macaenses, mais de metade vindos da diáspora, juntaram-se em a Macau para o Encontro das Comunidades Macaenses, um evento que acontece a cada três anos e onde é sentida a falta dos mais jovens.

O encontro é o quinto desde a transferência de Macau para a China e o nono desde a sua criação e oferece um programa de sete dias onde participam representantes de pelo menos 12 casas de Macau espalhadas pelo mundo, do Brasil ao Canadá, passando pela Austrália e Portugal. No entanto, apesar da forte adesão, entre os participantes na cerimónia de abertura uma geração quase não estava representada: os jovens.

Maria de Lourdes Vaz Albino, presidente da Casa de Macau em Portugal, admite que há um “problema de conquista dos jovens” que gera “receio que se perca um bocadinho a tradição e a cultura macaense”.

“Não temos conseguido captar muitos jovens. A Casa de Macau [em Portugal], por acaso, nos últimos três anos conseguiu captar alguns jovens, mas por alguma influência dos associados que trazem os filhos e os netos e tentam manter as raízes com a terra”, disse à Lusa.

“Há uma crise que é geral, os jovens têm outros interesses. Este tipo de associações em que as pessoas se juntam para manter as suas tradições, falar do passado, falar das suas raízes e tentar manter a cultura própria, como por exemplo o patuá [crioulo de base portuguesa], é uma coisa que os jovens não ligam muito em Portugal.”, sublinhou.

Este problema “com que todas as casas [de Macau no mundo] se debatem” leva as gerações mais antigas a sentir “algum receio que se perca um bocadinho a tradição e a cultura macaense”, diz Maria de Lourdes Vaz Albino, ressalvando que depende dos “pais e avós tentarem manter vivo esse espírito e tentar que os jovens se mantenham firmes, defendendo os valores e a cultura macaense”.

Além deste encontro, Macau organiza regularmente um encontro para Jovens Macaenses, de menor dimensão.

Sobre o encontro que começou, Miguel Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses, sublinhou a necessidade de fortalecer o “chão comum” das “várias comunidades macaenses”, com características diversas “a começar pela língua e hábitos do dia a dia”.

No entanto, “há algo que liga todas as pessoas, são as tradições, são as raízes, há um lado sentimental muito forte, é uma questão de sangue”.

A cerimónia de abertura contou com a presença do chefe do Executivo, Chui Sai On, que elogiou esta comunidade que “desde há cinco séculos” vive “nesta linda terra que é Macau”.

“Os laços familiares inter-culturais e a sua capacidade multilinguística, tornaram os macaenses numa ponte de comunicação e de intercâmbio entre culturas diferentes”, disse.

“Sendo uma comunidade rica em memórias colectivas e com características culturais próprias, os macaenses ou permaneceram de geração em geração nesta terra, ou partiram em migração, numa diáspora que atravessou o mundo. Todavia as distâncias geográficas nunca conseguiram apagar a memória colectiva: Macau é a terra mãe”, enfatizou.

Presente esteve também o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, que deixou um agradecimento à comunidade macaense pelo contributo para o “desenvolvimento económico e social de Macau”.

O Encontro das Comunidades Macaenses termina no dia 2 de Dezembro e além de uma sessão de debate e actividades de convívio, inclui também a apresentação de uma investigação sobre a herança macaense, a apresentação da segunda edição do livro “Famílias Macaenses” de Jorge Forjaz, e uma visita a Cantão.