Atletismo

Chan Kin Wa corre atrás de voos mais altos

Chan Kin Wa é o actual detentor do recorde dos 100 metros a nível local, com o tempo de 10,53 segundos
O atleta Chan Kin Wa entrou na história do atletismo de Macau ao ter quebrado o recorde local dos 100 metros. O objectivo é continuar a melhorar as marcas pessoais, diz o velocista, que aposta agora em fazer bons resultados nos Jogos Nacionais da China e nos Mundiais deste ano

Texto Vítor Rebelo

Bater o recorde de Macau nos 100 metros de atletismo, que vigorava há 30 anos, colocou Chan Kin Wa na ribalta. O velocista de Macau, de 22 anos, teve em 2023 um ano repleto de bons resultados, mas estes foram apenas a base para aperfeiçoar o treino e voltar a bater o seu próprio recorde.

Em Março de 2023, na final dos 100 metros masculinos do Campeonato Escolar de Atletismo – considerada a prova local com maior participação em todas as especialidades de pista ao ar livre –, Chan Kin Wa, estudante da Universidade de Macau, estabeleceu um tempo de 10,61 segundos, quebrando o recorde de 10,67 segundos do seu predecessor, Leong Weng Chong, alcançado, em 1993, nos Jogos da Ásia Oriental em Xangai.

O feito de Chan Kin Wa, que se reveste de maior importância visto tratar-se de um atleta que tem de equilibrar os treinos com a vida de estudante, lançou o “homem mais rápido de Macau” para um patamar mais elevado da sua carreira como amador, com renovados objectivos para o futuro.

Chan Kin Wa tinha já estabelecido o recorde nos 100 metros juvenis no Campeonato de Atletismo de Macau, em 2021, com o tempo de 10,75, melhorando a sua própria marca de 10,85 nesta categoria, alcançada, em 2019, no Torneio de Série de Atletismo de Hong Kong.

Após estabelecer o novo recorde de Macau em 2023, a carga de treinos foi reforçada, a técnica de corrida aperfeiçoada e, cerca de um ano mais tarde, nova proeza. A 13 de Abril de 2024, Chan Kin Wa correu os 100 metros em 10,53 segundos nos campeonatos promovidos pela Associação de Atletismo de Hong Kong, tendo sido terceiro classificado na sua série e estabelecendo um novo recorde de Macau na disciplina.

Correr mais e melhor

Em entrevista à Revista Macau, Chan Kin Wa diz que, depois dos feitos alcançados, a vida pessoal não teve mudanças radicais, mas o compromisso para com os treinos aumentou.

“Depois de ter batido o recorde de Macau, a minha vida não mudou muito e a partir daí o meu objectivo passou a ser o de fazer um treino sistemático antes dos próximos Jogos Asiáticos”, refere o velocista.

Em Março de 2023, o atleta tinha estabelecido a marca de 10,61 segundos nos 100 metros, batendo um recorde que vigorava há 30 anos

A próxima edição dos Jogos Asiáticos, que terá lugar, em 2026, no Japão, será a terceira presença do atleta na competição, depois de 2018 e 2022, embora então sem resultados de relevo.

Em comentários publicados na revista do Instituto do Desporto, Chan Kin Wa revela que teve um começo relativamente tardio no mundo do atletismo, uma vez que só no 7.º ano de escola é que começou a “viagem nos 100 metros”.

Mesmo que se tenha talento, salienta, é necessário continuar a alimentá-lo de forma a se poder competir com os melhores. Os recordes, adianta, não são uma prioridade, mas sim o continuar a puxar os limites para alcançar novos patamares.

O corrente ano será também repleto de competições. O jovem vai apresentar-se, em Setembro, no Campeonato Mundial de Atletismo, que decorrerá na capital japonesa, Tóquio. Esta será a sua segunda participação nesta prova mundial. Dois meses depois, Chan Kin Wa irá marcar presença na 15.ª edição dos Jogos Nacionais, co-organizada por Guangdong, Hong Kong e Macau.

A edição de 2025 dos Jogos Nacionais será a primeira na história a realizar-se em mais que uma região, sendo também a primeira vez que Macau participa na organização do evento.

As duas grandes competições este ano serão “montras” importantes para Chan Kin Wa mostrar todo o seu potencial. “O meu próximo passo é melhorar o recorde dos 100 metros para a fasquia de 10,50”, afirma, acrescentando que tal feito poderá ser possível “se cumprir com todo o programa” estipulado pelo treinador.

O velocista diz que estabeleceu, em conjunto com o treinador, “objectivos muito claros” que pretende alcançar, o que funciona como uma “grande fonte de motivação”. Segundo o atleta, que treina de forma regular há dez anos, o programa de treino não foge muito ao que tem vindo a ser efectuado nos últimos anos, “mas há diferenças nos pormenores que têm de ser ajustados”.

No que diz respeito à pressão que os recordes trazem, sublinha que “é uma pressão boa”. “Preciso de ter confiança em mim próprio”, sublinha.

Preparação no Interior da China

O atleta, que considera ter como ponto forte “a capacidade de aceleração”, tem intensificado as suas sessões de treino, deslocando-se agora com mais frequência ao Interior da China. Como a capacidade de treino e a exigência não são muito elevadas em Macau, Chan Kin Wa diz que está a “começar um novo programa de treino no Interior da China”, procurando também um maior número de apoios e patrocínios para continuar a competir a nível local e internacional.

Um processo de treino sistemático tem permitido ao atleta melhorar a capacidade de corrida e consolidar a técnica, tendo também contribuído para melhorar a sua forma física.

Chan Kin Wa participou, em 2023, no Campeonato Mundial de Atletismo que teve lugar em Budapeste, capital da Hungria

Chan Kin Wa ainda se encontra a estudar na Universidade de Macau, tentando conciliar o curso com a paixão pelo atletismo. Além dos objectivos a curto prazo, o atleta já estabeleceu outras metas a médio prazo, que terão influência na sua carreira desportiva. “Se não conseguir melhorar os recordes quer dos 100 metros, para 10,35, quer dos 200, para 20,99, durante os anos de universidade, talvez não continue a treinar”, desabafa o velocista, que optou pelas categorias de distância curta quando se começou a interessar pelo atletismo, porque, explica, desde sempre teve “confiança” na sua velocidade.

De acordo com Chan Kin Wa, o atletismo em Macau está a crescer, graças à “experiência de treino científico do exterior”, que ajudou a desenvolver a modalidade nos últimos dez anos. Toda esta experiência que tem adquirido ao longo dos anos é algo que o velocista gostaria, no futuro, de poder passar aos mais jovens, num esforço para desenvolver uma nova geração de atletas, afirma.

Uma questão de tempo

Au Chi Kun, o treinador que tem acompanhado Chan Kin Wa, é também responsável por uma boa parte do sucesso do seu pupilo. Os resultados, refere, não o surpreenderam e eram apenas uma questão de tempo, tendo em conta o que o jovem atleta vinha a fazer nas sessões de treino.

“Nos últimos anos, ele mostrou que tinha capacidade para bater o recorde de Macau dos 100 metros, não só na parte técnica, mas também nos dados de treino”, diz à Revista Macau Au Chi Kun, também ele antigo praticante de atletismo e na mesma especialidade, os 100 metros.

Para o treinador, Chan Kin Wa “tem bastante potencial nalgumas áreas, como a técnica, a flexibilidade da anca e a inteligência de conseguir o que o treinador precisa”, mas também tem alguns pontos onde precisa de melhorar. “Se ele conseguir fortalecer os seus pontos fracos, pode fazer ainda melhor”, adianta.

Para que o jovem atleta possa alcançar o que se propõe, que é baixar as marcas nos 100 e nos 200 metros, assim como obter bons resultados nos Jogos Nacionais e nos Jogos Asiáticos, o técnico refere que se limita a “ajustar o plano de treino de acordo com os dados e as reacções do atleta”. Depois de batido o recorde, acrescenta, “eu, como treinador, presto mais atenção à sua capacidade de recuperação no treino diário, porque ele ainda precisa de ir às aulas para completar os seus estudos”.

Au Chi Kun adianta que o programa de treino que idealizou para que o velocista consiga boas marcas nas duas distâncias é ligeiramente diferente. “Os 200 metros exigem mais capacidade de resistência em termos de velocidade e os 100 obrigam a uma maior capacidade de potência explosiva e velocidade absoluta”, explica.

O técnico diz que quando Chan Kin Wa era mais jovem, a sua melhor disciplina eram os 200 metros. “Depois de ter crescido, descobrimos que ele conseguia fazer melhor os 100 metros, pelo que decidimos concentrar-nos primeiro nesta distância mais curta e, em seguida, tentar também os 200 metros nas próximas competições”.

O treinador Au Chi Kun tem tido um papel fundamental no sucesso alcançado por Chan Kin Wa

Referindo-se concretamente ao recorde local dos 100 metros, o treinador garante: “Há actualmente muitos jovens a participar nas disciplinas de velocidade em Macau, mas, de facto, o recorde de Macau nessa distância era já uma marca de alto nível, pelo que não era fácil batê-lo, nem agora vai ser fácil ultrapassar o tempo de Chan Kin Wa”.

O papel das escolas

O momento actual do atletismo em Macau merece um balanço positivo de Au Chi Kun. “Penso que o nível competitivo do atletismo de Macau está a dar um grande passo em frente, devido à quebra de muitos recordes de diferentes disciplinas e grupos etários nos últimos anos.”

Para tal, avança, o papel das escolas tem sido crucial. “Sem dúvida, sobretudo na fase de base, porque a aptidão física dos atletas, nomeadamente a velocidade, a coordenação e a agilidade, têm de ser treinadas correctamente desde tenra idade”, diz o treinador. “Se falharmos nessa altura, as oportunidades de compensar mais tarde são muito poucas”, concretiza.

No que diz respeito às condições de treino que Chan Kin Wa tem a nível local, o responsável técnico considera que “as infra-estruturas de treino em Macau são adequadas, mas o ambiente competitivo é inferior ao do Interior da China, razão pela qual ele deve ir lá mais frequentemente para estar num nível mais elevado e para desenvolver a componente competitiva”.

Au Chi Kun acredita que o jovem velocista pode ainda baixar as marcas nas duas especialidades. “Com o treino profissional no Interior da China, penso que ele pode fazer melhor e baixar o seu melhor tempo nos 100 metros em 2025.” Quanto à marca nos 200 metros, “depende do objectivo e do plano de treino, pelo que penso que se concentrará primeiro nos 100 metros”, menciona.

O técnico também destaca a importância das provas internacionais. “Ele precisa de mais competição a um nível ligeiramente mais elevado.” Por isso, conclui, “participar em corridas no estrangeiro é bastante importante para o seu desenvolvimento”.